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Mulher bate carro tanto quanto homem
Acidentes com elas, porém, são menos graves; dados de seguradora mostram que valor pago em indenizações a homens é maior
Seguradora australiana aponta colisões frontais e atropelamento como sinistros masculinos; já mulheres batem ao dar marcha a ré
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Quem dirige melhor, o homem ou a mulher?
Nos últimos anos, a crescente divulgação do fato de que as
companhias de seguro oferecem descontos para o público
feminino contribuiu para popularizar a noção de que elas
são motoristas mais capacitadas. Dependendo de como se
define "dirigir bem", são mesmo, mas a questão é mais complicada do que pode parecer.
Em números absolutos, é claro, os homens se envolvem em
muito mais acidentes. Só que
há muito mais motoristas do
sexo masculino que do feminino: quatro para uma.
Ajustando-se a proporção de
acidentes por gênero, o bolo fica bem dividido. De acordo
com uma grande seguradora no
Brasil, em 2009, para cada 100
sinistros com eles, foram registrados 100,4 com elas.
Só que o número de condutores não é o único reparo necessário. Em geral, as mulheres
também dirigem menos tempo
que os homens. Segundo a última pesquisa OD (Origem-Destino) do Metrô, de 2007, a população masculina da Grande
SP faz 68% mais viagens.
Dados internacionais corroboram essa diferença. Nos
EUA, os homens passam em
média uma hora por dia ao volante; as mulheres, 40 minutos.
Dividindo-se os acidentes
pela distância percorrida, o
quadro não é muito bom para
as mulheres: nos anos 90, as
norte-americanas envolviam-se em 5,7 sinistros por milhão
de milhas dirigidas, contra 5,1
dos homens, como mostrou recente reportagem do jornal
"The New York Times".
Se, mesmo pilotando menos
que os homens, as mulheres
brasileiras incorrem mais ou
menos na mesma proporção de
sinistros, por que as seguradoras -boas em contas- lhes dão
descontos em vez de puni-las
com prêmios mais altos?
A resposta está na gravidade
dos acidentes. Segundo a companhia consultada pela Folha,
para cada R$ 100 pagos em indenizações a homens em 2009,
a empresa gastou apenas R$
85,4 com mulheres.
Uma seguradora australiana
classifica colisões frontais, capotamentos e atropelamentos
como sinistros masculinos, enquanto os de perfil feminino
incluem bater em objetos e colisões de marcha a ré. A consequência de acidentes do primeiro grupo tende a ser pior.
Não é um acaso que a chance
de um homem se envolver em
acidente com morte seja entre
55% e 80% maior que a de uma
mulher (dado dos EUA).
A psicologia cognitiva explica
esse fenômeno em termos de
diferenças evolutivas. Embora
nem o homem nem a mulher
estejam biologicamente adaptados para dirigir veículos a mais
de 60 km/h, o sexo feminino,
em que pese sair-se pior em tarefas que envolvem percepção
espacial -daí problemas com
objetos estacionários-, costuma ter mais cautela.
Homens, por outro lado, tendem a desrespeitar os limites de
velocidade. Confiando em suas
habilidades, colocam-se muito
mais frequentemente em risco.
Voltando à pergunta inicial,
se a meta é conservar a lataria
do carro imaculada, então os
homens são de longe os melhores motoristas. Se o que importa, entretanto, é chegar vivo ao
destino, convém ter uma mulher ao volante.
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