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"Nunca tinha ouvido falar no Glauco", diz Iasi
Estudante que levou acusado à chácara do cartunista na quinta-feira passada reafirma que deixou local antes de assassinatos
Segundo ele, Carlos Eduardo Sundfeld Nunes afirmou, apontando-lhe uma arma, que precisava "ir ao Daime" para "resolver umas coisas"
LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Felipe de Oliveira Iasi, 23, estava em sua casa, preparando o
trabalho de conclusão de curso
na faculdade, quando Carlos
Eduardo Sundfeld Nunes ligou,
na quinta-feira passada.
O convite era para dar uma
volta e "fumar um cigarro de
maconha". Para não chamar a
atenção da mãe e da irmã, com
quem mora no apartamento
em Pinheiros (zona oeste de
São Paulo), deixou a televisão
do quarto ligada e saiu.
Iasi conduziu Nunes em seu
carro até a chácara de Glauco,
mas diz que foi sequestrado,
ameaçado com uma arma e que
fugiu antes dos assassinatos do
cartunista e de seu filho, Raoni.
Ontem, no escritório do seu
advogado, ele falou à Folha.
FOLHA - Como você conheceu o
Carlos Eduardo?
FELIPE IASI - Por um amigo do
colégio.
FOLHA - O que aconteceu na noite
de quinta-feira?
IASI - Fui buscá-lo, perguntei
da maconha e ele não falou nada. Depois, disse que era sequestro e que tinha que ir ao
Daime resolver umas coisas.
FOLHA - Ele disse o que tinha de resolver?
IASI - Não. Quando chegamos
ao sítio, ele começou a se equipar. Tinha muita bala e uma faca enorme.
FOLHA - Você sabia que aquela era
a casa do Glauco?
IASI - Eu nunca tinha ouvido
falar no Glauco. Não sabia que
ele era cartunista. Porque a minha geração não é de ler jornal.
FOLHA - Vocês chegaram a fumar o
cigarro de maconha?
IASI - Nem chegamos.
FOLHA - Vocês conversaram no caminho?
IASI - Ele não falava nada com
nada. Só dizia o seguinte: "Se
sair bala, você se abaixa e, se
morrer alguém, você chama a
polícia e diz que fui eu".
FOLHA - Como você fugiu?
IASI - Quando o Raoni chegou,
eles ficaram no quintal discutindo. No que eu vi que não estava sob a mira dele, fugi. Tinha
uma garota, que havia chegado
com o Raoni. Quando eu passei
pela menina, falei: "Chama a
polícia".
FOLHA - Por que você não chamou
a polícia?
IASI - Fiquei com medo de ele
vir à minha casa, ameaçar todo
mundo. Fiquei transtornado,
não sabia o que fazer. Pensei:
"Tomara que consigam acalmá-lo, que fique tudo bem".
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