São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2005

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ARTE MODERNA

Prefeitura cobriu só os trechos pichados com tinta cor de concreto; moradores, que deverão repintar muros, atacam ação

Plano antipichação tem início com críticas

LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

No lugar de marcas de pichação, manchas cor de concreto cobrem os muros de um trecho da rua Cardeal Arcoverde, no bairro de Pinheiros, zona oeste paulistana.
O projeto Antipichação da Prefeitura de São Paulo foi lançado ontem e surpreendeu os moradores que esperavam ver os muros limpos. "O que eles estão fazendo está horrível, porque só estão cobrindo [a pichação] com outra cor", reclamou o comerciante Emerson Bonfim Correia, dono do bar e café Arrastão, cujo muro, de cor azul, foi o primeiro a ter a pichação retirada com pinceladas de tinta cor de concreto.
Sem acreditar que a atitude evitará a ação dos pichadores, Correia disse que vai pintar o muro de azul, mas não insistirá caso seu imóvel seja pichado novamente.
Para o marceneiro Almir Teixeira, a medida não mudou muito a aparência do muro e ainda atrapalhou o negócio. "Pintaram até a seta", comentou, referindo-se a um anúncio que havia na parede com a palavra "móveis" e uma seta indicando a entrada da loja.
Foram cobertas com tinta as manchas de pichação de 26 imóveis, além do cemitério São Paulo, localizados na Cardeal entre a rua Fradique Coutinho e a avenida Dr. Arnaldo. A medida foi previamente autorizada pelos donos dos imóveis, que assinaram um termo de adesão ao projeto.
Segundo o secretário de Subprefeituras, Walter Feldman, o objetivo é coibir a ação de pichadores com a limpeza das marcas. "Em hipótese nenhuma vamos pintar o muro dos proprietários privados", disse, acrescentando que a prefeitura espera que a população colabore com o projeto, refazendo a pintura de suas casas.
Segundo Feldman, se o poder público realizasse a pintura dos imóveis privados, a medida poderia ser questionada pelo Tribunal de Contas e pelo Ministério Público. A cor da tinta foi escolhida por ser um tom forte capaz de cobrir as marcas da pichação.
O cemitério, que também teve pichações cobertas, será repintado pela prefeitura por ser público.
A idéia da secretaria é cobrir diariamente a pichação para evitar reincidência. Futuramente, o projeto irá para outros bairros.
Oito policiais militares farão rondas na área e encaminharão os pichadores para a delegacia. Os adolescentes só serão liberados com a presença dos pais. Eles podem ser convocados a ajudar na limpeza dos muros.
Segundo Feldman, o projeto tentará também identificar os jovens pichadores e encaminhá-los a associações de grafiteiros ou cursos profissionalizantes.

Pouco eficiente
Para o urbanista Candido Malta Campos, cobrir as pichações é uma solução imediata e pouco eficaz que não atinge diretamente o problema. "A emenda sai pior que o soneto. A pintura pode sair mais feia que a pichação", afirmou. Ele acredita que a solução para uma melhor paisagem urbana deveria ser discutida com os moradores e lojistas da área.
Uma atitude que pode ser adotada, segundo ele, é a cobertura vegetal de muros. Quanto aos pichadores, para ele, o melhor é investir em um trabalho social.
Para o artista plástico Marcelo Cidade, a atitude da prefeitura é semelhante à dos pichadores. "Eles também estão deixando a marca deles lá." Segundo Cidade, pintar os muros e pôr policiamento na área não impedirá que os pichadores voltem a agir e pode até incentivar mais ações. "Tem pichador que está feliz com a atitude da prefeitura porque terá mais espaço novo para pintar."


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