São Paulo, segunda-feira, 17 de setembro de 2007

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Lotados, ônibus e metrô retiram bancos

Espaço para sentar nos novos vagões do metrô é 25% inferior ao dos mais antigos; linha 4 é a que terá menos assentos

Alguns modelos de ônibus regularizados hoje na prefeitura, por exemplo, têm 40 bancos e espaço para 84 pessoas em pé

Bruno Fernandes/Folha Imagem
André Tadao Kameda, que volta uma ou duas paradas da linha 3-vermelha para poder viajar sentado na direção do Tatuapé, onde mora


ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

LUISA ALCANTARA E SILVA DA REDAÇÃO Tem passageiro que muda de caminho e viaja de metrô no sentido contrário ao seu destino apenas para entrar no vagão numa estação mais vazia, na esperança de conseguir ficar sentado no restante do percurso.
É a estratégia do servidor público André Tadao Kameda, 23. Ao sair todos os dias do trabalho no centro de São Paulo, ele volta uma ou duas paradas da linha 3-vermelha para só depois seguir na direção do Tatuapé (zona leste), onde mora.
A prática, conhecida no setor de transportes como viagem negativa, virou hábito de muita gente porque está cada vez mais difícil conseguir um banco nos coletivos, tanto devido à superlotação crescente de usuários como à redução também crescente dos espaços para sentar dentro dos veículos.
E os passageiros devem preparar as pernas, porque a tendência prossegue com os trens e ônibus mais novos da cidade.
No metrô, as 33 composições que vão ser compradas até 2010 pelo governo José Serra (PSDB) terão 25% menos bancos do que as mais antigas.
A frota mais velha, que começou a ser adquirida há três décadas, será readaptada e também vai perder esse mesmo espaço para passageiros sentados. Com a mudança de layout interno, os vagões poderão ganhar mais 10% de passageiros.
Na linha 4-amarela (Luz-Vila Sônia), que deve ser entregue no final de 2009, a situação será ainda mais desfavorável para quem estiver cansado.
Seus trens terão 254 bancos, a menor quantidade do sistema -na linha 2-verde (Paulista) são 274 (igual aos novos trens); na linha 5-lilás (Capão Redondo-Largo Treze), 272; nas linhas 1-azul (Norte-Sul) e 3-vermelha (Leste-Oeste), 366.
Na última década, boa parte dos ônibus tinha capacidade para passageiros sentados igual ou até superior à dos em pé -de 80 lugares, ao menos metade costumava ser de assentos.
Diante da renovação da frota intensificada a partir de 2002, eles ganharam mais portas, mais espaço para deficientes e cresceram em tamanho -mas não em quantidade de bancos.
Em alguns casos, a capacidade para passageiros em pé dobrou, enquanto a dos sentados permaneceu quase a mesma.
Um dos modelos regularizados hoje na prefeitura, por exemplo, tem 40 bancos e espaço para 84 pessoas em pé.

Queixas
"Antes era mais fácil de sentar. Agora, nunca consigo", diz Vanderlei Aureliano, 35, "cliente" do metrô há 15 anos. "Fora a má educação do povo. Entra um idoso, e ninguém levanta."
A redução do espaço para os bancos no transporte coletivo é um desconforto que motiva ao menos duas preocupações entre profissionais do ramo.
A primeira é a tendência de envelhecimento da população. Embora haja bancos reservados por lei para idosos, eles devem ser insuficientes para suprir a expectativa de aumento de passageiros mais velhos.
O segundo temor está ligado à própria intenção do transporte coletivo de atrair quem usa automóvel -dentre outros motivos, para reduzir poluição e congestionamentos. Essa meta se torna cada vez mais difícil se os vagões do metrô e os ônibus tiverem menos assentos e ficarem mais desconfortáveis.
A diminuição dos bancos, no entanto, é considerada muitas vezes compreensível por especialistas diante de outras prioridades do poder público -como a necessidade de garantir a locomoção de mais pessoas.
O metrô, por exemplo, é considerado um transporte de massa para viagens curtas. Dessa forma, no mundo inteiro já é projetado com a expectativa de que, nos picos, a maioria não ficará sentada. "Em viagens rápidas, é justificável ter menos bancos para levar mais pessoas em pé", diz Marcos Bicalho, da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos).


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