São Paulo, Quinta-feira, 18 de Março de 1999
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TABAGISMO
Dependente nega perigo à própria saúde
Fumante não acredita em alertas sobre riscos

da Reportagem Local

Os fumantes sabem que o cigarro faz mal, mas acreditam que, com eles, nada vai acontecer. Para quem fuma, o risco para a saúde é sempre dos outros.
Duas pesquisas realizadas nos EUA apontam para o problema e mostram que a maioria dos fumantes não acredita estar sob mais risco de ter problemas do coração e de desenvolver diferentes tipos de câncer.
Um dos estudos, realizado por uma equipe da Faculdade de Medicina de Harvard, pesquisou 3.000 pessoas. Um quarto deles afirmou ser fumante. Desses, 60% disseram não acreditar no risco pessoal de ficar doente.
Em outro estudo, este publicado na revista da Associação Médica dos EUA, o resultado foi semelhante. De um grupo de 737 fumantes, só 29% disseram acreditar que os seus riscos pessoais são maiores em relação aos não-fumantes.
O secretário da Saúde, José Serra, disse na terça que quer tornar "menos sutis" a advertência sobre os perigos do cigarro. Atualmente, as propagandas e os maçso de cigarro vêm acompanhados de advertências sobre as doenças que o cigarro pode causar.
Segundo o pneumonologista José Roberto de Brito Jardim, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o fenômeno é bem conhecido. "Os fumantes realmente acham que com eles nada vai acontecer. Temos estudos feitos aqui em São Paulo que apontam para o mesmo tipo de conclusão. Mais de 60% dos fumantes têm vontade de largar o cigarro, mas muitos não conseguem", diz ele.
Ele diz que de cada dois fumantes, um vai morrer por doenças relacionadas ao cigarro. O médico diz ainda que os fumantes vivem dez anos menos que os não-fumantes, em média.
Segundo Jardim, a dependência do cigarro é tão difícil de superar como o vício por cocaína e outras drogas.
"É o mesmo mecanismo. O organismo do fumante sente falta da nicotina. Por isso, a dificuldade em deixar o vício. O tabagismo hoje é considerado uma doença e o dependente precisa de ajuda especializada para deixar de fumar."
Para o psiquiatra Ronaldo Laranjeira (Unifesp), o fumante sofre de um estado de "otimismo irreal", em que não avalia de forma correta o risco que corre adotando comportamentos considerados de risco, como o de fumar.
"As pessoas que vivem em situações consideradas de risco sempre tentam negar o risco. Um estudo realizado na Inglaterra com motoqueiros apontou um resultado semelhante. Os motoqueiros conseguiam apontar os riscos de usar uma motocicleta, mas não conseguiam identificar o mesmo risco em nível pessoal", afirmou.
Existem pelo menos 40 doenças relacionadas diretamente ao cigarro. Cânceres como o de pulmão, boca, esôfago, intestino, entre outros, além de doenças como aneurismas e derrames são mais comuns em quem fuma.


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