São Paulo, terça-feira, 17 de dezembro de 2002

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RETRATO DO BRASIL

Pesquisa do IBGE mostra que, entre 1991 e 2000, aumentou o tempo de união entre homens e mulheres

Cai o número de casamentos em cartório

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Casar "de papel passado" no Brasil está cada vez menos frequente. Homens e mulheres que fazem essa opção hoje são mais velhos do que há dez anos. Os casamentos, mesmo em menos quantidade, estão mais longos.
Essas são algumas tendências apontadas pela pesquisa Estatísticas do Registro Civil, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), feita a partir de dados de cartórios.
Em 2000, o tempo médio de duração dos casamentos antes de ocorrer a separação era de 10,5 anos -um ano a mais do que os 9,5 anos registrados em 1991.
O número de casamentos a cada mil habitantes caiu de 7,5 em 1991 para 5,7 em 2001.
Para Elisa Caillaux, técnica do Departamento de Indicadores Sociais do IBGE, os casamentos estão demorando mais para acabar porque o casal está mais velho. Portanto, diz ela, mais maduro para manter um relacionamento.
Segundo a técnica, o fato de hoje muitos casais primeiro morarem juntos para só depois decidirem oficializar em cartório a relação também explica o aumento no tempo dos casamentos.
"Uma das hipóteses é que as pessoas estão casando mais tarde porque passaram a ter uma vida íntima em comum, que não precisa ser necessariamente morando junto, mais cedo", disse a advogada Graça Condé, da Associação Brasileira de Direito de Família.

Influência das mulheres
Para Condé, a mudança nas características dos relacionamentos não é a única explicação: "As mulheres estão querendo filhos mais tarde. Elas também estão mais voltadas para o mercado de trabalho. Isso tudo faz adiar o casamento".
As mulheres, diz a pesquisa, se casam mais cedo do que os homens: elas com 26,4 anos, em média, e eles com 29,9 anos em 2001. Em 1990, tanto mulheres como homens se uniam mais jovens: elas (23,5 anos), e eles (26,9 anos).
"As dificuldades financeiras estão alterando o perfil dos relacionamentos. A adolescência foi esticada. As pessoas preferem se firmar no emprego e estudar mais antes de casar", disse Condé.
Por regiões, o menor número de casamentos, segundo o IBGE, ocorre nas áreas mais pobres, onde as pessoas têm mais dificuldade em arcar com os custos de uma união registrada em cartório.
É o caso do Nordeste, onde o número de casamentos foi de 4,9 por mil habitantes em 2001. O mesmo número foi registrado no Norte. Mais rico, o Sudeste teve a maior taxa: 6,7 por mil.
Segundo o IBGE, campanhas para promover casamentos coletivos ajudam a aumentar o número de uniões formais. Foi o que aconteceu em 1999, quando o Ministério da Justiça estimulou cerimônias do tipo. Naquele ano, a taxa de casamentos chegou a 6,6 por mil habitantes, voltando a cair para 6 por mil em 2000.

Novo casamento
O IBGE mostra que mais gente está se casando mais de uma vez, apesar de o casamento entre solteiros ainda ser o mais frequente.
Em 1990, 93,9% dos casamentos ocorriam entre pessoas solteiras. Esse percentual recuou para 88,4% em 2000.
Ainda segundo a pesquisa, dezembro é o mês preferido para a realização de casamentos. O motivo, segundo o IBGE, é econômico: a liberação do 13º salário.
O mês com o menor número de uniões é agosto. "Não há uma razão lógica. Mas não dizem que agosto é o mês do desgosto?", afirma Elisa Caillaux, do IBGE.


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