|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTE MODERNA
Prefeitura cobriu só os trechos pichados com tinta cor de concreto; moradores, que deverão repintar muros, atacam ação
Plano antipichação tem início com críticas
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
No lugar de marcas de pichação,
manchas cor de concreto cobrem
os muros de um trecho da rua
Cardeal Arcoverde, no bairro de
Pinheiros, zona oeste paulistana.
O projeto Antipichação da Prefeitura de São Paulo foi lançado
ontem e surpreendeu os moradores que esperavam ver os muros
limpos. "O que eles estão fazendo
está horrível, porque só estão cobrindo [a pichação] com outra
cor", reclamou o comerciante
Emerson Bonfim Correia, dono
do bar e café Arrastão, cujo muro,
de cor azul, foi o primeiro a ter a
pichação retirada com pinceladas
de tinta cor de concreto.
Sem acreditar que a atitude evitará a ação dos pichadores, Correia disse que vai pintar o muro de
azul, mas não insistirá caso seu
imóvel seja pichado novamente.
Para o marceneiro Almir Teixeira, a medida não mudou muito
a aparência do muro e ainda atrapalhou o negócio. "Pintaram até a
seta", comentou, referindo-se a
um anúncio que havia na parede
com a palavra "móveis" e uma seta indicando a entrada da loja.
Foram cobertas com tinta as
manchas de pichação de 26 imóveis, além do cemitério São Paulo,
localizados na Cardeal entre a rua
Fradique Coutinho e a avenida
Dr. Arnaldo. A medida foi previamente autorizada pelos donos
dos imóveis, que assinaram um
termo de adesão ao projeto.
Segundo o secretário de Subprefeituras, Walter Feldman, o
objetivo é coibir a ação de pichadores com a limpeza das marcas.
"Em hipótese nenhuma vamos
pintar o muro dos proprietários
privados", disse, acrescentando
que a prefeitura espera que a população colabore com o projeto,
refazendo a pintura de suas casas.
Segundo Feldman, se o poder
público realizasse a pintura dos
imóveis privados, a medida poderia ser questionada pelo Tribunal
de Contas e pelo Ministério Público. A cor da tinta foi escolhida por
ser um tom forte capaz de cobrir
as marcas da pichação.
O cemitério, que também teve
pichações cobertas, será repintado pela prefeitura por ser público.
A idéia da secretaria é cobrir
diariamente a pichação para evitar reincidência. Futuramente, o
projeto irá para outros bairros.
Oito policiais militares farão
rondas na área e encaminharão os
pichadores para a delegacia. Os
adolescentes só serão liberados
com a presença dos pais. Eles podem ser convocados a ajudar na
limpeza dos muros.
Segundo Feldman, o projeto
tentará também identificar os jovens pichadores e encaminhá-los
a associações de grafiteiros ou
cursos profissionalizantes.
Pouco eficiente
Para o urbanista Candido Malta
Campos, cobrir as pichações é
uma solução imediata e pouco eficaz que não atinge diretamente o
problema. "A emenda sai pior
que o soneto. A pintura pode sair
mais feia que a pichação", afirmou. Ele acredita que a solução
para uma melhor paisagem urbana deveria ser discutida com os
moradores e lojistas da área.
Uma atitude que pode ser adotada, segundo ele, é a cobertura
vegetal de muros. Quanto aos pichadores, para ele, o melhor é investir em um trabalho social.
Para o artista plástico Marcelo
Cidade, a atitude da prefeitura é
semelhante à dos pichadores.
"Eles também estão deixando a
marca deles lá." Segundo Cidade,
pintar os muros e pôr policiamento na área não impedirá que
os pichadores voltem a agir e pode até incentivar mais ações.
"Tem pichador que está feliz com
a atitude da prefeitura porque terá
mais espaço novo para pintar."
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Transporte: Investigado por garantias falsas, diretor da SPTrans é afastado Índice
|