São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 1998.



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TRÁFICO DE DROGAS
Polícia Federal descobre a 'rota sul', que passa pela Argentina e Uruguai e por três Estados brasileiros
Sul do Brasil integra nova rota da cocaína

SERGIO TORRES
enviado especial a Brasília

A calha do rio da Prata, na Argentina, e a região Sul do Brasil integram a nova rota da cocaína enviada da América do Sul para a Europa. A descoberta da "rota sul" resulta de investigação conjunta de órgãos de segurança dos países do Mercosul -Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Na avaliação dos investigadores, incomodados com o aperto da repressão na região amazônica, os cartéis da cocaína instalados na Colômbia inverteram o pólo do comércio de parte da droga traficada entre o continente e os países da Europa.
Desde o início do ano passado, as polícias do Mercosul têm feito apreensões de cocaína em locais onde antes o tráfico praticamente não atuava.
É o caso do rio da Prata, navegado por embarcações que seguem para a Europa a partir de metrópoles como Buenos Aires (Argentina) e Montevidéu (Uruguai), e dos Estados sulistas brasileiros (leia texto nesta página).
A polícia da Argentina já apreendeu este ano, em navios e localidades próximas ao rio da Prata, cerca de três toneladas de cocaína.
Amazônia
Com informações da PF (Polícia Federal) brasileira e das polícias nacionais do Uruguai e do Paraguai, os agentes argentinos descobriram que a cocaína apreendida abasteceria Itália, França e Espanha, que costumavam receber a droga a partir de uma rota que atravessava a região amazônica brasileira.
Controlada pelos cartéis, a "rota sul" começa na Colômbia, atravessa um pequeno trecho do território brasileiro (Amazonas e Acre) em sentido vertical, passa pela Bolívia e chega ao norte da Argentina.
Da Argentina, a droga pode seguir para o rio da Prata ou ser enviada para o Brasil através do Paraguai.
Quando a segunda opção é a preferida dos traficantes, a cocaína entra no Brasil pelo Paraná (região das cidades de Foz do Iguaçu e Guaíra), descendo por terra para Santa Catarina e para o Rio Grande do Sul.
No Brasil, a droga tem como destino prioritário as cidades portuárias dos Estados da região Sul, como Itajaí (Santa Catarina), Paranaguá (Paraná) e Rio Grande (Rio Grande do Sul). Desses portos, ela é exportada para a Europa.
A transferência do norte para o sul do tráfico internacional de cocaína já vinha sendo investigada pelos órgãos de segurança do Mercosul desde o ano passado, quando começaram a se intensificar as ações policiais na Amazônia.
As apreensões realizadas na Argentina e no Sul do Brasil no primeiro semestre mostraram que as suspeitas policiais tinham fundamento.
O diretor-geral da PF, Vicente Chelotti, disse à Folha que a troca de informações sobre o tráfico internacional de cocaína entre as forças de segurança dos países do Mercosul permitiu as apreensões da droga e a identificação da "rota sul". "Quando começamos a apertar na Amazônia, avisei ao pessoal da Argentina que iam pipocar casos lá embaixo. Não deu outra", declarou Chelotti.




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