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Cartilha tenta reduzir desconfiança
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A receita para uma das principais "síndromes" da medicina
moderna -o erro médico- ainda está numa fórmula absolutamente caseira: a conversa franca
entre as duas partes.
Essa solução já é conhecida por
médicos, instituições e pacientes,
mas sua prática esbarra na formação profissional e nas precárias
condições de trabalho. Do lado do
doente e da família, a tendência é
um aumento da desconfiança.
Uma cartilha lançada ontem pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) dedica-se a reduzir essa barreira. O
"Guia da Relação Médico-Paciente", que deve chegar ao público
por consultórios e serviços, começa citando pontos básicos que podem melhorar essa relação.
Da parte do médico, é fundamental que ele ofereça "um atendimento humanizado, marcado
pelo bom relacionamento pessoal
e pela dedicação de tempo e atenção necessários".
O paciente "tem direito" a ser
identificado e chamado pelo nome ou sobrenome: "não pode ser
tratado por números ou códigos".
Só esses quesitos baixariam o
número de queixas e supostos erros. O guia diz ainda que cabe ao
médico "saber ouvir o paciente,
esclarecendo dúvidas e compreendendo suas expectativas",
explicando com detalhes os riscos
e benefícios de cada procedimento. A escolha cabe ao doente.
Do outro lado, o paciente deve
se lembrar de que o médico tem
suas limitações e que sua atividade é "naturalmente desgastante",
sugere o guia. Não deve "julgar toda a categoria por conta de um
mau médico", "não deve exigir o
impossível" nem deve "culpar o
médico pela doença".
A publicação lembra ainda que
o médico não pode ser responsabilizado por todas as falhas dos
serviços de saúde. Nesses casos, o
paciente deve denunciar a situação junto aos conselhos de saúde
e ao Ministério Público.
Ainda no rol dos seus direitos, o
paciente não pode ser abandonado pelo médico após o início do
tratamento, tem direito a acompanhante, a informações claras e
objetivas, a uma segunda opinião
médica, ao sigilo médico e ao
acesso ao seu prontuário.
O médico, por sua vez, pode
apontar falhas nos regulamentos
das instituições em que trabalha e
se recusar a exercer sua profissão
em instituição pública ou privada
onde as condições de trabalho
não sejam dignas ou possam prejudicar o paciente. Tem direito
também a "internar e assistir seus
pacientes em hospitais privados
com ou sem caráter filantrópico,
ainda que não faça parte do seu
corpo clínico, respeitadas as normas técnicas da instituição".
A "cartilha" lista alguns itens
que elevam os riscos de problemas no atendimento médico: falta
de recursos humanos, materiais e
equipamentos nas unidades e serviços de saúde; número excessivo
de pacientes e pouco tempo dedicado a cada um; restrições de coberturas, limitações de atendimentos e exames por parte dos
planos de saúde e más condições
de trabalho e de remuneração.
A educação não foi esquecida:
deficiências do ensino médico e a
abertura de cursos sem condições
de formar bons profissionais também são criticadas.
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