São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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Juízes defendem mudança na lei do aborto

Estudos feitos com magistrados e promotores do país apontam que 78% aprovam ampliação das possibilidades de aborto legal

Código Penal prevê, hoje, aborto legal quando há risco de vida para a gestante e em caso de gestação decorrente de violência sexual

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS

Duas pesquisas feitas simultaneamente no país com juízes e promotores apontam que 78% dos entrevistados são favoráveis à ampliação das possibilidades de aborto legal.
Os estudos foram feitos pela ONG Cemicamp (Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva de Campinas) e coordenados pelo ginecologista Aníbal Faúndes, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp . Ouviram 1.493 juízes e 2.614 promotores de todas as regiões.
O Código Penal prevê hoje o aborto legal em duas hipóteses: risco de vida para a gestante e gestação decorrente de violência sexual. "Para esses casos já há serviços de aborto legal no país, sem a necessidade de autorização judicial", disse o juiz José Henrique Torres, um dos autores da pesquisa com juízes.
No caso dos juízes, 61,2% apontaram necessidade de mudanças na legislação atual para aumento das circunstâncias em que não se pune o aborto praticado por médicos.
Outros 16,8% dos juízes se disseram favoráveis à descriminalização do aborto, independentemente da circunstância, totalizando 78% favoráveis à mudanças na lei.
No estudo, 12,5% dos promotores disseram ser favoráveis à não-punição em qualquer caso e 3,2% opinaram que a prática nunca deveria ser permitida.
No caso dos magistrados, 7,3% disseram que a prática do aborto não deve ser permitida sob qualquer circunstância.
O juiz Torres, da Vara do Júri de Campinas (SP), defendeu a descriminalização da prática. "Vivemos sob uma ilegalidade consentida. O aborto deve ser tratado como problema de saúde pública, e não enfrentado dentro do sistema criminal."
Segundo ele, há poucos casos de abertura de inquéritos para apurar casos de aborto por má-formação fetal. "Sou a favor da descriminalização em qualquer hipótese, mas enquanto isso não acontece que sejam pelo menos descriminalizados os casos de má-formação fetal."
Segundo a pesquisadora Graciana Duarte, do Cemicamp, as 35 perguntas das pesquisas foram enviadas a juízes e promotores por meio de malotes, com apoio de associações de classe das duas categorias. Os estudos começaram em 2005 e foram concluídos no ano passado.
Entre as questões enviadas estavam, por exemplo, se os juízes ou promotores defendem a permissão do aborto em caso de risco para a gestante. Outra questão tratava da opinião dos entrevistados sobre a gravidez após estupro.


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