São Paulo, sábado, 18 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE NO RIO
Antropólogo soube da demissão pela imprensa, em São Paulo
Garotinho fechou com a "banda podre", diz Soares

ALESSANDRO SILVA
da Reportagem Local

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

O governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PDT), "fechou" com a "banda podre" da polícia ao optar pela demissão do coordenador Luiz Eduardo Soares como forma de resolver a crise na área de segurança do Estado.
A análise é do próprio antropólogo exonerado, que soube da decisão do governador pela imprensa, em São Paulo.
""Ele preferiu me retirar e manter a aliança que fez. Eu o alertei muito sobre as implicações do acordo com o grupo Astra e com a banda podre", afirma.
O grupo Astra a que se refere Soares é formado por inspetores e detetives considerados na Polícia Civil como os mais implacáveis "caçadores de bandidos" do Rio.
O problema é que, atrelada à fama de competência profissional, existe no governo a suspeita de que seus integrantes costumam usar métodos ilegais de investigação e apuração. Também pesam sobre eles as acusações de extorquir dinheiros de criminosos e praticar sequestros de traficantes.
Segundo Soares, o governador autorizou em dezembro que pessoas desses grupos assumissem importantes cargos na Polícia Civil. O coordenador, na época, perdeu o chefe da Polícia Civil Carlos Alberto de Oliveira, segundo ele, ""fritado" pelos comandados.
A intenção de Garotinho, de acordo com Soares, era produzir resultados no combate aos criminosos. ""Sob a máscara da eficiência se aprofunda o crime."
Ele diz que na polícia não há possibilidade de acordos, principalmente com aqueles que querem impedir avanços e têm interesses escusos. ""Outros governos falharam com as alianças."
A banda podre, se contrariada, teria poderes para pressionar o governo com a ajuda da opinião pública. Para isso, bastaria minar as ações policiais e, de certa forma, reduzir o controle do crime.
O antropólogo acha difícil agora que as mudanças que vinham sendo implantadas no Estado tenham sucesso.

Poderes
Quem cunhou a expressão "banda podre" para se referir aos policiais suspeitos de envolvimento com o crime foi o ex-chefe de Polícia Civil Hélio Luz -hoje deputado estadual pelo PT e crítico ferrenho de Garotinho. Ontem, o governador disse que a expressão foi criada por ele em 1993.
Em 1995, ao assumir o cargo, Luz afastou os policiais da "banda pobre", delegando poder a novos delegados. Os novatos fracassaram e ele teve de convocar os desafetos ao trabalho.
Os convocados formaram o grupo Astra. Os dez integrantes eram ligados a equipes de delegados como Elson Campello, Antônio Nonato da Costa e Luiz Mariano, afastados do serviço sob suspeita de ligação com bicheiros.
Graças ao grupo Astra, foram presos os principais traficantes do Rio, como Uê, Robertinho de Lucas e Miltinho do Dendê.


Texto Anterior: A queda em cascata na Segurança Pública
Próximo Texto: "Barões" dominam delegacias
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.