|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Fabricante de remédio nega interferência
Representante da indústria diz que paciente tem consciência de que ele vai "pagar a conta" se houver quebra de patente
Por causa da crítica à relação entre empresas e entidades de doentes, Roche afirma que divulgará na internet transferências de dinheiro
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria farmacêutica não
vê conflito de interesses entre o
fato de associações de pacientes serem financiadas por laboratórios e, ao mesmo tempo,
apoiarem causas defendidas
por essas instituições, como a
questão das patentes.
Para Gabriel Tannus, presidente da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica
de Pesquisa), as organizações
de pacientes têm responsabilidade e autonomia suficientes
para separarem a ajuda financeira dos interesses dos doentes que representam.
"Algumas ONGs também recebem dinheiro do governo. Se
receber dinheiro da indústria
representa um conflito, então
também haveria conflito com
as ONGs que recebem dinheiro
do governo e defendem seus
pontos de vista", argumenta.
Na opinião dele, a questão
das patentes de medicamentos
também é de interesse dos pacientes. "Não houve iniciativa
da indústria em promover esse
debate [sobre a proteção às patentes de remédios] com pacientes. Mas, quando eles vêem
as ameaças que existem, como
o licenciamento compulsório,
eles sabem que, se não cuidarem, vão pagar a conta."
Tannus defende a relação de
parceria dos laboratórios farmacêuticos com as associações
de pacientes. "É legítima, mas
tem que existir a preocupação
em definir qual o escopo de ajuda e que tudo seja feito com
transparência."
Segundo ele, nos últimos
anos, as indústrias têm divulgado o destino de suas contribuições financeiras para as associações de pacientes. "O nosso
código de conduta não proíbe
que as companhias ajudem as
ONGs. Partimos do princípio
de que as associações de pacientes foram criadas com a finalidade de apoiar, educar e
ajudar o paciente para que ele
tenha a sua doença diagnosticada e tratada corretamente."
Um dos laboratórios que vêm
adotando ações de transparência em relação às entidades de
pacientes é a Roche, que ajuda
financeiramente sete das nove
organizações citadas no relatório da Essential Action. Em
2007, a empresa informa ter investido R$ 1,72 milhão em 69
projetos de 49 organizações sociais de pacientes. Desses projetos, três envolveram patrocínios em torno de R$ 230 mil.
Segundo João Carlos Ferreira, diretor de operações comerciais da Roche, a empresa tem
diretrizes internacionais que
estabelecem que os valores sejam definidos em um contrato
por um projeto específico. A
partir deste ano, a empresa passará a divulgar na internet os
contratos e os valores repassados às associações.
"Tornou-se um questionamento público se o que a gente
faz junto a essas entidades é ético ou não. A gente acredita que
seja ético e, por isso, tem que
publicar para não deixar dúvidas", afirma Ferreira.
A maior parte dos patrocínios, explica o diretor, é referente a campanhas, cartilhas e
outras publicações sobre determinadas doenças, como Parkinson. "A gente acredita que,
se a Roche for simpática aos pacientes de Parkinson, quando
eles receberem a receita de um
produto da Roche, eles vão recebê-la com simpatia. O ganho
é de imagem institucional."
Para Ferreira, é muito freqüente as organizações de pacientes procurarem os laboratórios em busca de parcerias.
"É normal procurarem quem
tenha interesse em colocar dinheiro no projeto. Inevitavelmente, elas vão chegar a nós. A
quantidade de ONGs que recebem um "não" é muito maior
das que recebem um "sim"."
Ações
Gabriel Tannus também diz
desconhecer qualquer indício
de que laboratórios farmacêuticos estejam incentivando
ONGs de pacientes a ingressar
com ações judiciais para a obtenção de medicamentos, como sugerem gestores de saúde
e uma investigação em curso.
"Tem que ser investigado se
existe algum fundamento nessas denúncias porque, se essa
questão fica no ar, todo mundo
fica sob suspeita. Quem é inocente vira o demônio da história", afirma.
(CLÁUDIA COLLUCCI)
Texto Anterior: Entidades dizem manter independência Próximo Texto: Danuza Leão Índice
|