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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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EDUCAÇÃO

Universidade de Michigan, que adota a prática na seleção, será julgada no mês que vem; professora defende o sistema

Nos EUA, critério racial vai à Suprema Corte

DA SUCURSAL DO RIO

No Brasil e nos Estados Unidos, a política de ação afirmativa -um dos meios sugeridos pelos pesquisadores da PUC para diminuir a desigualdade no ensino- está sendo posta em xeque por parte da sociedade.
No Brasil, a polêmica está no sistema de cotas raciais e de reserva de vagas para alunos da escola pública implementado pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), que está sendo contestado judicialmente no STF (Supremo Tribunal Federal).
Nos Estados Unidos, onde as maiores universidades adotam políticas de ações afirmativas há mais de 30 anos, o centro da polêmica está na Universidade de Michigan, cujo sistema de admissão levando em conta critérios raciais está sendo contestado na Suprema Corte daquele país.
O caso de Michigan, com julgamento previsto para o mês que vem, pode obrigar quase todas as universidades de grande porte dos EUA a reverem suas políticas de ações afirmativas.
O caso é tão polêmico que dividiu opiniões dentro do governo americano. O presidente George W. Bush criticou o critério adotado pela universidade, enquanto o secretário de Estado, Colin Powel, saiu em defesa.
A professora da Faculdade de Educação de Michigan Valerie Lee participou no início deste mês de um debate no Rio sobre ações afirmativas e defendeu o sistema de sua universidade.
Nos Estados Unidos, o estabelecimento de cotas -como acontece hoje na Uerj- é ilegal, mas as universidades podem levar em conta outros critérios, além dos testes, no processo de seleção de um estudante.
Lee explicou que, na Universidade de Michigan, alunos negros, hispânicos ou que são bons atletas ganham pontos a mais no processo seletivo, que são somados aos pontos obtidos nos testes.
Segundo Lee, a diversidade étnica nos campi das mais concorridas universidades norte-americanas é uma política voluntária dessas instituições.
"Não somos obrigados a estipular esses critérios. Acho que as universidades procuram a diversidade porque, nos EUA, muitas empresas grandes incentivam a diversidade no trabalho. Por fazerem isso, elas querem empregados que, de preferência, já tenham convivido na universidade com políticas de ações afirmativas", afirmou Lee à Folha.
Ela afirma, no entanto, que nenhuma universidade concorrida aceita abrir mão totalmente do critério acadêmico na admissão de estudantes de minorias. "É por isso que estudantes de minorias com bom desempenho nos testes são tão disputados pelas universidades", disse.
A ação contra a Universidade de Michigan, assim como a ação contra a Uerj, foi movida por estudantes brancos que não se classificaram nos testes por não terem preenchido nenhum dos critérios de ação afirmativa.
Lee reconhece que as ações afirmativas são injustas com esses estudantes excluídos.
"As vantagens das ações afirmativas são óbvias, pois elas aumentam a presença de minorias nas melhores universidades. Mas não há dúvida de que elas sejam injustas com os que não conseguem entrar na universidade apesar de terem notas para isso", afirmou.
Apesar dessa injustiça, ela defende as ações afirmativas. "Essa política existe porque queremos construir uma igualdade racial. É preciso continuar porque ainda não chegamos a esse ponto, mas, se não fossem as ações afirmativas, dificilmente hoje teríamos um secretário de Estado negro."


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