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ARQUITETURA DA VIOLÊNCIA
Hernani, 12, perdeu o pai; João, 38, nunca foi roubado
da Reportagem Local
A história de quatro moradores de São Paulo, dois de bairros pobres, dois de regiões nobres, mostra como a violência
atinge a vida dos paulistanos de
forma diferente.
José Adriano Branco da Silva
é um exemplo claro de expectativa de vida cortada pela violência.
Numa manhã de sábado do
último mês de abril, aos 25
anos, ele saiu de casa, em
Guaianases, e foi encontrar a
ex-namorada, Jaqueline. Esperava reatar o romance.
"À tardinha, fomos avisados
de que ele havia sido morto na
casa dela", conta a tia, Maria
Aparecida, 29. O motivo do crime até hoje é ignorado.
Outro morador da periferia,
Hernani Aparecido Pereira, 12,
viu o pai morrer aos 39 anos de
idade. Ernani, o pai, levou tiros
de assaltantes quando ia a um
culto da Assembléia de Deus,
em Parada 15, zona leste de SP.
Apesar do histórico, o menino diz não temer a violência.
"Não tenho medo de barulho
de tiro, não, porque aqui é normal. Todo dia a gente ouve",
responde o garoto ao ser perguntado se o crime havia lhe
deixado algum trauma.
Aluno da 5ª série, Hernani
pretende ser delegado, mas a
mãe, Maria das Dores, desempregada há quase três anos, diz
que ele terá que se acalmar.
"Ele anda muito briguento.
Acho que ficou revoltado depois do que aconteceu", diz.
No outro lado da cidade, na
Vila Olímpia, vive João Batista
Gil Júnior, dono de uma academia de ginástica.
Aos 38 anos, ele é um felizardo: nunca foi assaltado.
Apesar disso, adotou uma série de precauções nos últimos
dois anos, após o pai e o irmão
terem sido vítimas de assaltos.
"Evito sair à noite. Não tenho
mais coragem. Agora, prefiro
reuniões na casa de amigos",
disse Gil. Ele também não tira
mais dinheiro nos caixas eletrônicos 24 horas.
O outro João desta história
tem 10 anos e chegou a trocar o
bairro de Perdizes, em São Paulo, por Fortaleza após um assalto e telefonemas ameaçadores
dos assaltantes.
Apesar da melhor qualidade
de vida da capital do Ceará, a
família voltou, há um ano e
meio, depois que o filho não se
adaptou às escolas de lá.
"Preferimos nos arriscar,
pois priorizamos a educação",
diz a mãe, que pediu para não
ser identificada. Ela teme represálias, já que dois dos assaltantes ainda estão soltos.
Entretanto, sobraram traumas. "Às vezes, quando ouço
um barulho na porta, fico com
medo, mas falo para mim mesmo, "calma'", diz João.
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