São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

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"Revacinação" ameaça estoques em Estados

Em 5 Estados considerados endêmicos ou de transição da febre amarela, cobertura vacinal já passa de 100% da população

Para governos, isso pode levar à falta de vacina; ministério vê fato com "preocupação", mas não crê que os estoques possam acabar em breve

TALITA BEDINELLI
AFONSO BENITES
DA AGÊNCIA FOLHA

Pessoas com a imunização contra a febre amarela em dia têm engrossado as filas de vacinação contra a doença no país e acabado rapidamente com as doses enviadas pelo governo federal. Em cinco Estados considerados endêmicos ou de transição da febre, a cobertura vacinal já passa de 100%, o que indica que as pessoas estão se vacinando mais de uma vez num período menor que dez anos -prazo de validade da vacina.
Para os governos estaduais, a atitude pode levar à falta de vacina no país. O Ministério da Saúde diz ver o fato com "preocupação", mas não acredita que os estoques possam terminar em breve. Ainda assim, a Fiocruz, que fabrica a vacina, teve que cortar as exportações e criar um novo turno de trabalho para dobrar a produção e atender à demanda atual.
Neste ano, dez casos da forma silvestre doença já foram confirmados, com sete mortes -números superiores aos de todo o ano passado.
Desde dezembro, foram enviadas a Estados endêmicos e Minas 5,3 milhões de doses. Alguns já não têm mais a vacina. Em Mato Grosso do Sul, que tem uma população estimada de 2,4 milhões de habitantes, 2,8 milhões de imunizações foram aplicadas desde 2000, quando houve grande procura pela vacina por causa do alto número de casos de febre.
Segundo o diretor da Vigilância em Saúde do Estado, Eugênio Barros, a "revacinação" pode levar à falta de vacinas para quem precisa. "Se a vacinação fosse feita dentro do que foi planejado, não faltaria. Se isso muda indevidamente, não há planejamento que agüente."
Ele diz que em alguns postos pessoas chegaram a rasgar a carteira de vacinação para evitar que fossem impedidas de tomar a vacina novamente.
O mesmo ocorreu no Distrito Federal. "As pessoas dizem que a vacina foi tomada há três anos e está fraca. Lamentavelmente há pânico. Há casos de pessoas que rasgam o cartão", diz o subsecretário de Vigilância à Saúde, Joaquim Barros Neto.

Forma indiscriminada
O secretário da Saúde de Mato Grosso, Victor Rodrigues, concorda que o medicamento pode esgotar. "Se a vacinação continuar acontecendo de forma indiscriminada, a vacina vai acabar no país."
A cobertura vacinal no Estado já chega a 115%, mas, no momento, não há mais vacina contra a febre amarela no estoque.
Só em Cuiabá, no último mês foram vacinadas mais pessoas que em todo o ano passado.
Em Goiás, todos com a vacina vencida foram imunizados em 2007. Mesmo assim, apenas nos primeiros 15 dias deste ano, 1,8 milhão de pessoas foram vacinadas -se considerada a vacinação desde 1º de dezembro, foram 2,4 milhões. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado, de cada dez pessoas que se vacinam, oito já são imunizadas.
Em pouco mais de um mês, o número de doses aplicadas em moradores do DF e de Goiás já se aproxima do total nos dois locais no ano de 2000, quando houve recorde de casos -85 e 40 mortes- e de vacinações -22,3 milhões no país.

Efeitos colaterais
A coordenadora de imunização da Secretaria da Saúde de Minas, Tânia Brant, afirma que em alguns municípios a cobertura vacinal chega a 300%. A média do Estado é de 103%.
Segundo ela, a vacinação pode trazer efeitos colaterais. "As pessoas podem desenvolver sintomas parecidos com os da febre amarela. Se existe risco, por que se vacinar outra vez?"
O risco é ainda maior para os que se imunizam pela segunda vez em menos de cinco anos, conforme o pesquisador Anthony Guimarães, do Instituto Oswaldo Cruz. "O indivíduo pode ter sintomas parecidos com os de uma superdosagem, e o organismo pode identificar a revacinação como uma infecção ao vírus."


Colaborou JOHANNA NUBLAT, da Sucursal de Brasília

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