São Paulo, quarta-feira, 17 de outubro de 2001

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UNIVERSIDADES FEDERAIS

Alunos de medicina da UFMG dizem que entrarão no mercado de trabalho com desvantagem

Formandos poderão recorrer à Justiça em Minas

RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Estudantes de medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) que estão no último período escolar anunciaram que podem recorrer à Justiça, caso a greve de professores e servidores das universidades federais impeça que o curso seja concluído ainda neste ano.
Segundo lideranças dos cerca de 160 alunos, se a formatura ocorrer apenas no ano que vem, eles entrarão no mercado de trabalho com grande defasagem em relação aos formandos de universidades particulares e ainda poderão perder a chance de realizar em 2002 as residências médicas -especializações que começam no início do ano e que exigem, entre outras coisas, comprovante de conclusão do curso até 31/12.
Os estudantes vêm realizando reuniões desde o início da greve -a dos servidores, iniciada em julho, e a dos professores, em agosto- e já chegaram a consultar informalmente alguns advogados sobre a possível ação.
Segundo eles, as disciplinas optativas (teóricas) estão totalmente paradas e as disciplinas de internato (práticas) funcionam de forma precária, pois o Hospital das Clínicas -um dos locais onde os alunos participam de aulas- está mantendo apenas 30% de seu setor de internações programadas.

Casos
De acordo com Cristiano Guedes Duque, 23, que cursa o último período de medicina, a greve prejudica os candidatos à residência não só devido à indefinição sobre a formatura, mas também porque eles não podem recorrer, para estudar, à biblioteca da UFMG, que está fechada devido à greve.
Duque disse que vai concorrer a uma das vagas para residência médica na Fundação Hospitalar do Estado e no Instituto de Previdência dos Servidores do Estado, que têm provas no final do mês.
"Muita gente que não quer fazer residência vai tentar programas como o Saúde da Família. Só que a maioria dos que estão se formando em outras universidades vai entrar em contato com as prefeituras em novembro e dezembro, enquanto a gente ainda está nesta indefinição."
Segundo Duque, o governo é o culpado pela greve, porque estaria sendo intransigente nas negociações. "Professores e funcionários estão sem reajuste há muito tempo", argumenta.
Seu colega de classe Isaac Azevedo Silva, 25, também diz que vai tentar a residência médica e afirma que vai encabeçar a ação judicial caso a universidade não garanta a conclusão do curso ainda neste ano.
Segundo ele, se o internato feito pelos alunos em hospitais da cidade -que continua funcionando de forma precária- também for suspenso devido à greve, a Justiça se torna o único caminho. "Aí, não tem mais jeito", diz.
Silva também apóia os professores e funcionários, pois, em sua avaliação, a greve é resultado dos baixos salários.
O coordenador-geral do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UFMG, Cristiano Scarpelli, 21, que cursa o último período de história, diz que a greve é legítima -ele participa dela-, mas reconhece que a paralisação pode trazer prejuízos aos alunos.
Ele próprio participa de um concurso para professor da rede estadual e diz estar preocupado com a data em que conseguirá obter a conclusão do curso.
Em 99, mais de 52 mil estudantes se formaram nas federais de todo o país, segundo os últimos dados do Ministério da Educação.


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