São Paulo, quinta, 18 de junho de 1998

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Chacina a 250 metros de delegacia deixa 11 mortos e 4 feridos nas Grande São Paulo

Polícia desconfia de briga de quadrilhas e apura envolvimento de policiais

Otavio Dias de Oliveira/Folha Imagem
A testemunha Lia Silvia dos Santos, namorada de um dos mortos, dá informações para o policial


Chacinas aumentaram 156% em 1998, com 46 ocorrências e 162 mortos

Secretário da Segurança culpa o desemprego pelo aumento da violência

CRISPIM ALVES
da Reportagem Local

Onze pessoas foram assassinadas na madrugada de ontem na segunda maior chacina de toda a história do Estado de São Paulo. O crime ocorreu na cidade de Francisco Morato (Grande São Paulo).
Outras quatro pessoas ficaram feridas. Uma delas, em estado considerado gravíssimo, perdeu parte da massa encefálica.
A maior chacina do Estado ocorreu em junho de 94, em Taboão da Serra -também Grande SP-, quando 12 pessoas foram mortas. Com o caso de ontem, já chega a 46 o número de chacinas na região metropolitana de São Paulo desde o início deste ano. Em todo o ano passado, foram 47 casos.
O crime de Francisco Morato, cidade onde 61% da população ganha no máximo até três salários mínimos, segundo o Censo, aconteceu por volta das 2h40, em um bar chamado Ponto de Encontro, na avenida Pedro Lessa, centro. O local fica a cerca de 250 metros da delegacia da cidade.
Na hora do massacre, 16 pessoas estavam no interior do bar. Algumas comemoravam a vitória do Brasil sobre Marrocos. Outras, o aniversário de Evelyn Aparecida Abrahão Zenan, que havia acabado de completar 17 anos.
Segundo a única pessoa que saiu ilesa do bar, o ex-PM Francisco Gomes dos Santos, 26, três pessoas encapuzadas e fortemente armadas chegaram ao local em um Monza preto. Em um primeiro momento, dois dos assassinos entraram no bar gritando para que todos deitassem no chão.
Santos teria sido reconhecido por um dos dois, que o aconselhou a sair correndo. Em seguida, os três encapuzados passaram a atirar. Foram disparados, no mínimo, 91 tiros de, pelo menos, cinco tipos diferentes de armas.
Os disparos foram precisos, em direção aos alvos, pois a prateleira do bar, cheia de garrafas de bebidas, ficou intacta. A maioria das vítimas recebeu pelo menos um tiro na cabeça, alguns à queima-roupa. Dez morreram na hora. Uma a caminho do hospital.
Dos quatro feridos, o caso mais grave é o da balconista Jeovania Botelho Costa, 16, internada na UTI do hospital de Franco da Rocha. Ela levou um tiro na cabeça e perdeu parte da massa encefálica.
O crime não chegou a assustar os moradores do local, acostumados a frequentes tiroteios. Tanto que boa parte dos curiosos que se aglomeraram em frente ao bar, a maioria crianças, perguntava, sem muito espanto, se tinham morrido mais de quatro pessoas.
Até o início da noite de ontem, a polícia ainda não havia prendido nenhum suspeito do massacre. A princípio, o caso será investigado pela Delegacia Seccional de Guarulhos, com apoio do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos).



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