São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2010

Próximo Texto | Índice

Favela "nasce" na região da avenida Paulista

Há quatro meses, campos de futebol abandonados passaram a ser ocupados e hoje já abrigam cerca de cem moradores

Cerca de 20 habitações foram improvisadas e já há ligações clandestinas de luz e água; vizinhos dizem que violência aumentou no local

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Antiga quadra esportiva na rua Vergueiro, na zona sul de SP, é ocupada por barracos feitos com madeira ou construídos em vestiários

JAMES CIMINO
DA REPORTAGEM LOCAL

A poucos metros do metrô Vergueiro, na rua de mesmo nome, um terreno de 12 mil m2, que há cerca de um ano abrigava dois campos de futebol society, virou uma favela.
Quando o complexo esportivo parou de funcionar, tinha um vigia que, de uma hora para a outra, sumiu, conta Pedro Sizilo Batista, 33, dono de oficina mecânica em frente ao local.
Abandonada, a área localizada perto da avenida Paulista, cujo metro quadrado vale cerca de R$ 550, virou um chamariz para moradores de rua. Há quatro meses, chegaram Denise Francis Santos de Oliveira, 31, e o pai, morto em dezembro. Como ninguém impediu novas invasões, a favela cresceu.
Hoje, cerca de cem pessoas moram em 20 habitações improvisadas com restos de madeira ou em estruturas de apoio das quadras de futebol, como vestiários e banheiros. E há mais gente se mudando. Inclusive foram feitas ligações clandestinas de luz e de água.
O Ipesp (Instituto de Previdência do Estado de São Paulo), proprietário do terreno, afirma que entrou na Justiça para retomar a área -mas não há prazo para que isso ocorra. Nos casos de reintegração de posse, a Polícia Militar tem de ser acionada para fazer a remoção.

Segurança
Os vizinhos da favela não estão nada satisfeitos e reclamam do aumento no número de assaltos após a invasão.
Rosana Tambara, 35, corretora de seguros, contratou um segurança particular para sua empresa. "Três funcionárias minhas foram assaltadas no caminho até o metrô. Geralmente são adolescentes que aproveitam os engarrafamentos na 23 de Maio e na Vergueiro para roubar bolsas e celulares."
"Se eles ainda pagassem pelo metro quadrado do terreno e pelo IPTU... Esses dias parou um caminhão de mudança ali na frente", diz Cláudia Gomes, 39, moradora que defende a remoção imediata da favela.
Além de Denise, ocupam a área moradores de rua expulsos de outras invasões, pensionistas que não podem mais pagar pela locação de quartos, catadores de material reciclável expulsos de baixo de viadutos e casais com tantos filhos cuja renda se torna insuficiente para pagar o aluguel de uma casa.
Um deles é Marcelo Antonio Silva Martins, 35, que sustenta mulher e sete filhos com um salário de cerca de R$ 600. Sem estudo, morava numa pensão que pegou fogo na rua Muniz de Sousa. Sentado com as filhas gêmeas recém-nascidas no colo, Martins sabe que logo terá de deixar o terreno e tem medo da violência da polícia. "Tenho medo por causa das crianças. As paredes do barraco são finas e não vão segurar as balas."
Também vizinho da favela, Caetano Pinilha, 29, da ONG cristã Projeto 242, acha que a remoção não resolverá o problema. "Eles vão ser problema para outras pessoas. O poder público precisa olhar por eles."


Próximo Texto: Instituto diz que já tomou providências
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.