São Paulo, quarta-feira, 17 de outubro de 2001

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Cartilha tenta reduzir desconfiança

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A receita para uma das principais "síndromes" da medicina moderna -o erro médico- ainda está numa fórmula absolutamente caseira: a conversa franca entre as duas partes.
Essa solução já é conhecida por médicos, instituições e pacientes, mas sua prática esbarra na formação profissional e nas precárias condições de trabalho. Do lado do doente e da família, a tendência é um aumento da desconfiança.
Uma cartilha lançada ontem pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) dedica-se a reduzir essa barreira. O "Guia da Relação Médico-Paciente", que deve chegar ao público por consultórios e serviços, começa citando pontos básicos que podem melhorar essa relação.
Da parte do médico, é fundamental que ele ofereça "um atendimento humanizado, marcado pelo bom relacionamento pessoal e pela dedicação de tempo e atenção necessários".
O paciente "tem direito" a ser identificado e chamado pelo nome ou sobrenome: "não pode ser tratado por números ou códigos".
Só esses quesitos baixariam o número de queixas e supostos erros. O guia diz ainda que cabe ao médico "saber ouvir o paciente, esclarecendo dúvidas e compreendendo suas expectativas", explicando com detalhes os riscos e benefícios de cada procedimento. A escolha cabe ao doente.
Do outro lado, o paciente deve se lembrar de que o médico tem suas limitações e que sua atividade é "naturalmente desgastante", sugere o guia. Não deve "julgar toda a categoria por conta de um mau médico", "não deve exigir o impossível" nem deve "culpar o médico pela doença".
A publicação lembra ainda que o médico não pode ser responsabilizado por todas as falhas dos serviços de saúde. Nesses casos, o paciente deve denunciar a situação junto aos conselhos de saúde e ao Ministério Público.
Ainda no rol dos seus direitos, o paciente não pode ser abandonado pelo médico após o início do tratamento, tem direito a acompanhante, a informações claras e objetivas, a uma segunda opinião médica, ao sigilo médico e ao acesso ao seu prontuário.
O médico, por sua vez, pode apontar falhas nos regulamentos das instituições em que trabalha e se recusar a exercer sua profissão em instituição pública ou privada onde as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar o paciente. Tem direito também a "internar e assistir seus pacientes em hospitais privados com ou sem caráter filantrópico, ainda que não faça parte do seu corpo clínico, respeitadas as normas técnicas da instituição".
A "cartilha" lista alguns itens que elevam os riscos de problemas no atendimento médico: falta de recursos humanos, materiais e equipamentos nas unidades e serviços de saúde; número excessivo de pacientes e pouco tempo dedicado a cada um; restrições de coberturas, limitações de atendimentos e exames por parte dos planos de saúde e más condições de trabalho e de remuneração.
A educação não foi esquecida: deficiências do ensino médico e a abertura de cursos sem condições de formar bons profissionais também são criticadas.


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