São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2001

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IBGE

60% das prefeituras arrecadam o imposto de apenas 60% dos seus imóveis e terrenos; 15% das cidades não cobram nada

Maioria dos municípios ignora IPTU

Alberto Cesar Araujo/Folha Imagem
Raimunda de Lima, 45, com seus filhos, em casa de Manaus; ela diz não ter dinheiro para o IPTU


ISABEL CLEMENTE
DA SUCURSAL DO RIO

Uma das principais fontes de receita direta dos municípios está sendo ignorada ou mal usada pela maioria das cidades brasileiras. Cerca de 60% das prefeituras arrecadaram, em 1998, IPTU de no máximo 60% dos imóveis e terrenos cadastrados. Quase 15% das cidades não arrecadaram nenhum centavo do imposto.
As informações constam da Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 1999, o mais amplo censo municipal já realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A pesquisa investigou temas como estrutura política, planejamento urbano, recursos para gestão, condições habitacionais, acesso a cultura e lazer, entre outros, nos 5.506 municípios do país existentes em 1999.
A arrecadação do IPTU é um dos dados mais impressionantes. Ela só se mostrou eficaz em 13% dos 4.529 municípios que prestaram informações sobre o tema ao IBGE, quando a arrecadação atingiu 80% ou mais dos imóveis cadastrados. Em uma de cada cinco prefeituras, o nível de arrecadação não passa de 20% dos imóveis cadastrados.
"Tem um pouco de ineficiência, mas não é só isso. Dependendo do município, nem vale a pena arrecadar, porque o custo da estrutura necessária não compensaria a receita", disse Antônio Carlos Alkmim, cientista político do IBGE. Os técnicos ainda acreditam que, dos 977 municípios que não entregaram dados sobre cobrança de IPTU, uma grande parte não recolha o imposto.
Para o conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Rio, Sérgio Quintella, o sistema de transferências de impostos federais e estaduais não estimula as prefeituras a correr atrás do próprio imposto. "O prefeito de um município pequeno não recolhe IPTU porque não quer ser impopular. É a lógica eleitoral", diz Quintella, que desenvolve um trabalho sobre o perfil econômico dos municípios fluminenses.
Para ele, os prefeitos optam por se virar com a receita das transferências do fundo de participação dos municípios e do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
Apesar de a eficiência na cobrança de IPTU ser melhor quanto maior for o município, há casos de perdas fiscais altas entre as 11 maiores cidades do país, com população superior a 1 milhão de habitantes. Um exemplo é Manaus, onde a arrecadação atingiu, em média, somente 26% dos imóveis cadastrados. No Rio, apesar de a abrangência do recolhimento em imóveis ser a maior entre as 11 maiores cidades, a cobrança em terrenos só chegou a pouco mais da metade (57,5%) das unidades.
Na avaliação da pesquisadora Vera Lúcia Corrêa, da Escola de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas, a Lei de Responsabilidade Fiscal tende a acabar, no médio prazo, com os casos de baixa arrecadação devido à leniência dos prefeitos.
Além disso, diz que, em alguns casos, é preciso levar em conta a baixa capacidade de a população pagar o imposto.
Ela explica ainda que o IPTU é um imposto de difícil fiscalização, que requer um cadastro atualizado e bem feito.
Muitos municípios também abrem mão do IPTU para atrair investimentos. Quase 2.000 prefeituras informaram, em 1999, terem feito isso.
A pesquisa também revelou que muitas prefeituras nem sequer tinham um plano de governo (64%) ou um plano diretor (65%), um contraste com o bom nível de informatização, que chegou a 89% nas folhas de pagamento. "Para mim, ficou a impressão do desaparelhamento geral, de instrumentos de gestão, de arrecadação de impostos e de cadastros necessários para isso", disse Aristides Lima, gerente da pesquisa.




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