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País é líder em jovens mortos por arma de fogo
Brasil lidera ranking de 65 países, feito pela Organização dos Estados Ibero-Americanos, que comparou mortes de jovens
Entre 1994 e 2004, houve aumento de 64,2% nos homicídios de jovens, mas a pesquisa mostrou uma
queda entre 2004 e 2003
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Não há lugar, entre 65 países
comparados, onde os jovens
morram mais por armas de fogo do que no Brasil. Além disso,
o país é o terceiro, num ranking
de 84, em que mais jovens entre
15 a 24 anos morrem por homicídio. São constatações do Mapa da Violência 2006, divulgado ontem em Brasília pela OEI
(Organização dos Estados Ibero-Americanos).
O relatório mostra que
15.528 brasileiros de 15 a 24
anos perderam a vida em 2004
por causa de acidentes, crimes
ou suicídios causados por uma
arma de fogo, o que resulta na
taxa de 43 mortes por 100 mil.
Dos 65 países comparados,
apenas a Venezuela chega próximo ao Brasil, com o patamar
de 38 mortes por 100 mil jovens. Mesmo Israel, país que vive em situação de conflito armado, tem taxa bastante inferior: 5,3 mortes por 100 mil.
A Colômbia, país igualmente
conhecido pelas altas taxas, não
é comparado nesse indicador
de armas de fogo. O relatório
inclui os colombianos na comparação das taxas de homicídios de jovens, sejam causadas
por armas de fogo ou não. Nessa comparação, o Brasil é o terceiro, atrás de Colômbia e Venezuela.
No meio de tantas más notícias, no entanto, há um destaque positivo: apesar do aumento de 64,2% no número de homicídios entre jovens de 1994 a
2004, foi registrado um declínio de 2003 para 2004.
Ao analisar essa queda, o relatório estima que 5.160 vidas
foram poupadas, sendo 2.349
de jovens. Para chegar a esse
número, foi feita uma estimativa, para cada Estado, de qual seria o número de homicídios em
2004 levando em conta a tendência até 2003. O resultado é a
diferença entre as mortes estimadas e as ocorridas.
Na comparação entre os Estados brasileiros, os que apresentam as maiores taxas de homicídio na população jovem
são Rio de Janeiro (102,8 mortes por 100 mil jovens), Pernambuco (101,5) e Espírito
Santo (95,4). São Paulo é o 9º
(56,4) e a menor taxa está em
Santa Catarina (18,6).
Entre as capitais, a maior taxa pertence a Recife, seguida de
Vitória. A cidade do Rio tem a
5ª maior (120,4) e a de São Paulo, a 12ª (81,6). Na outra ponta,
com os menores índices, estão
Palmas (38,0) e Natal (27,6).
Desarmamento?
Para o autor do estudo, Julio
Jacobo Waiselfisz, em boa parte a redução é um reflexo do Estatuto do Desarmamento, em
vigor desde 2003. Ele ressalva,
no entanto, que é preciso ter
continuidade nas políticas. "A
preocupação é que não tem havido uma continuidade nessa
campanha pelo desarmamento. [...] Temos de lembrar que
políticas preventivas são mais
econômicas e eficientes que as
punitivas", diz.
Para Ednilsa Ramos de Souza, pesquisadora do Centro Latino-Americano de Estudos de
Violência da Fiocruz, de início,
os dados de redução dos homicídios foram tratados com ressalvas, mas, depois, percebeu-se que eram consistentes.
"Achávamos que muitos homicídios poderiam ter aparecido como causas não esclarecidas, mas vimos que não era isso. Percebemos que a queda
ocorreu em quase todas as capitais. O único dado novo a explicar essa queda foi mesmo a
campanha pelo desarmamento, já que não houve mudança
significativa do ponto de vista
socieconômico ou demográfico
na população", diz ela.
A professora de psicologia forense da PUC-Campinas Maria
de Fátima Franco dos Santos
também concorda que o Estatuto do Desarmamento é um
dos fatores que explicam a redução. Segundo ela, cabe aos
governos combater o contrabando de armas e controlá-las.
"Se as armas não estivessem
tão disponíveis, muitas mortes
poderiam ter sido evitadas."
O secretário nacional de Juventude, Beto Cury, disse que, a
partir de 2004, o governo federal adotou uma série de medidas, inclusive a criação da própria secretaria e do Conselho
Nacional de Juventude, voltadas a essa população. Citou entre elas o ProJovem, que dá
uma bolsa para que o jovem faça um curso profissionalizante
e volte a estudar.
"Não há solução mágica. A dívida do Brasil é histórica. Estamos trabalhando para que a temática da juventude se consolide como política de Estado."
Para o assessor especial da
OEI, Jorge Werthein, os governos estaduais e municipais
também têm responsabilidade
na adoção de políticas para a juventude. "Há também a responsabilidade local, que, em alguns casos, está sendo enfrentada, mas em outros o descaso é
grande."
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