|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Obras apressadas e apreçadas
WALTER CENEVIVA
COLUNISTA DA FOLHA
Pelo padrão usual, quando a
"rigorosa investigação" estiver
concluída, ninguém lembrará
do que aconteceu com as vigas
do Rodoanel. Por exceção, todavia, os fatos parecem transparentes: é tempo de campanha. É necessário apresentar
obras, com urgência. Meras
formalidades legais ou técnicas
devem ser esquecidas. "Depois
a gente resolve", é a regra.
Apagões são assuntos encerrados, diz um lado político. Os
responsáveis pelas vigas serão
responsabilizados, diz outro lado. A revisão veicular é essencial, afirmavam ontem. A revisão veicular pode ser afastada,
asseguram hoje.
Para o leitor, uma só informação é essencial: quando o
serviço púbico não é prestado
pela própria administração, são
abertas licitações, concorrências, seleções de fornecedores
e assim por diante.
Desacerto
A síntese de tudo está no artigo 37 da Constituição. Condições expressas constam de leis
e editais. Assinados, os contratos tornam-se imutáveis.
Com frequência desagradável, falhas grosseiras matam e
ferem pessoas, perturbam a vida de muitos. Às vezes, de milhões de brasileiros.
As palavras do título resumem a verdade: antes das eleições, a pluralidade de obras
-algumas delas até necessárias- vai a toque de caixa, do
anúncio à realização.
Descuram-se cuidados. É o
apressamento, ou seja, o de agir
com pressa, sem tanto cuidado.
Alteram-se preços e pagamentos. É o ato de apreçar, isso é, de
discutir, de regatear, de pechinchar no ajuste do preço. "Depois a gente acerta."
Resultado: é o que se vê, sem
muita distinção entre os políticos de todos os naipes.
Quando o Ministério Público
promove as primeiras medidas,
há muita notícia.
Quando os processos chegam
ao fim, não só as notícias
são menores, como os resultados dão a impressão de não
terem punido os culpados, já
então no passado remoto,
por obras muito apressadas e
mal apreçadas.
Nesse caso, a culpa será
do Judiciário lento, afinal, uma
desculpa que tem servido para
todos os administradores.
Suspender as obras até que
os laudos definitivos sejam
aprovados, a curto prazo, é o
melhor caminho.
Texto Anterior: Dersa tem prazo de dez dias para explicar acidente Próximo Texto: Vistoria: TCU afirma que Dnit é responsável por fiscalizar obra Índice
|