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SAÚDE
Pediatras
tratam
vírus com
antibiótico
PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local
Cerca de 85% dos casos de
amigdalite (infecção das amígdalas) em crianças pequenas são
causados por vírus. No entanto, a
mesma porcentagem dos casos
são tratados incorretamente com
antibióticos -eficazes apenas
contra infecções bacterianas.
Esse uso indiscriminado de antibióticos -não só contra amigdalite, mas outras infecções virais
das vias respiratórias superiores- é um dos fatores responsáveis pelo desenvolvimento de
bactérias resistentes a eles.
O alerta foi feito pelo presidente
da Sociedade Paranaense de Pediatria, João Gilberto Sprotte Mira, para cerca de 2.000 pediatras
do país que participaram do Curso Nestlé de Atualização em Pediatria, ocorrido na semana passada, em Foz do Iguaçu.
Um estudo feito por microbiologistas do Rio de Janeiro e apresentado no Congresso da Sociedade Americana de Microbiologia, em junho passado, chegou a
números preocupantes.
Foram analisadas amostras de
pneumococos -bactérias que
podem causar sinusite, otite e
pneumonia, entre outras infecções- de 260 crianças, entre os
anos de 97 e 98.
A pesquisa concluiu que 24%
das amostras de bactérias eram
resistentes à penicilina (17% com
resistência intermediária e 5%
com alta resistência) e 52% eram
muito resistentes à sulfa -antibiótico ainda muito usado no Sistema Único de Saúde.
Quando a criança desenvolve
bactérias resistentes, os médicos
têm de prescrever antibióticos
mais fortes, em maiores doses, e,
muitas vezes, mais caros", diz Tania Sih, presidente da Sociedade
Interamericana de Otorrinopediatria e professora da Faculdade
de Medicina da USP.
A infecção viral costuma desaparecer depois de alguns dias. O
tratamento deve se basear apenas
no alívio dos sintomas, com analgésicos e antitérmicos.
Há várias justificativas fornecidas por médicos para o uso inadequado de antibióticos para infecções virais. A primeira delas é que,
muitas vezes, os sintomas de uma
doença viral é muito semelhante à
causada por bactérias.
"Em relação à amigdalite, por
exemplo, é mais comum haver
pus quando a causa é bacteriana.
Mas às vezes também ocorre na
viral", diz Sprotte Mira. "E, se a
bacteriana não é tratada logo, pode causar febre reumática ou nefrite. Por isso, os médicos acabam
atacando com antibiótico mesmo
sem ter certeza."
Os médicos apontam ainda que
muitas mães os pressionam a
prescrever antibióticos. "Elas dizem que precisam que seus filhos
melhorem logo para poderem
voltar ao trabalho", afirma Tania.
Como muitas delas não têm
condições financeiras para voltar
outras vezes ao consultório, os pediatras acabam prescrevendo o
antibiótico temendo que a infecção se agrave.
O uso inadequado do antibiótico reduz a quantidade de bactérias protetoras que as crianças
possuem na flora das vias respiratórias superiores. Isso permite a
proliferação de bactérias agressivas -como a Haemophillus influenzae e o pneumococo, causadores de sinusite, meningite,
pneumonia e otite-, que se tornam resistentes.
Essas doenças são comuns em
crianças de até 2 anos, que têm
baixa capacidade imunológica.
"Pais e médicos têm de acabar
com essa idéia de que o antibiótico vai resolver qualquer problema. Isso cria, sim, um problema
de saúde pública", diz Tânia.
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