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São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2003

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ATIVISMO

Segundo militantes, reações adversas provocadas por remédios anti-Aids são subestimadas

Congresso aborda danos de coquetel

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Por onde anda, Beto Volpe, 41, carrega num vidro a cabeça de seu próprio fêmur "apodrecido" em consequência da Aids e/ou dos remédios que vem tomando. Com 14 anos da doença, Volpe é um exemplo de quem se salvou com as drogas e que pode estar pagando o preço de seus efeitos adversos.
Sofre também com colesterol e triglicérides altos e lipodistrofias -gorduras que se concentram na barriga e no peito e desaparecem das pernas, braços e rosto.
"Ficamos deformados", diz Volpe, que preside a ONG Hipupiara, de Santos, e que ontem coordenou uma mesa sobre efeitos colaterais no 1º Congresso Santista de Aids e Hepatites.
"Há mulheres com Aids entrando na menopausa com 25 anos." O médico Caio Rosenthal diz que tem "histórias tristes" de homens que "não olham mais para suas mulheres", tão deformadas elas ficaram.
Mario Scheffer, do Grupo pela Vidda, estima que 30% das 140 mil pessoas que usam o coquetel sofrem efeitos adversos graves.
No manifesto divulgado ontem em São Paulo por representantes de 500 ONGs-Aids, os assinantes lembram que os "efeitos colaterais têm sido subestimados". Os militantes participam do 12º Encontro Nacional de ONGs-Aids e fizeram um ato na praça da República. O documento lembra que a epidemia continua crescendo no país, especialmente entre os mais pobres, causando 10 mortes e 70 novas infecções a cada dia.
A carta, que reconhece os "avanços da resposta brasileira no combate à Aids", critica o déficit de leitos e a demora nos exames. Critica também o "descaso" quanto aos presídios, a transmissão de mãe para filho e as campanhas de prevenção, "insuficientes e passageiras".
O documento também traz uma questão crucial para as ONGs nesse momento, diz Scheffer: "A necessidade de não se conformar com os ganhos e não abrir mão do ativismo".


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