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ATIVISMO
Segundo militantes, reações adversas provocadas por remédios anti-Aids são subestimadas
Congresso aborda danos de coquetel
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Por onde anda, Beto Volpe, 41,
carrega num vidro a cabeça de
seu próprio fêmur "apodrecido"
em consequência da Aids e/ou
dos remédios que vem tomando. Com 14 anos da doença, Volpe é um exemplo de quem se salvou com as drogas e que pode
estar pagando o preço de seus
efeitos adversos.
Sofre também com colesterol e
triglicérides altos e lipodistrofias
-gorduras que se concentram
na barriga e no peito e desaparecem das pernas, braços e rosto.
"Ficamos deformados", diz
Volpe, que preside a ONG Hipupiara, de Santos, e que ontem
coordenou uma mesa sobre efeitos colaterais no 1º Congresso
Santista de Aids e Hepatites.
"Há mulheres com Aids entrando na menopausa com 25
anos." O médico Caio Rosenthal
diz que tem "histórias tristes" de
homens que "não olham mais
para suas mulheres", tão deformadas elas ficaram.
Mario Scheffer, do Grupo pela
Vidda, estima que 30% das 140
mil pessoas que usam o coquetel
sofrem efeitos adversos graves.
No manifesto divulgado ontem em São Paulo por representantes de 500 ONGs-Aids, os assinantes lembram que os "efeitos colaterais têm sido subestimados". Os militantes participam do 12º Encontro Nacional
de ONGs-Aids e fizeram um ato
na praça da República. O documento lembra que a epidemia
continua crescendo no país, especialmente entre os mais pobres, causando 10 mortes e 70
novas infecções a cada dia.
A carta, que reconhece os
"avanços da resposta brasileira
no combate à Aids", critica o déficit de leitos e a demora nos exames. Critica também o "descaso" quanto aos presídios, a
transmissão de mãe para filho e
as campanhas de prevenção,
"insuficientes e passageiras".
O documento também traz
uma questão crucial para as
ONGs nesse momento, diz
Scheffer: "A necessidade de não
se conformar com os ganhos e
não abrir mão do ativismo".
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