São Paulo, quinta, 17 de setembro de 1998

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Machismo de ambos os sexos atrapalha a prevenção da doença

da Sucursal de Brasília

A visão machista da sexualidade, presente tanto em homens como em mulheres, é um entrave à prevenção à Aids e a outras doenças sexualmente transmissíveis.
Esse é um dos resultados detectados em pesquisa qualitativa realizada pelo Sesi (Serviço Social da Indústria) e pelo Ministério da Saúde com trabalhadores de indústrias brasileiras.
O estudo mostra que o pensamento machista em relação às práticas sexuais impede a abordagem, entre os parceiros, do uso de medidas de prevenção a doenças.
"O homem é quem dá as regras. A mulher tem dificuldades para pedir ou até mesmo para falar sobre o uso do preservativo, ela tem muitos medos. O homem, por sua vez, não abre espaço para discussão. Eles acham que não têm de usar e ponto", diz Sílvia Regia Yano, coordenadora nacional da pesquisa.
Enquanto a pesquisa quantitativa estabelece resultados com base em amostras estatísticas, a qualitativa se baseia na análise do discurso de um grupo selecionado para o estudo.
A realizada pelo Sesi selecionou 40 grupos de oito a 12 trabalhadores de cinco Estados. Eles fazem parte de um universo de 4.893 trabalhadores que haviam sido entrevistados em 96 para uma pesquisa quantitativa. Os grupos foram divididos por sexo, idade e grau de escolaridade. A idade mínima foi 15 anos, a máxima chegou a mais de 40 anos. A escolaridade, de analfabetos a nível superior.
Os grupos eram dirigidos por um monitor, que seguia um roteiro predeterminado. Sua função era estimular a livre discussão entre os participantes.
As discussões mostraram que às mulheres é atribuída a responsabilidade de zelar por uma prática sexual segura em relação à contracepção e a doenças sexualmente transmissíveis.
"Para o homem, sexo é uma coisa banal. Para a mulher, não. Ela encara isso com mais responsabilidade, com mais cuidado. Para os homens nem parece que existe o perigo da Aids. Eles não se importam. A mulher é quem tem de se proteger mais", afirmou uma das pesquisadas.
Ao mesmo tempo, homem e mulher desconfiam de traição se o parceiro ou parceira pedir o uso do preservativo. E cada um evita usá-lo para não despertar essa mesma desconfiança.
A confiança no parceiro é o fator mais importante alegado pelas mulheres e pelos homens para o não uso da camisinha com os maridos ou parceiros estáveis. Elas consideram ser impossível um casamento ou uma relação estável sem confiança."Quando a gente ama, a gente confia. É o que eu falei da mulher, ela confia. Se ela não confiar, não fica junto", afirmou uma das mulheres.
O medo de perder o parceiro caso recusem alguma prática sexual também foi citado pelas mulheres.
Segundo a coordenadora da pesquisa, essa é uma visão presente em todos os grupos, embora seja mais forte entre os que têm escolaridade mais baixa.
"O comportamento do homem não é compatível com a informação que tem. Ele sabe dos benefícios do uso da camisinha, mas não identifica que ele próprio tem um comportamento de risco ao não usá-la", diz Sílvia. (BB)



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