São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

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26 cursos de direito com notas baixas têm de fechar vagas

Por determinação do MEC, serão 6.323 vagas a menos no próximo processo seletivo; atuais alunos não são afetados

Acerto prevê melhorias de infra-estrutura, ampliação de bibliotecas e contratação de mais docentes em regime integral de trabalho

ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Por determinação do Ministério da Educação, 26 cursos particulares de direito cortarão 6.323 vagas a partir do próximo processo seletivo. São cursos que receberam notas baixas no exame do MEC que avalia alunos do ensino superior.
O número equivale a 44,5% das vagas oferecidas por esses cursos no último vestibular. A redução, segundo o ministério, não afeta os alunos que já estão matriculados.
O presidente da Anup (Associação Nacional das Universidades Particulares), Abib Salim Cury, diz que a medida não deve ter grande impacto porque a maior parte das vagas cortadas já estava ociosa.
O secretário de Educação Superior do MEC, Ronaldo Mota, porém, afirma que aproximadamente 3.600 vagas cortadas estavam ocupadas.
De acordo com o último censo da educação superior, com dados de 2006, havia 228 mil vagas em cursos de direito, sendo 33,7% não-preenchidas.
O corte de vagas foi definido em um acordo entre as instituições e o MEC. O acerto prevê ainda melhorias de infra-estrutura, ampliação de bibliotecas, contratação de mais professores em regime integral e aumento da titulação do corpo docente, entre outras medidas.
Daqui a um ano, as faculdades serão reavaliadas para ver se o acordo foi cumprido.
As instituições que cortarão vagas fazem parte de um grupo de 89 que tiraram notas 1 e 2 -em uma escala de um a cinco- no conceito do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), que avalia o conhecimento dos estudantes, e no IDD (Indicador de Diferença de Desempenho), que mede o conhecimento agregado pelos cursos aos estudantes.
Em setembro, o MEC, provocado pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), anunciou uma supervisão nesses cursos que poderia resultar, no limite, no fechamento.
Dos 89 cursos elencados, nove foram excluídos -cinco porque são municipais, três porque ainda não tinham formado turma e um porque havia recebido uma nota incorreta.
Vinte e nove cursos assinaram termos de compromisso com o MEC, mas o corte de vagas vale para 26 deles.
Outros 51 cursos ainda não fizeram acordo com o ministério -36 ainda receberão visitas de avaliadores e outros devem assinar termos de compromisso nos próximos dias.
De acordo com o ministro Fernando Haddad, as instituições que não aceitarem as mudanças sugeridas estarão sujeitas a processos administrativos que podem resultar em suspensão dos próximos vestibulares.
Segundo o secretário Ronaldo Mota, se as instituições demitirem professores ou aumentarem o número de estudantes por sala, estarão infringindo o compromisso com o MEC e poderão ser punidas.
Segundo o MEC, nenhum curso de direito já foi fechado por questões de qualidade -embora eles já tenham sido avaliados nove vezes desde 1996- e esse não é o objetivo atual. "Evitamos qualquer tentativa, ainda que justificável do ponto de vista do clamor popular, de sair fechando cursos", disse o secretário.
Durante o anúncio dos cortes de vagas, dirigentes de instituições particulares se intercalaram ao microfone com os jornalistas, fizeram perguntas e reclamaram do MEC.
Um deles disse ao microfone que a divulgação dos cursos como uma "lista negra" fez com que a instituição perdesse um convênio para estágio.

Indenização
Três especialistas em direito do consumidor afirmaram que os alunos que se sentirem prejudicados pelo mau desempenho de seus cursos têm direito a pedir indenização por dano moral e material.
"Se a faculdade teve um desempenho ruim no Enade, é sinal de que o serviço foi mal prestado", afirma o advogado Arthur Rollo, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Para o advogado Maurício Maluf Barella, a situação pode ser analisada como uma "quebra de direito adquirido", uma vez que as faculdades terão de aumentar as mensalidades e demitir professores. Fernando Cílio de Souza, especialista em direito empresarial, acredita que a melhor solução será o MEC transferir os alunos para faculdades melhor avaliadas.


Colaborou a Reportagem Local


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