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Resgatado com vida, Felipe morre no hospital
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA
Depois de passar mais de 15 horas sob a terra e de suportar dois
soterramentos, o menino Felipe
Caldeira dos Santos, 10, não resistiu aos ferimentos e morreu na
madrugada de ontem no Hospital
João 23, em Belo Horizonte. O garoto tornou-se símbolo das vítimas das chuvas.
No hospital, Felipe ainda estava
lúcido e chegou a conversar com
os médicos, parentes e com o vice-presidente José Alencar, ainda
em exercício da Presidência da
República, que foi visitá-lo com o
governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). Os exames
mostraram, no entanto, que ele
apresentava problemas sérios de
circulação abaixo do joelho.
Felipe foi submetido a uma cirurgia para desobstrução da circulação sanguínea, mas não resistiu e morreu devido à hipotermia
(baixa temperatura corporal).
"Eu ainda o vi vivo. Ele estava
bem, conversava com a gente. Reclamava apenas de fome", disse o
pai do garoto, o lavador de carros
Antônio José Laurêncio, 37.
Além de Felipe, morreram seus
cinco irmãos e três primos, que
também dormiam no mesmo
barraco. Ao todo, nove crianças e
adolescentes da mesma família.
Laurêncio chegou ao velório
dos filhos e sobrinhos por volta
das 21h de ontem. Ele e a mulher,
Valdezita Caldeira dos Santos, foram encaminhados anteontem
para o Hotel Guarani, no centro
de Belo Horizonte. O casal salvou
poucos pertences, entre os objetos, uma sacola com documentos.
"Não vou despencar. Se Deus
quiser, vou aguentar firme, com a
ajuda e força dos meus amigos.
Não volto mais para lá [Morro das
Pedras". Agora é uma nova batalha para construir outra casa",
disse o lavador de carros.
Valdezita afirmou que não consegue tirar "da cabeça" a imagem
de uma das filhas pedindo socorro no momento em que estava
sendo soterrada.
Cobra
Um dos primos de Felipe e irmão de outras três vítimas, Kennedy dos Santos Ferreira, 10, só
conseguiu se salvar porque, um
dia antes da tragédia, pediu para
dormir na casa de uma vizinha.
"A casa estava muito cheia de
rachaduras. Tinha uma cobra venenosa atrás da casa", disse o menino, que teria sentido medo de o
animal invadir a residência.
Na noite da tragédia, ele acordou a tempo de ver pela janela a
destruição deixada pelo deslizamento de terra. "A casa estava toda lá no beco, desmontada, toda
estragada, não sobrou nada."
Tia de Felipe e mãe de três das
vítimas, Déia dos Santos Ferreira
estava presa em uma delegacia da
capital mineira, havia 15 dias, por
furto de toalhas de mesa.
Ela foi liberada para reconhecer
os corpos e reencontrar o único filho sobrevivente. "Estou alegre e,
ao mesmo tempo, triste. Alegre
por estar com um filho e triste por
ter perdido os outros três."
Ela diz que o furto foi um ato de
desespero. Ela queria vender as
toalhas de mesa para sustentar os
quatro filhos que criava sozinha.
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