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ÁREA SOCIAL EM CRISE
Prefeitura de São Paulo deixou de investir R$ 300 milhões do que estava previsto para a Saúde em 98
Faltam médicos, macas e remédios
AURELIANO BIANCARELLI
PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local
Sete da manhã da quinta-feira e
Ivete Reginato, 47, é informada de
que a mãe precisa de internação
em um hospital psiquiátrico. Não
há vagas no pronto-socorro do
PAS de Santo Amaro, zona sul de
São Paulo, onde um psiquiatra
acaba de vê-las.
Às 18h, Ivete e a mãe, Nair, de 70
anos e com depressão grave, continuavam na mesma sala esperando
por uma ambulância.
Na mesma
quinta, do outro lado da cidade, na zona
leste, Solange
Souza, 33, conseguia que um
médico visse
seu filho Esdras, 9, num
hospital do Estado, depois de
três tentativas
em postos de saúde do PAS.
"Mesmo com febre e feridas no
rosto, diziam que não tinha vaga
ou que eu devia procurar outro lugar", relatou a mãe.
Peregrinação e longas esperas
são apenas alguns reflexos de um
serviço de saúde desgastado por
quedas no investimento e falta de
atenção.
A rede municipal é a mais afetada.
A prefeitura tenta dar um segundo fôlego ao PAS, Plano de Assistência à Saúde, num momento em
que a cidade vive em clima de
denúncias, máfias e propinas.
O secretário
municipal Jorge Roberto Pagura esforça-se
por dissociar a
imagem do
PAS criado por
Paulo Maluf
(em 96) deste
outro, que está reformulando.
O modelo PAS, que fez Maluf investir o dobro do que Erundina
chegou a gastar na saúde, resultou
numa dívida de R$ 160 milhões por
parte das cooperativas e na redução dos gastos em saúde. No ano
passado, do total de gastos previstos -R$ 1,12 bilhão- a Secretaria
da Saúde só aplicou R$ 820 milhões.
Faltam médicos e, nos postos de
saúde, há carência generalizada de
medicamentos.
A instalação de um sistema que
deu todo poder a um grupo de empresas -as cooperativas- vem se
refletindo nos serviços e no atendimento à população.
O PS de Santo Amaro, com as janelas coladas na avenida, não tem
centro cirúrgico e a sala de urgência tem duas macas. Chega a atender 2.000 pacientes por dia.
É o reflexo da desordem que reina nos postos de saúde do próprio
PAS e mesmo do Estado.
"Mais de 50% dos que chegam
aqui poderiam ser atendidos na
unidade básica de saúde de seu
bairro", diz a administradora Sueli
Rodrigues Pranches.
O motorista Isaias Lino Marques, 30, mora
ao lado de um
posto do PAS
no Jardim Ângela, onde sua
mulher, grávida, poderia ser
atendida.
"Lá nunca
tem médico,
nem no bairro
vizinho, por isso a gente vem
direto aqui."
Assim também acontece com
Elisete Soares do Nascimento, que
foi ao PS com dores na barriga e
que poderia ter ido ao PAS do Parque do Lago, próximo de casa.
Muitas unidades que não pertencem ao PAS também não fogem
dessa regra. Na tarde da quinta, o
vendedor Reginaldo dos Santos,
32, só conseguiu engessar a perna
fraturada no PS do PAS de Santo
Amaro.
Antes -segundo ele- tinha
passado pelo Hospital Regional
Sul (administrado pelo governo estadual), que não
quis atendê-lo,
e pela Santa
Casa de Santo
Amaro, que
não tinha raio
X.
Na mesma
zona sul da cidade, o ambulatório de especialidades do bairro
da Pedreira, do PAS, reduziu o número de profissionais e o horário
de atendimento.
"Chegou a ter três profissionais
de cada especialidade quando foi
aberto pela Luiza Erundina", diz
Aracyr Gonçalves Kiss, que mora
ao lado do ambulatório e é voluntária da Saúde.
"Quando o PAS foi implantado
aqui, pintaram a fachada, aumentaram ainda mais o número de médicos e atendiam até as 10 da noite.
Agora fecham às 7 da noite, não fazem pré-natal e reduziram o número de médicos pela metade."
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