São Paulo, segunda, 18 de janeiro de 1999

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VIOLÊNCIA
Polícia conta com testemunha que viu quando o corpo do regente foi abandonado em bairro da zona norte do Rio
Coral de 500 canta em enterro de maestro

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

O corpo do maestro Armando dos Prazeres Sousa foi enterrado ontem à tarde no cemitério São Francisco Xavier (Caju, zona norte) ao som de sua maior paixão: músicas eruditas religiosas, entoadas por cerca de 500 pessoas.
O maestro regia a orquestra Petrobrás Pró-Música e vários corais do Rio. Ele foi levado por três homens na noite de quinta-feira, quando parou o carro na porta da creche onde havia ido apanhar o filho caçula, de 5 anos, em Laranjeiras, tradicional bairro de classe média da zona sul do Rio.
O delegado Álvaro Lins disse que a polícia localizou uma testemunha do momento em que o corpo do maestro foi deixado numa rua do bairro de São Cristóvão.
Segundo o delegado, que foi ao enterro, essa pessoa tentou socorrer Prazeres e chamou a polícia. Quando os policiais chegaram, ele estava morto.
A ex-mulher do maestro, Gláucia Oliveira, viu quando ele foi detido pelos três homens na porta da creche. Os depoimentos dela e da testemunha são considerados fundamentais para elucidar o caso.
A família pensou tratar-se de um sequestro-relâmpago, para retirada de dinheiro em caixas automáticos. De fato, houve seis saques nas contas do maestro, somando a quantia de R$ 700.
A família procurou a Delegacia Anti-Sequestro. No sábado, sem contato, a DAS orientou a família a procurar o IML. O filho mais velho do regente, Armando Sousa, identificou o corpo, achado na noite de quinta-feira, em São Cristóvão (zona norte). O maestro foi morto com um tiro na nuca.
Nascido em Portugal, o maestro Prazeres veio para o Brasil criança. Era um dos maiores especialistas do país na regência de corais. Na primeira visita do papa João Paulo 2º ao Brasil, em 1980, regeu 2.000 vozes numa apresentação no aterro do Flamengo (zona sul).
Prazeres começou a aprender música erudita no seminário e chegou a pensar em ser padre. Optou pela música, mas manteve o amor pelas peças religiosas.
Há 11 anos fundou a orquestra Petrobrás Pró-Música, com 63 músicos. Por insistência do maestro, o grupo alternava apresentações em salas culturais e em comunidades carentes.
Para homenagear seu criador e regente, a orquestra Pró-Música poderá mudar de nome, passando a se chamar orquestra Maestro Armando dos Prazeres.
O enterro foi marcado pela comoção dos filhos da vítima e de muitas pessoas que descobriram com o regente a paixão pela música. "Eu nem conhecia música e ele me fez descobrir que nas minhas cordas vocais havia beleza, harmonia", disse o auxiliar administrativo Carlos Fogaça, integrante do coral dos Correios.



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