São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 1998.



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Falta de Gonzaguinha desestrutura família

FÁBIA PRATES
da Agência Folha, em Belo Horizonte

A carreira do cantor e compositor Gonzaguinha foi interrompida na manhã de 29 de abril de 91, em uma estrada do Paraná.
Ele morreu ao bater o Monza que dirigia de frente com um caminhão, que trafegava na contramão da pista para fazer uma conversão.
Gonzaguinha viajava havia 11 dias com dois empresários, durante uma turnê pelo Sul do país. Um deles também morreu no acidente.
Então com 45 anos e 18 discos gravados, o cantor morreu sem realizar o sonho de ver tombado o museu em homenagem ao seu pai, Luiz Gonzaga, o Gonzagão, em uma fazenda no município de Exu, em Pernambuco.
A segunda mulher de Gonzaguinha, Louise Margarete Martins, 40, e os quatro filhos do compositor, Daniel, 22, Fernanda, 18, Amora, 17, e Mariana, 14, estão até hoje nessa batalha.
Louise, conhecida por Lelete, é mãe da filha caçula do cantor, Mariana. "Não existe nada mais cruel na minha vida do que a perda dele. Se eu não tivesse filho, não ia segurar a barra", disse a viúva.
Segundo ela, tudo na vida da família ficou desestruturado. "Essa pessoa responsável pelo acidente acabou com a alegria de muita gente", disse Lelete, que esteve presa em 1992 acusada de traficar drogas.
Segundo ela, seu envolvimento com as drogas foi uma das consequências da perda.
Ela elogia a tentativa de mudança no Código Nacional de Trânsito como forma de penalizar pessoas irresponsáveis que põem em risco a vida de outras por dirigir bêbadas ou "extrapolar" no trânsito.
Gonzaguinha morava desde 1981 em Belo Horizonte, em uma casa confortável no bairro São Luiz, na Pampulha, região nobre da capital mineira.
O melhor amigo dele em Belo Horizonte, o compositor Fernando Brant, parceiro de Milton Nascimento em várias músicas, descreve Gonzaguinha: "Era um cara que parecia duro, mas era doce, solidário e amigo. Era um desbravador. A forma como ele morreu mostra isso".
Foi na casa de Brant, em uma noite de réveillon, que Gonzaguinha compôs "O que é o que é" -uma de suas músicas mais conhecidas-, ao perguntar aos presentes o que era a vida.
Era lá também que ele passava sempre depois das viagens para conversar, tomar cerveja e mostrar novos trabalhos. "Até hoje sinto falta. Ele batia na buzina, entrava, sentava na cozinha e nós ficávamos conversando", lembra.
Fernando Brant conversou com Gonzaguinha quatro dias antes de ele viajar. "Na última vez que nos encontramos, na casa dele, ele mostrou trabalhos novos, resultado de pesquisas que fazia sobre novos ritmos".
Quando morreu, Gonzaguinha estava finalizando o disco "Cavaleiro Solitário", lançado posteriormente no Brasil e em outros países.
Para Brant, o maior rigor do novo código de trânsito, com "multas fortes", vai fazer com que os motoristas fiquem mais civilizados. "Automóvel é condução. Não é arma nem brincadeira."



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