São Paulo, quarta-feira, 17 de outubro de 2001

Próximo Texto | Índice

MEDICINA

Pacientes acusam cirurgiões plásticos de cometerem erros e de fazer propaganda enganosa de efeitos de operações

Plástica lidera ranking de queixas médicas

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A cirurgia plástica ultrapassou pela primeira vez em seis anos a ginecologia e obstetrícia no ranking de denúncias contra médicos do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.
Das 1.542 reclamações registradas entre janeiro e julho de 2001, 178 foram de casos de cirurgia plástica e 144 relacionadas a ginecologia e obstetrícia. Entre 1995 e 2000, esta última especialidade vinha liderando os rankings anuais de denúncias no Cremesp, que divulgou ontem seu mais amplo levantamento sobre reclamações.
Na soma dos casos de 1995 a julho de 2001, a ginecologia e obstetrícia foi a especialidade que mais recebeu denúncias. Das 12.892 reclamações que chegaram ao órgão no período, 1.152 envolviam ginecologistas e obstetras. A cirurgia plástica ficou em quinto lugar, com 481 casos. A segunda especialidade com mais reclamações foi a pediatria (653 denúncias), seguida da ortopedia (568) e da medicina do trabalho (494).
Do total, a maioria das queixas (3.197) apontava negligência, imperícia e imprudência dos profissionais. Cirurgias com óbito, omissão e desrespeito, erros de diagnóstico e o esquecimento de objetos cirúrgicos no interior do corpo do paciente foram algumas das reclamações mais frequentes.
Segundo a presidente do conselho, Regina Ribeiro Parizi Carvalho, o crescimento das denúncias relativas a cirurgia plástica deve-se principalmente ao maior volume de reclamações contra a propaganda feita pelos cirurgiões. Em fevereiro o conselho decidiu ampliar o setor que apura casos de "propaganda imoderada".
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Luiz Carlos Garcia, disse que não queria comentar o levantamento.
Para Regina, cirurgia plástica e ginecologia e obstetrícia são os maiores alvos por envolverem pessoas em geral sadias e com grande expectativa. "Ele [o paciente" vai se queixar de qualquer coisa que não chegue ao ótimo."
Os casos encaminhados denunciam cirurgiões plásticos por propaganda enganosa, sensacionalismo, autopromoção e exibição de fotos pré e pós-operatório -a prática do "antes e depois", proibida pelo conselho mesmo que o paciente autorize.
Na ginecologia e obstetrícia, as reclamações dizem respeito principalmente à assistência ao parto -morte do recém-nascido ou óbito materno-, pré-natal malfeito e assédio sexual.
A Febrasgo (Federação Brasileira de Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia) não respondeu aos pedidos de entrevista.
As principais denúncias contra os pediatras envolviam erro de diagnóstico e cirurgias.
As denúncias em geral cresceram em média 10% ao ano desde 1995. O crescimento, segundo a presidente do Cremesp, acompanha o aumento do número de profissionais. Havia 40 mil médicos no Estado em 1995. Hoje são 78 mil. Segundo ela, contribuíram o aumento da demanda e eventos pontuais, como a promulgação da lei para os planos de saúde em 1998 e os problemas com o extinto PAS (Plano de Atendimento à Saúde) na cidade de São Paulo.
Ao avaliar o destino das denúncias recebidas, o conselho computou também reclamações de antes de 1995 e que já estavam tramitando. De um total de 14.977, a maioria (8.641) foi arquivada. Outras 4.550 estão em fase de sindicância e 1.786 foram transformadas em processos disciplinares.
Regina nega que o grande número de arquivamentos indique corporativismo. Diz que muitas reclamações não são da alçada do conselho e são enviadas a outros órgãos. O conselho ainda não sabe quantas denúncias eram efetivamente de sua competência.


Próximo Texto: Mãe conseguiu condenação por morte de filho
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.