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"Revacinação" ameaça estoques em Estados
Em 5 Estados considerados endêmicos ou de transição da febre amarela, cobertura vacinal já passa de 100% da população
Para governos, isso pode levar à falta de vacina; ministério
vê fato com "preocupação", mas não crê que os estoques possam acabar em breve
TALITA BEDINELLI
AFONSO BENITES
DA AGÊNCIA FOLHA
Pessoas com a imunização
contra a febre amarela em dia
têm engrossado as filas de vacinação contra a doença no país e
acabado rapidamente com as
doses enviadas pelo governo federal. Em cinco Estados considerados endêmicos ou de transição da febre, a cobertura vacinal já passa de 100%, o que indica que as pessoas estão se vacinando mais de uma vez num
período menor que dez anos
-prazo de validade da vacina.
Para os governos estaduais, a
atitude pode levar à falta de vacina no país. O Ministério da
Saúde diz ver o fato com "preocupação", mas não acredita que
os estoques possam terminar
em breve. Ainda assim, a Fiocruz, que fabrica a vacina, teve
que cortar as exportações e
criar um novo turno de trabalho para dobrar a produção e
atender à demanda atual.
Neste ano, dez casos da forma silvestre doença já foram
confirmados, com sete mortes
-números superiores aos de
todo o ano passado.
Desde dezembro, foram enviadas a Estados endêmicos e
Minas 5,3 milhões de doses. Alguns já não têm mais a vacina.
Em Mato Grosso do Sul, que
tem uma população estimada
de 2,4 milhões de habitantes,
2,8 milhões de imunizações foram aplicadas desde 2000,
quando houve grande procura
pela vacina por causa do alto
número de casos de febre.
Segundo o diretor da Vigilância em Saúde do Estado, Eugênio Barros, a "revacinação" pode levar à falta de vacinas para
quem precisa. "Se a vacinação
fosse feita dentro do que foi
planejado, não faltaria. Se isso
muda indevidamente, não há
planejamento que agüente."
Ele diz que em alguns postos
pessoas chegaram a rasgar a
carteira de vacinação para evitar que fossem impedidas de
tomar a vacina novamente.
O mesmo ocorreu no Distrito
Federal. "As pessoas dizem que
a vacina foi tomada há três anos
e está fraca. Lamentavelmente
há pânico. Há casos de pessoas
que rasgam o cartão", diz o subsecretário de Vigilância à Saúde, Joaquim Barros Neto.
Forma indiscriminada
O secretário da Saúde de Mato Grosso, Victor Rodrigues,
concorda que o medicamento
pode esgotar. "Se a vacinação
continuar acontecendo de forma indiscriminada, a vacina vai
acabar no país."
A cobertura vacinal no Estado já chega a 115%, mas, no momento, não há mais vacina contra a febre amarela no estoque.
Só em Cuiabá, no último mês
foram vacinadas mais pessoas
que em todo o ano passado.
Em Goiás, todos com a vacina
vencida foram imunizados em
2007. Mesmo assim, apenas
nos primeiros 15 dias deste ano,
1,8 milhão de pessoas foram vacinadas -se considerada a vacinação desde 1º de dezembro,
foram 2,4 milhões. Segundo a
Secretaria da Saúde do Estado,
de cada dez pessoas que se vacinam, oito já são imunizadas.
Em pouco mais de um mês, o
número de doses aplicadas em
moradores do DF e de Goiás já
se aproxima do total nos dois
locais no ano de 2000, quando
houve recorde de casos -85 e
40 mortes- e de vacinações
-22,3 milhões no país.
Efeitos colaterais
A coordenadora de imunização da Secretaria da Saúde de
Minas, Tânia Brant, afirma que
em alguns municípios a cobertura vacinal chega a 300%. A
média do Estado é de 103%.
Segundo ela, a vacinação pode trazer efeitos colaterais. "As
pessoas podem desenvolver
sintomas parecidos com os da
febre amarela. Se existe risco,
por que se vacinar outra vez?"
O risco é ainda maior para os
que se imunizam pela segunda
vez em menos de cinco anos,
conforme o pesquisador Anthony Guimarães, do Instituto
Oswaldo Cruz. "O indivíduo
pode ter sintomas parecidos
com os de uma superdosagem,
e o organismo pode identificar
a revacinação como uma infecção ao vírus."
Colaborou JOHANNA NUBLAT, da Sucursal de
Brasília
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