São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 2006

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País é líder em jovens mortos por arma de fogo

Brasil lidera ranking de 65 países, feito pela Organização dos Estados Ibero-Americanos, que comparou mortes de jovens

Entre 1994 e 2004, houve aumento de 64,2% nos homicídios de jovens, mas a pesquisa mostrou uma queda entre 2004 e 2003

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Não há lugar, entre 65 países comparados, onde os jovens morram mais por armas de fogo do que no Brasil. Além disso, o país é o terceiro, num ranking de 84, em que mais jovens entre 15 a 24 anos morrem por homicídio. São constatações do Mapa da Violência 2006, divulgado ontem em Brasília pela OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos).
O relatório mostra que 15.528 brasileiros de 15 a 24 anos perderam a vida em 2004 por causa de acidentes, crimes ou suicídios causados por uma arma de fogo, o que resulta na taxa de 43 mortes por 100 mil.
Dos 65 países comparados, apenas a Venezuela chega próximo ao Brasil, com o patamar de 38 mortes por 100 mil jovens. Mesmo Israel, país que vive em situação de conflito armado, tem taxa bastante inferior: 5,3 mortes por 100 mil.
A Colômbia, país igualmente conhecido pelas altas taxas, não é comparado nesse indicador de armas de fogo. O relatório inclui os colombianos na comparação das taxas de homicídios de jovens, sejam causadas por armas de fogo ou não. Nessa comparação, o Brasil é o terceiro, atrás de Colômbia e Venezuela.
No meio de tantas más notícias, no entanto, há um destaque positivo: apesar do aumento de 64,2% no número de homicídios entre jovens de 1994 a 2004, foi registrado um declínio de 2003 para 2004.
Ao analisar essa queda, o relatório estima que 5.160 vidas foram poupadas, sendo 2.349 de jovens. Para chegar a esse número, foi feita uma estimativa, para cada Estado, de qual seria o número de homicídios em 2004 levando em conta a tendência até 2003. O resultado é a diferença entre as mortes estimadas e as ocorridas.
Na comparação entre os Estados brasileiros, os que apresentam as maiores taxas de homicídio na população jovem são Rio de Janeiro (102,8 mortes por 100 mil jovens), Pernambuco (101,5) e Espírito Santo (95,4). São Paulo é o 9º (56,4) e a menor taxa está em Santa Catarina (18,6).
Entre as capitais, a maior taxa pertence a Recife, seguida de Vitória. A cidade do Rio tem a 5ª maior (120,4) e a de São Paulo, a 12ª (81,6). Na outra ponta, com os menores índices, estão Palmas (38,0) e Natal (27,6).

Desarmamento?
Para o autor do estudo, Julio Jacobo Waiselfisz, em boa parte a redução é um reflexo do Estatuto do Desarmamento, em vigor desde 2003. Ele ressalva, no entanto, que é preciso ter continuidade nas políticas. "A preocupação é que não tem havido uma continuidade nessa campanha pelo desarmamento. [...] Temos de lembrar que políticas preventivas são mais econômicas e eficientes que as punitivas", diz.
Para Ednilsa Ramos de Souza, pesquisadora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência da Fiocruz, de início, os dados de redução dos homicídios foram tratados com ressalvas, mas, depois, percebeu-se que eram consistentes.
"Achávamos que muitos homicídios poderiam ter aparecido como causas não esclarecidas, mas vimos que não era isso. Percebemos que a queda ocorreu em quase todas as capitais. O único dado novo a explicar essa queda foi mesmo a campanha pelo desarmamento, já que não houve mudança significativa do ponto de vista socieconômico ou demográfico na população", diz ela.
A professora de psicologia forense da PUC-Campinas Maria de Fátima Franco dos Santos também concorda que o Estatuto do Desarmamento é um dos fatores que explicam a redução. Segundo ela, cabe aos governos combater o contrabando de armas e controlá-las. "Se as armas não estivessem tão disponíveis, muitas mortes poderiam ter sido evitadas."
O secretário nacional de Juventude, Beto Cury, disse que, a partir de 2004, o governo federal adotou uma série de medidas, inclusive a criação da própria secretaria e do Conselho Nacional de Juventude, voltadas a essa população. Citou entre elas o ProJovem, que dá uma bolsa para que o jovem faça um curso profissionalizante e volte a estudar.
"Não há solução mágica. A dívida do Brasil é histórica. Estamos trabalhando para que a temática da juventude se consolide como política de Estado."
Para o assessor especial da OEI, Jorge Werthein, os governos estaduais e municipais também têm responsabilidade na adoção de políticas para a juventude. "Há também a responsabilidade local, que, em alguns casos, está sendo enfrentada, mas em outros o descaso é grande."


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