São Paulo, domingo, 18 de abril de 2010

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Mulher bate carro tanto quanto homem

Acidentes com elas, porém, são menos graves; dados de seguradora mostram que valor pago em indenizações a homens é maior

Seguradora australiana aponta colisões frontais e atropelamento como sinistros masculinos; já mulheres batem ao dar marcha a ré

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Quem dirige melhor, o homem ou a mulher?
Nos últimos anos, a crescente divulgação do fato de que as companhias de seguro oferecem descontos para o público feminino contribuiu para popularizar a noção de que elas são motoristas mais capacitadas. Dependendo de como se define "dirigir bem", são mesmo, mas a questão é mais complicada do que pode parecer.
Em números absolutos, é claro, os homens se envolvem em muito mais acidentes. Só que há muito mais motoristas do sexo masculino que do feminino: quatro para uma.
Ajustando-se a proporção de acidentes por gênero, o bolo fica bem dividido. De acordo com uma grande seguradora no Brasil, em 2009, para cada 100 sinistros com eles, foram registrados 100,4 com elas.
Só que o número de condutores não é o único reparo necessário. Em geral, as mulheres também dirigem menos tempo que os homens. Segundo a última pesquisa OD (Origem-Destino) do Metrô, de 2007, a população masculina da Grande SP faz 68% mais viagens.
Dados internacionais corroboram essa diferença. Nos EUA, os homens passam em média uma hora por dia ao volante; as mulheres, 40 minutos.
Dividindo-se os acidentes pela distância percorrida, o quadro não é muito bom para as mulheres: nos anos 90, as norte-americanas envolviam-se em 5,7 sinistros por milhão de milhas dirigidas, contra 5,1 dos homens, como mostrou recente reportagem do jornal "The New York Times".
Se, mesmo pilotando menos que os homens, as mulheres brasileiras incorrem mais ou menos na mesma proporção de sinistros, por que as seguradoras -boas em contas- lhes dão descontos em vez de puni-las com prêmios mais altos?
A resposta está na gravidade dos acidentes. Segundo a companhia consultada pela Folha, para cada R$ 100 pagos em indenizações a homens em 2009, a empresa gastou apenas R$ 85,4 com mulheres.
Uma seguradora australiana classifica colisões frontais, capotamentos e atropelamentos como sinistros masculinos, enquanto os de perfil feminino incluem bater em objetos e colisões de marcha a ré. A consequência de acidentes do primeiro grupo tende a ser pior.
Não é um acaso que a chance de um homem se envolver em acidente com morte seja entre 55% e 80% maior que a de uma mulher (dado dos EUA).
A psicologia cognitiva explica esse fenômeno em termos de diferenças evolutivas. Embora nem o homem nem a mulher estejam biologicamente adaptados para dirigir veículos a mais de 60 km/h, o sexo feminino, em que pese sair-se pior em tarefas que envolvem percepção espacial -daí problemas com objetos estacionários-, costuma ter mais cautela.
Homens, por outro lado, tendem a desrespeitar os limites de velocidade. Confiando em suas habilidades, colocam-se muito mais frequentemente em risco.
Voltando à pergunta inicial, se a meta é conservar a lataria do carro imaculada, então os homens são de longe os melhores motoristas. Se o que importa, entretanto, é chegar vivo ao destino, convém ter uma mulher ao volante.


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