São Paulo, quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

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Avó redescobriu Valéria após acidente

Família estava sem notícias da bacharel em direito havia dois anos; parentes viram a foto dela mostrada pelas TVs desde terça

Filhos da segunda vítima retirada dos escombros do desabamento da estação do metrô só souberam da morte da mãe ontem

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os gêmeos Guilherme e Edgard, 11, filhos de Valéria Alves Marmit, 37, segunda vítima retirada dos escombros do desabamento da estação do metrô, só ficaram sabendo da morte da mãe ontem de manhã. O pai deles, Wagner Marmit, ex-marido de Valéria, foi quem lhes deu a notícia. Minutos depois, os meninos foram levados para o enterro da mãe, caixão lacrado.
O sepultamento aconteceu às 11h10 no cemitério Ariston, em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Valéria morava em um apartamento na Cohab local.
Cerca de 150 pessoas acompanharam a cerimônia, entre elas o governador de São Paulo, José Serra, e o secretário da Justiça, Luiz Antonio Marrey. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, passou pelo cemitério. Ficou dez minutos.
Marcaram presença ainda duas funcionárias do Consórcio Via Amarela, responsável pela obra da estação Pinheiros (a que desabou), com camisas em que se lia "Equipe de apoio". O consórcio encomendou coroa de flores, com a inscrição "Nossos profundos sentimentos". Ficou sobre o túmulo.
Outra coroa a Uniban, Universidade Bandeirante, enviou, com a mensagem "Uma última homenagem". Foi na Uniban que Valéria concluiu o curso de direito em 2005.
No próximo domingo ela faria o exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), para exercer a advocacia.
Luzinete Aparecida Grilli, 42, que estudou com Valéria na faculdade, lembra-se das dificuldades da amiga para pagar os estudos. A inadimplência no quarto ano chegou a gerar disputa judicial com a universidade -a mesma que ontem mandou as flores. "Valéria era muito esforçada e inteligente. Estava muito perto de atingir seu sonho, quando caiu no buraco."
A vereadora Emília Ramalho (PMDB) dirigiu-se a Juliana, 17 anos, filha mais velha de Valéria, e tentou consolá-la: "Quando eu vi a tragédia na televisão, logo pensei que ia sobrar alguma coisa para Carapicuíba. Sempre sobra para Carapicuíba". A moça respondeu com mais lágrimas.
Cidade-dormitório vice-campeã em pobreza no Estado (o pódio é de Francisco Morato, também na Grande SP), Carapicuíba tem 384 mil habitantes. Gente que, como Valéria, mora ali, mas trabalha, estuda, ganha e gasta dinheiro fora.
Sexta-feira, na hora do desabamento, Valéria tinha acabado de pegar o microônibus em Pinheiros, onde trabalhava, e iniciava o trajeto de volta para casa. Seu corpo dilacerado foi resgatado na terça-feira, 38 metros abaixo do nível da rua.
Ontem, quando o coro pronunciou o amém da última ave-maria, às 11h30, e o povo saía por entre as tumbas de azulejos coloridos sem flores, um grupinho continuou fincado ao lado do túmulo de Valéria.
Era a avó dela, a sergipana Maria Baptista, 83, e o irmão de criação Fernando Alves Ribeiro, 35, além de dois jovens. Os familiares se perderam há dois anos nas andanças em busca de emprego. Redescobriram Valéria na terça, quando as TVs punham a toda hora a foto dela no ar.


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