São Paulo, quinta, 17 de setembro de 1998

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EDUCAÇÃO
Parcela da população brasileira que trabalha e tem o antigo 2º grau completo é menos da metade da OCDE
De cada 6 trabalhadores, 1 fez curso médio

MARTA AVANCINI

da Reportagem Local

Estudo realizado pelo Inep, órgão responsável por pesquisas na área educacional ligado ao Ministério da Educação, revela que 17% da população economicamente ativa do Brasil conseguiu concluir o ensino médio. Esse desempenho coloca o país abaixo da média dos países que pertencem à OCDE. Nesse grupo, 42% da população economicamente ativa completa a escolaridade média -que, no Brasil, era chamada de segundo grau. A OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos) reúne, em princípio, os 29 países mais industrializados do mundo. No entanto, entre os membros da OCDE estão países com condições econômicas e sociais bastante diversificadas -o grupo inclui desde países considerados de Primeiro Mundo, como Estados Unidos e Suíça, a outros menos desenvolvidos, como Turquia e México. "O número brasileiro é baixíssimo, levando em conta que apenas 25% da população em idade de cursar o ensino médio está na escola", diz Guiomar Namo de Mello, do Conselho Nacional de Educação. Os dados usados no estudo referentes ao Brasil são de 96 e os da OCDE, de 95. No ano de 96, a população economicamente ativa com 10 anos ou mais era de aproximadamente 73 milhões de pessoas, segundo o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Entre os países analisados, o desempenho brasileiro pode ser comparado ao da Espanha, onde 15% da população ativa de 25 a 64 anos concluiu a formação média. No entanto, quando se compara o desempenho no ensino superior, o país europeu está melhor: 21% têm terceiro grau na Espanha contra 11% no Brasil. Na opinião do educador Francisco Aparecido Cordão, os dados revelam o principal desafio a ser superado pelo país nos próximos anos: expandir e melhorar o ensino médio. "O Brasil precisa aprender a trabalhar com a clientela popular, que é a população que está entrando na escola e, ao mesmo tempo, sendo expulsa dela porque os professores não sabem lidar com ela", diz Cordão, que é vice-presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação.

Influência do mercado
O próprio Ministério da Educação já elegeu o ensino médio como a prioridade para os próximos anos, considerando que a matrícula nesse nível praticamente dobrou desde 1990 -saltou de 3,5 milhões para 6,9 milhões em 98, conforme dados preliminares do Censo Educacional deste ano.
"Pode-se afirmar com segurança que a prioridade atribuída ao ensino fundamental nos últimos anos tem sido a principal alavanca para a expansão da matrícula no ensino médio. Porém, vale acrescentar que esse fenômeno reflete, sobretudo, as novas necessidades do mercado de trabalho", analisa Maria Helena Guimarães de Castro, presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).
Ou seja, a maior exigência do mercado de trabalho -está cada vez mais difícil conseguir um emprego sem diploma de segundo grau- estimula a procura de vagas no ensino médio.
Paralelamente, a melhora do desempenho dos estudantes do ensino fundamental também é um fator de pressão sobre o nível seguinte, o ensino médio. Em 98, a taxa de escolarização da população de 7 a 14 anos é de 95%.
O investimento no ensino médio tem de ser acompanhado de melhoria na qualidade e mudança dos padrões pedagógicos -concentrar sobre o aprendizado e não sobre o currículo, diz Cordão.
"Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, em fase de conclusão, aliados a uma política de materiais didáticos e de formação de professores, apontam no sentido da adaptação às novas necessidades. Isso não é coisa de curto prazo", diz Guiomar.



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