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VÍCIO
Índice foi constatado na escola estadual Alves Cruz, onde há laboratório de psiquiatras que analisam distúrbios de alunos
65% de alunos de escola pública bebem
GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial
RENATO KRAUSZ
da Reportagem Local
Transformada num laboratório
de psiquiatras da USP para investigar distúrbios de estudantes, a escola pública estadual Alves Cruz
revela que 65% de seus alunos
usam álcool com frequência.
Os pesquisadores descobriram
que o uso do álcool está associado
aos mais variados riscos de vida,
da violência ao sexo inseguro.
Conduzida pelo Departamento
de Psiquiatria da Faculdade de Medicina, a pesquisa capta um fenômeno nacional: o crescente aumento de consumo de bebida entre estudantes. "Os pais têm um
comportamento estranho. Morrem de medo da maconha, mas
não se incomodam quando os filhos se embebedam", afirma Sílvia Gouveia, coordenadora pedagógica da Associação das Escolas
Particulares de São Paulo.
Nas reuniões dos diretores das
escolas privadas, segundo ela,
sempre surgem relatos sobre festas
de estudantes que acabam em internações hospitalares.
Mas, nas escolas particulares, em
geral, existe uma recusa em admitir as ocorrências para não afetar a
imagem. Pela primeira vez em 50
anos, o problema do álcool nas escolas vai fazer parte do temário de
um congresso da Confen (Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino), que ocorre em
setembro no Anhembi.
"A bebida virou o principal
atrativo das festas de grêmios",
diz a psiquiatra Sandra Scivoletto,
coordenadora-executiva do Grea
(Grupo Interdisciplinar de Estudos sobre Álcool e Droga), da USP.
A psicopedagoga Cybele Weinberg aprendeu um truque sobre
como os alunos disfarçam o hálito
da bebida: usam vodca.
A mais completa investigação
sobre consumo de bebidas nas escolas é a pesquisa da Universidade
Federal de São Paulo, que faz levantamento com 15 mil estudantes
desde 1986.
Realizada pelo Cebrid (Centro
Brasileiro de Informações sobre
Drogas Psicotrópicas), a última
versão, concluída no ano passado,
indica que pelo menos 15% dos estudantes sejam consumidores
abusivos.
"Constatamos que a idade do
consumidor está caindo", afirma
Elisaldo Carlini, chefe do Cebrid.
De acordo com o levantamento,
metade dos alunos entre 10 e 12
anos já beberam. Do total, 30% já
ficaram totalmente bêbados. Depois de beber, 11% dos estudantes
brigaram e 20% faltaram às aulas.
"Nenhuma droga é mais devastadora do que a bebida", afirma
Carlini. Ela é responsável por 90%
das internações hospitalares por
dependência; está no sangue de
70% das vítimas de morte violenta.
"A verdade é que existe tolerância", sustenta Artur Guerra, coordenador do Grea. Essa tolerância
vai, segundo ele, transformando
bebedores eventuais em frequentes, até produzir o alcoólatra.
Guerra coordena levantamentos
sobre consumo de álcool entre
universitários. "Nas festas, o coma alcoólico tem se transformado
em fato normal." Pesquisas coordenadas por Guerra mostram que,
dos estudantes da USP no interior,
73,4% bebem frequentemente. Na
capital, são 74,1%.
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