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MARILENE FELINTO
Caça ao perigoso "bandido" do MST
O inimigo número 1 do país
não é mais o juiz Nicolau
dos Santos Neto, o ex-presidente
Collor ou o prefeito de São Paulo,
Celso Pitta. Parece mais perigoso
-armado de coquetéis molotov
até os dentes- e dizem estar infiltrado agora no movimento dos
sem-terra. Ataques ao MST não
são novidade, mas daí a querer
impor à sociedade a imagem do
movimento como de uma quadrilha de criminosos cujo objetivo
não é senão o crime, a corrupção
e a enganação, supera os limites
do bom senso.
Dessa vez o ataque veio em bloco. É todo o poder econômico, o
Executivo, o Judiciário, a Polícia
Federal e a imprensa ocupados
em contabilizar a "corrupção" e o
"desvio de dinheiro público" praticado pelos sem-terra.
Ficam contando migalhas, chamam de "pedágio" os 2% que cada assentado que recebeu terra
ou empréstimo (os tais "recursos
federais") deve doar ao movimento ou os R$ 70 ou R$ 125 que
o MST descontaria do pagamento
efetuado a técnicos que prestam
serviço ao movimento.
Chama-se a isso desvio de dinheiro público: a contribuição
que o assentado daria voluntariamente -ou obrigado, como se
quer provar-, por definição do
estatuto dos sem-terra e o desconto no pagamento dos técnicos.
Se isso for mesmo desvio de dinheiro público, então há partido
político praticando o mesmo crime. É público e sabido que mais
de um partido político desconta
uma porcentagem dos salários de
seus parlamentares como contribuição.
Pode-se ainda argumentar que
salário é salário, e empréstimo de
banco (para fins de reforma agrária) é outra coisa. Não se pode
deixar de lembrar, porém, que o
empréstimo será pago pelo assentado e que -mais importante
ainda- a contribuição que ele
dá ao MST reverte em benefícios
a ele próprio, assentado, e aos
ainda não assentados. Ou seja:
distribui renda, contribui para a
reforma agrária.
A não ser que se prove que os dirigentes do MST estão enriquecendo à custa do tal "pedágio".
Crime seria isso. Mas nada se diz
sobre isso, nada se provou até
agora. A idéia é fazer estardalhaço baseado em quase nada.
Por que a Polícia Federal, em
vez de perseguir os pés-de-chinelo
do MST, não se empenha em
prender o juiz Nicolau? Somada,
a contribuição de cada um dos assentados do MST ao movimento
não chega nem ao cheiro das centenas de milhões que esse juiz
roubou do dinheiro público para
enriquecer seu patrimônio pessoal. Cadê o juiz?
A quantia que o MST recebe dos
assentados, para investir neles
próprios, também não deve chegar aos pés do R$ 1,2 bilhão que
Paulo Maluf, o ex-prefeito de São
Paulo, foi condenado a devolver
aos cofres públicos da cidade.
Cadê os R$ 18 milhões que o governo FHC gastou com o estande
do Brasil na Expo 2000 da Alemanha, uma feira para gringo ver?
Por acaso isso não é desvio de dinheiro público?
Sou simpatizante declarada do
MST, mas nem por isso deixo de
ter críticas ao movimento. Crítica
é uma coisa, perseguição desonesta é outra. A pior ditadura é a do
poder econômico -é covarde,
utiliza-se de meios escusos, confunde a opinião pública, suas armas são invisíveis, embora seus
efeitos destruidores sejam para lá
de evidentes.
E-mail - mfelinto@uol.com.br
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