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GUERRA URBANA /NEGOCIAÇÃO
Nagashi Furukawa, da Administração Penitenciária, reconhece que integrantes da facção receberam 28 aparelhos pelos Correios
Governo recebeu TVs do PCC sem nota
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo do Estado admitiu
ontem ter dado permissão para
que vários integrantes da facção
criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) recebessem,
em dois lotes, 28 televisores, da
marca CCE e de 14 polegadas, em
suas celas na Penitenciária de
Avaré (262 km de SP).
Detalhes importantes admitidos ontem pelo próprio secretário
da Administração Penitenciária
Nagashi Furukawa: nenhum dos
aparelhos tinha nota fiscal que
comprovasse a sua origem e todos
foram enviados por um só remetente, via serviço dos Correios.
Todas as televisões adquiridas
pela facção, que arrecada dinheiro com a cobrança de mensalidade de criminosos em liberdade
(R$ 500) e presos (R$ 50), foram
distribuídas para os integrantes
do grupo que estavam no raio
(pavilhão) 2 da prisão de Avaré.
O PCC também recebe "participação nos lucros" de outros crimes praticados pelos integrantes
da facção, como roubos de cargas,
empresas e também a contribuição de traficantes.
A maior parte dos agraciados
com o brinde dado pelo PCC era
de detentos recém-saídos do CRP
(Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes
(589 km de SP), onde vigora o
RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) e para onde vão os que
têm de cumprir castigo no sistema prisional.
A chegada dos televisores pelo
correio, enviados por um só remetente, chamou a atenção do diretor do presídio de Avaré, Fernando José Tomazella da Silva.
Depois de anotar os números de
cada um dos aparelhos e copiar os
recibos de entrega do correio, Silva repassou os documentos à Polícia Civil da cidade para tentar
descobrir a origem dos aparelhos,
mas isso não aconteceu até hoje,
segundo admitiu a Secretaria da
Administração Penitenciária.
Nas outras unidades prisionais,
o procedimento mais comum para a entrada de um aparelho destinado a um detento sempre foi
vinculado à apresentação da nota
fiscal que comprove sua origem.
TVs para a área comum
A Secretaria da Administração
Penitenciária informou ontem,
por nota oficial, que em todas as
prisões, com exceção das que funcionam em regime de RDD, os
presos têm televisores em suas celas e que os aparelhos são levados
por seus familiares.
O órgão também informou que,
há 20 dias, recebeu um pedido dos
presos -sem especificar exatamente quem- para que fossem
instalados aparelhos nas áreas comuns dos presídios, desde que os
próprios presidiários conseguissem adquirir os aparelhos.
Em entrevista na terça-feira, o
secretário Furukawa disse "não
ver mal nenhum [na liberação dos
televisores] e que liberou os aparelhos em locais dos presídios que
não afetavam o andamento normal das cadeias".
Até então, suspeitava-se que o
PCC exigia a entrada de 60 televisores, todos eles de plasma. O secretário negou, no entanto, que
esses aparelhos de TV façam parte de uma negociação com líderes
da facção para que ataques em
São Paulo fossem encerrados.
Na chegada dos aparelhos no
presídio de Avaré, o líder máximo
do PCC, Marcos Willians Herbas
Camacho, o Marcola, e o restante
da cúpula da facção, estavam naquela prisão.
(ANDRÉ CARAMANTE e GILMAR PENTEADO)
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