São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

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Prefeitura vai gastar R$ 34 milhões para entregar leite a estudantes pelo correio

CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A administração Gilberto Kassab (DEM) vai gastar R$ 34 milhões para enviar pelo correio as latas do Leve Leite a 750 mil crianças da rede municipal de ensino neste ano letivo.
O desconto no contrato da Nestlé será de R$ 6 milhões. A empresa venceu a licitação para atuar no programa e agora não vai precisar mais entregar o produto nas escolas.
A medida ocorre em um momento em que a prefeitura reduz uma série de gastos por conta da crise econômica. Em janeiro, Kassab anunciou que iria congelar R$ 6,9 bilhões, mais de 25% do Orçamento.
Os Correios foram contratados por notória especialização. A Nestlé, que fornece o leite Ninho, venceu a licitação para o serviço em dezembro.
O prefeito, que em 2008 disputou a reeleição, exibiu na campanha na TV latas que aludiam ao leite Ninho, "do rótulo amarelinho". Dizia que, com ele, o leite "era de qualidade".
Após fechar os contratos licitados, a Nestlé deveria receber, incluindo aí os serviços de entrega, cerca de R$ 169 milhões por ano da prefeitura, ou R$ 8,51 por kg de leite em pó.
Agora, como vai entregar as latas em apenas um local, vai receber R$ 8,20 por kg.
O vereador Antonio Donato (PT) afirma que vai entrar com uma representação no Ministério Público Estadual contra a medida. "O prefeito está compensando a Nestlé, que, apesar do desconto, vai lucrar ao entregar num lugar só", diz.
Já o vereador Cláudio Fonseca (PPS), que preside o sindicato municipal dos profissionais em educação, elogia a medida. "É altamente positivo, pois tínhamos salas transformadas em depósitos de leite", afirma. "Se os profissionais voltarem para as crianças o tempo que gastavam com a entrega do leite, terá valido o custo."
O Leve Leite foi instituído na cidade ainda gestão Paulo Maluf (1993-1996). Trata-se de um programa de distribuição de leite em pó para crianças que frequentam 90% das aulas. A gestão Kassab afirma que a distribuição do produto tem o objetivo de "desonerar" os funcionários das escolas do serviço.
A Secretaria Municipal de Educação diz que, mesmo com a diferença entre o desconto dado no contrato da Nestlé e o que será pago aos Correios, a atual gestão gasta com o programa bem menos do que as administrações anteriores.
"A prefeitura chegou a pagar pelo leite Popó, há alguns anos, R$ 9,55. Um leite ruim, entregue nas escolas (cerca de 1.300 pontos de atendimento)", disse a secretaria à Folha.
"Hoje, o que a prefeitura está fazendo é pagar R$ 9,77 [somados gastos da Nestlé e dos Correios] por leite Ninho entregue em centenas de milhares de pontos, que são as casas de cerca de 800 mil alunos. Portanto, para oferecer um serviço de melhor qualidade, estão sendo gastos R$ 0,22 a mais."


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