São Paulo, Domingo, 18 de Abril de 1999
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ÁREA SOCIAL EM CRISE
Prefeitura de São Paulo deixou de investir R$ 300 milhões do que estava previsto para a Saúde em 98
Faltam médicos, macas e remédios


AURELIANO BIANCARELLI
PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local

Sete da manhã da quinta-feira e Ivete Reginato, 47, é informada de que a mãe precisa de internação em um hospital psiquiátrico. Não há vagas no pronto-socorro do PAS de Santo Amaro, zona sul de São Paulo, onde um psiquiatra acaba de vê-las.
Às 18h, Ivete e a mãe, Nair, de 70 anos e com depressão grave, continuavam na mesma sala esperando por uma ambulância.
Na mesma quinta, do outro lado da cidade, na zona leste, Solange Souza, 33, conseguia que um médico visse seu filho Esdras, 9, num hospital do Estado, depois de três tentativas em postos de saúde do PAS.
"Mesmo com febre e feridas no rosto, diziam que não tinha vaga ou que eu devia procurar outro lugar", relatou a mãe.
Peregrinação e longas esperas são apenas alguns reflexos de um serviço de saúde desgastado por quedas no investimento e falta de atenção.
A rede municipal é a mais afetada.
A prefeitura tenta dar um segundo fôlego ao PAS, Plano de Assistência à Saúde, num momento em que a cidade vive em clima de denúncias, máfias e propinas.
O secretário municipal Jorge Roberto Pagura esforça-se por dissociar a imagem do PAS criado por Paulo Maluf (em 96) deste outro, que está reformulando.
O modelo PAS, que fez Maluf investir o dobro do que Erundina chegou a gastar na saúde, resultou numa dívida de R$ 160 milhões por parte das cooperativas e na redução dos gastos em saúde. No ano passado, do total de gastos previstos -R$ 1,12 bilhão- a Secretaria da Saúde só aplicou R$ 820 milhões.
Faltam médicos e, nos postos de saúde, há carência generalizada de medicamentos.
A instalação de um sistema que deu todo poder a um grupo de empresas -as cooperativas- vem se refletindo nos serviços e no atendimento à população.
O PS de Santo Amaro, com as janelas coladas na avenida, não tem centro cirúrgico e a sala de urgência tem duas macas. Chega a atender 2.000 pacientes por dia.
É o reflexo da desordem que reina nos postos de saúde do próprio PAS e mesmo do Estado.
"Mais de 50% dos que chegam aqui poderiam ser atendidos na unidade básica de saúde de seu bairro", diz a administradora Sueli Rodrigues Pranches.
O motorista Isaias Lino Marques, 30, mora ao lado de um posto do PAS no Jardim Ângela, onde sua mulher, grávida, poderia ser atendida.
"Lá nunca tem médico, nem no bairro vizinho, por isso a gente vem direto aqui."
Assim também acontece com Elisete Soares do Nascimento, que foi ao PS com dores na barriga e que poderia ter ido ao PAS do Parque do Lago, próximo de casa.
Muitas unidades que não pertencem ao PAS também não fogem dessa regra. Na tarde da quinta, o vendedor Reginaldo dos Santos, 32, só conseguiu engessar a perna fraturada no PS do PAS de Santo Amaro.
Antes -segundo ele- tinha passado pelo Hospital Regional Sul (administrado pelo governo estadual), que não quis atendê-lo, e pela Santa Casa de Santo Amaro, que não tinha raio X.
Na mesma zona sul da cidade, o ambulatório de especialidades do bairro da Pedreira, do PAS, reduziu o número de profissionais e o horário de atendimento.
"Chegou a ter três profissionais de cada especialidade quando foi aberto pela Luiza Erundina", diz Aracyr Gonçalves Kiss, que mora ao lado do ambulatório e é voluntária da Saúde.
"Quando o PAS foi implantado aqui, pintaram a fachada, aumentaram ainda mais o número de médicos e atendiam até as 10 da noite. Agora fecham às 7 da noite, não fazem pré-natal e reduziram o número de médicos pela metade."


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