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MEDICINA
Pacientes acusam cirurgiões plásticos de cometerem erros e de fazer propaganda enganosa de efeitos de operações
Plástica lidera ranking de queixas médicas
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A cirurgia plástica ultrapassou
pela primeira vez em seis anos a
ginecologia e obstetrícia no ranking de denúncias contra médicos do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.
Das 1.542 reclamações registradas entre janeiro e julho de 2001,
178 foram de casos de cirurgia
plástica e 144 relacionadas a ginecologia e obstetrícia. Entre 1995 e
2000, esta última especialidade vinha liderando os rankings anuais
de denúncias no Cremesp, que divulgou ontem seu mais amplo levantamento sobre reclamações.
Na soma dos casos de 1995 a julho de 2001, a ginecologia e obstetrícia foi a especialidade que mais
recebeu denúncias. Das 12.892 reclamações que chegaram ao órgão no período, 1.152 envolviam
ginecologistas e obstetras. A cirurgia plástica ficou em quinto lugar, com 481 casos. A segunda especialidade com mais reclamações foi a pediatria (653 denúncias), seguida da ortopedia (568) e
da medicina do trabalho (494).
Do total, a maioria das queixas
(3.197) apontava negligência, imperícia e imprudência dos profissionais. Cirurgias com óbito,
omissão e desrespeito, erros de
diagnóstico e o esquecimento de
objetos cirúrgicos no interior do
corpo do paciente foram algumas
das reclamações mais frequentes.
Segundo a presidente do conselho, Regina Ribeiro Parizi Carvalho, o crescimento das denúncias
relativas a cirurgia plástica deve-se principalmente ao maior volume de reclamações contra a propaganda feita pelos cirurgiões.
Em fevereiro o conselho decidiu
ampliar o setor que apura casos
de "propaganda imoderada".
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Luiz
Carlos Garcia, disse que não queria comentar o levantamento.
Para Regina, cirurgia plástica e
ginecologia e obstetrícia são os
maiores alvos por envolverem
pessoas em geral sadias e com
grande expectativa. "Ele [o paciente" vai se queixar de qualquer
coisa que não chegue ao ótimo."
Os casos encaminhados denunciam cirurgiões plásticos por propaganda enganosa, sensacionalismo, autopromoção e exibição de
fotos pré e pós-operatório -a
prática do "antes e depois", proibida pelo conselho mesmo que o
paciente autorize.
Na ginecologia e obstetrícia, as
reclamações dizem respeito principalmente à assistência ao parto
-morte do recém-nascido ou
óbito materno-, pré-natal malfeito e assédio sexual.
A Febrasgo (Federação Brasileira de Sociedades de Ginecologia e
Obstetrícia) não respondeu aos
pedidos de entrevista.
As principais denúncias contra
os pediatras envolviam erro de
diagnóstico e cirurgias.
As denúncias em geral cresceram em média 10% ao ano desde
1995. O crescimento, segundo a
presidente do Cremesp, acompanha o aumento do número de
profissionais. Havia 40 mil médicos no Estado em 1995. Hoje são
78 mil. Segundo ela, contribuíram
o aumento da demanda e eventos
pontuais, como a promulgação da
lei para os planos de saúde em
1998 e os problemas com o extinto
PAS (Plano de Atendimento à
Saúde) na cidade de São Paulo.
Ao avaliar o destino das denúncias recebidas, o conselho computou também reclamações de antes
de 1995 e que já estavam tramitando. De um total de 14.977, a
maioria (8.641) foi arquivada. Outras 4.550 estão em fase de sindicância e 1.786 foram transformadas em processos disciplinares.
Regina nega que o grande número de arquivamentos indique
corporativismo. Diz que muitas
reclamações não são da alçada do
conselho e são enviadas a outros
órgãos. O conselho ainda não sabe quantas denúncias eram efetivamente de sua competência.
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