São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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Fabricante de remédio nega interferência

Representante da indústria diz que paciente tem consciência de que ele vai "pagar a conta" se houver quebra de patente

Por causa da crítica à relação entre empresas e entidades de doentes, Roche afirma que divulgará na internet transferências de dinheiro

DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria farmacêutica não vê conflito de interesses entre o fato de associações de pacientes serem financiadas por laboratórios e, ao mesmo tempo, apoiarem causas defendidas por essas instituições, como a questão das patentes.
Para Gabriel Tannus, presidente da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa), as organizações de pacientes têm responsabilidade e autonomia suficientes para separarem a ajuda financeira dos interesses dos doentes que representam.
"Algumas ONGs também recebem dinheiro do governo. Se receber dinheiro da indústria representa um conflito, então também haveria conflito com as ONGs que recebem dinheiro do governo e defendem seus pontos de vista", argumenta.
Na opinião dele, a questão das patentes de medicamentos também é de interesse dos pacientes. "Não houve iniciativa da indústria em promover esse debate [sobre a proteção às patentes de remédios] com pacientes. Mas, quando eles vêem as ameaças que existem, como o licenciamento compulsório, eles sabem que, se não cuidarem, vão pagar a conta."
Tannus defende a relação de parceria dos laboratórios farmacêuticos com as associações de pacientes. "É legítima, mas tem que existir a preocupação em definir qual o escopo de ajuda e que tudo seja feito com transparência."
Segundo ele, nos últimos anos, as indústrias têm divulgado o destino de suas contribuições financeiras para as associações de pacientes. "O nosso código de conduta não proíbe que as companhias ajudem as ONGs. Partimos do princípio de que as associações de pacientes foram criadas com a finalidade de apoiar, educar e ajudar o paciente para que ele tenha a sua doença diagnosticada e tratada corretamente."
Um dos laboratórios que vêm adotando ações de transparência em relação às entidades de pacientes é a Roche, que ajuda financeiramente sete das nove organizações citadas no relatório da Essential Action. Em 2007, a empresa informa ter investido R$ 1,72 milhão em 69 projetos de 49 organizações sociais de pacientes. Desses projetos, três envolveram patrocínios em torno de R$ 230 mil.
Segundo João Carlos Ferreira, diretor de operações comerciais da Roche, a empresa tem diretrizes internacionais que estabelecem que os valores sejam definidos em um contrato por um projeto específico. A partir deste ano, a empresa passará a divulgar na internet os contratos e os valores repassados às associações.
"Tornou-se um questionamento público se o que a gente faz junto a essas entidades é ético ou não. A gente acredita que seja ético e, por isso, tem que publicar para não deixar dúvidas", afirma Ferreira.
A maior parte dos patrocínios, explica o diretor, é referente a campanhas, cartilhas e outras publicações sobre determinadas doenças, como Parkinson. "A gente acredita que, se a Roche for simpática aos pacientes de Parkinson, quando eles receberem a receita de um produto da Roche, eles vão recebê-la com simpatia. O ganho é de imagem institucional."
Para Ferreira, é muito freqüente as organizações de pacientes procurarem os laboratórios em busca de parcerias. "É normal procurarem quem tenha interesse em colocar dinheiro no projeto. Inevitavelmente, elas vão chegar a nós. A quantidade de ONGs que recebem um "não" é muito maior das que recebem um "sim"."

Ações
Gabriel Tannus também diz desconhecer qualquer indício de que laboratórios farmacêuticos estejam incentivando ONGs de pacientes a ingressar com ações judiciais para a obtenção de medicamentos, como sugerem gestores de saúde e uma investigação em curso.
"Tem que ser investigado se existe algum fundamento nessas denúncias porque, se essa questão fica no ar, todo mundo fica sob suspeita. Quem é inocente vira o demônio da história", afirma. (CLÁUDIA COLLUCCI)


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