São Paulo, sábado, 18 de abril de 1998

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FLANELINHAS
Guardadores de carros chegam a cobrar até R$ 100 mensais para vigiar carros e reservar vagas para estudantes
Aluno paga por mês para estacionar na rua

ANDRÉ MUGGIATI
da Reportagem Local

Estudantes de faculdades de São Paulo estão pagando mensalidades para estacionar seus carros em locais próximos à faculdade.
As mensalidades em áreas próximas à PUC, em Perdizes, ou à Faap, no Pacaembu, chegam a custar até R$ 100.
Como "vantagem" para os alunos os "flanelinhas" -como são conhecidos os guardadores de carros-, oferecem serviço de manobrista e reservam vagas para os estudantes.
Na rua Bartira, perto da PUC, à noite, por exemplo, os alunos que pagam em média R$ 70 por mês deixam os carros com as chaves no contato para que os flanelinhas os coloquem em vagas que vierem a surgir. A mensalidade de um estacionamento na área da PUC e da Faap é, em média, de R$ 120.
A maioria dos alunos é contra a presença dos flanelinhas perto das faculdades.
"Eu não pago e já tive três carros roubados aqui perto da PUC", diz o presidente do centro acadêmico 22 de Agosto, da faculdade de Direito da PUC, Ricardo Handro. De acordo com Handro, os guardadores de carros fazem exigências e ameaçam os alunos que se recusam a pagar as mensalidades.
Alunos da Faap também se queixam de ameaças feitas pelos guardadores. Alguns alunos, entretanto, acham útil o trabalho dos flanelinhas. "Eu tenho confiança no meu guardador", diz José Martins Orso Júnior, que paga até R$ 100 por mês para deixar as chaves de seu carro com um flanelinha.
"Eu chego à noite, quando as aulas já começaram, e nem sempre tem vaga. É mais prático deixar a chave", diz Orso Júnior.
Alguns dos guardadores de carros que ficam perto da PUC concordaram em dar entrevista, mas não revelaram seus nomes.
Eles afirmam estar prestando um serviço aos alunos e dizem estar trabalhando como flanelinhas devido ao desemprego. Muitos alunos da PUC dizem que pagam aos flanelinhas devido ao medo de terem seus carros roubados.
Isso porque a universidade fica na área do 23º DP, que tem o quinto maior registro de roubos e furtos de automóveis na cidade, com média de 192 registros por mês, em 97. A média diária é de 6,4 roubos ou furtos.
A Secretaria de Estado da Segurança Pública diz que a área do DP é mais abrangente e que nem todos os roubos registrados acontecem próximos à universidade.
Os meses de janeiro, fevereiro e dezembro, em que não há aulas, são os que tiveram o menor número de ocorrências registradas.

Polícia

Para a Polícia Militar, o problema dos guardadores de carros nas proximidades das faculdades é crônico e de difícil solução.
A Polícia Militar é a responsável pelo policiamento preventivo e deveria coibir a ação dos flanelinhas que fazem ameaças aos estudantes para receber dinheiro.
"O que acontece é que os estudantes não colaboram", diz o tenente Mauro Rocha, subcomandante da Segunda Companhia do Quarto Batalhão, responsável pelo policiamento na área da PUC.
De acordo com Rocha, quando a PM prende algum guardador de carro, os estudantes se recusam a registrar queixa na delegacia, o que faz com que os flanelinhas voltem às ruas.
Nos três dias em que a reportagem da Folha percorreu as ruas próximas à PUC, de manhã, à tarde e à noite, nenhum policial foi visto. Os carros da PM que passaram pelo local, ignoraram a presença dos flanelinhas. "Quando nós nos aproximamos, eles somem", disse Rocha.



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