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Avó redescobriu Valéria após acidente
Família estava sem notícias da bacharel em direito havia dois anos; parentes viram a foto dela mostrada pelas TVs desde terça
Filhos da segunda vítima retirada dos escombros do desabamento da estação do metrô só souberam da morte da mãe ontem
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os gêmeos Guilherme e Edgard, 11, filhos de Valéria Alves
Marmit, 37, segunda vítima retirada dos escombros do desabamento da estação do metrô,
só ficaram sabendo da morte da
mãe ontem de manhã. O pai deles, Wagner Marmit, ex-marido
de Valéria, foi quem lhes deu a
notícia. Minutos depois, os meninos foram levados para o enterro da mãe, caixão lacrado.
O sepultamento aconteceu
às 11h10 no cemitério Ariston,
em Carapicuíba, na Grande São
Paulo. Valéria morava em um
apartamento na Cohab local.
Cerca de 150 pessoas acompanharam a cerimônia, entre
elas o governador de São Paulo,
José Serra, e o secretário da
Justiça, Luiz Antonio Marrey.
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, passou pelo cemitério. Ficou dez minutos.
Marcaram presença ainda
duas funcionárias do Consórcio Via Amarela, responsável
pela obra da estação Pinheiros
(a que desabou), com camisas
em que se lia "Equipe de apoio".
O consórcio encomendou coroa de flores, com a inscrição
"Nossos profundos sentimentos". Ficou sobre o túmulo.
Outra coroa a Uniban, Universidade Bandeirante, enviou,
com a mensagem "Uma última
homenagem". Foi na Uniban
que Valéria concluiu o curso de
direito em 2005.
No próximo domingo ela faria o exame da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil), para
exercer a advocacia.
Luzinete Aparecida Grilli,
42, que estudou com Valéria na
faculdade, lembra-se das dificuldades da amiga para pagar
os estudos. A inadimplência no
quarto ano chegou a gerar disputa judicial com a universidade -a mesma que ontem mandou as flores. "Valéria era muito esforçada e inteligente. Estava muito perto de atingir seu
sonho, quando caiu no buraco."
A vereadora Emília Ramalho
(PMDB) dirigiu-se a Juliana, 17
anos, filha mais velha de Valéria, e tentou consolá-la: "Quando eu vi a tragédia na televisão,
logo pensei que ia sobrar alguma coisa para Carapicuíba.
Sempre sobra para Carapicuíba". A moça respondeu com
mais lágrimas.
Cidade-dormitório vice-campeã em pobreza no Estado
(o pódio é de Francisco Morato,
também na Grande SP), Carapicuíba tem 384 mil habitantes.
Gente que, como Valéria, mora
ali, mas trabalha, estuda, ganha
e gasta dinheiro fora.
Sexta-feira, na hora do desabamento, Valéria tinha acabado de pegar o microônibus em
Pinheiros, onde trabalhava, e
iniciava o trajeto de volta para
casa. Seu corpo dilacerado foi
resgatado na terça-feira, 38
metros abaixo do nível da rua.
Ontem, quando o coro pronunciou o amém da última ave-maria, às 11h30, e o povo saía
por entre as tumbas de azulejos
coloridos sem flores, um grupinho continuou fincado ao lado
do túmulo de Valéria.
Era a avó dela, a sergipana
Maria Baptista, 83, e o irmão
de criação Fernando Alves
Ribeiro, 35, além de dois jovens. Os familiares se perderam há dois anos nas andanças
em busca de emprego. Redescobriram Valéria na terça,
quando as TVs punham a toda
hora a foto dela no ar.
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