São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 2000


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MEIO AMBIENTE
Unidade da Petrobras registra maior acidente dos últimos 25 anos ao deixar vazar 4 milhões de litros de óleo
Refinaria causa desastre em rio do PR

Edson Silva/"Gazeta do Povo"
Vista aérea da mancha de óleo do vazamento da Repar ao deixar o rio Barigui e encontrar o Iguaçu


WAGNER OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ARAUCÁRIA

Cerca de 4 milhões de litros de óleo cru vazaram por duas horas da Repar (Refinaria Presidente Getúlio Vargas), em Araucária (PR), causando o maior acidente ambiental envolvendo a Petrobras nos últimos 25 anos.
O vazamento ocorreu na tarde de anteontem, mas só foi divulgado ontem. A maior parte do óleo percorreu um trajeto de 2.800 metros dentro da área da refinaria entre as 13h15 e as 15h15 -horário em que o problema foi detectado-, chegando ao rio Barigui e, em seguida, ao rio Iguaçu.
O vazamento é cerca de três vezes o que havia ocorrido na baía de Guanabara em janeiro, quando vazaram 1,29 milhão de litros. O IAP (Instituto Ambiental do Paraná) aplicou uma multa de R$ 50 milhões à Petrobras, o teto legal para esse tipo de acidente.
Até o início da noite de ontem, a mancha, de espessura de cinco centímetros, havia avançado 30 quilômetros até o distrito de Balsa Nova, colocando em risco a saúde de mais de 10 mil pessoas que moram perto das margens do rio.

Prejuízos ambientais
Técnicos do IAP, da Petrobras, do Ibama e de organizações não-governamentais formaram uma comissão para avaliar a extensão dos prejuízos ambientais -além dos peixes, a região é povoada por capivaras e antas.
O óleo exalava um forte cheiro, parecido com o da gasolina, provocando mal-estar em alguns ribeirinhos. A Petrobras e o governo do Paraná formaram equipes de emergência para atender os moradores locais.
Pelo menos 400 homens foram contratados pela empresa para ajudar a conter o óleo. Quatro barreiras com bóias foram instaladas em quatro pontos do Iguaçu. Seriam ainda instalados outros quatro pontos, número que pode chegar a seis.
A Petrobras está trazendo para Araucária (20 km de Curitiba) técnicos e equipamento. Uma empresa norte-americana, que atuou no vazamento da baía de Guanabara, estava mandando ontem funcionários ao Paraná.
A maior preocupação ontem era que as barreiras não detivessem o óleo e o produto chegasse à estação de captação de União da Vitória, que abastece 73 mil pessoas dos municípios de União da Vitória (PR) e Porto União (SC).
"O acidente é o mais grave do Paraná. Nunca vai haver uma recuperação total do meio ambiente", disse José Antonio Andriguetto, presidente do IAP.
O governador Jaime Lerner (PFL-PR) sobrevoou a área afetada. "Queremos a apuração rigorosa para que fatos assim nunca mais ocorram no Brasil. Vamos exigir da (Petrobras) aquilo que a comunidade do Paraná e todo o povo brasileiro querem", disse.

Causas
O presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul, disse que uma comissão composta de cinco pessoas terá até quinta-feira para apontar as causas do acidente.
Segundo Albano de Souza Gonçalves, diretor da Petrobras, o pior vazamento de óleo envolvendo a empresa ocorreu em 1975, quando um navio contratado derramou 6 milhões de litros de óleo cru na baía de Guanabara.
A Repar havia recebido, no mês passado, atestado ISO 9002 (qualidade total) e 14001 (qualificação ambiental). "O certificado não nos tornava imunes a acidentes desse tipo. Só atestava que tínhamos um plano de contingência bem estudado para situações assim", afirmou o superintendente da Repar, Luiz Valente Moreira. Ainda assim, vazou óleo por duas horas até a detecção do problema.
Moreira disse que o bombeamento de óleo, oriundo de São Francisco do Sul (SC), começou às 13h15. Um funcionário checou o sistema e constatou que estava normal naquele instante. De acordo com o procedimento, o mesmo petroleiro voltou a fazer a checagem duas horas depois, quando foi constatado o problema.
"Tão logo foi verificado o vazamento, fui avisado em casa. Em seguida, os órgãos ambientais e de ajuda, como o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil, foram imediatamente acionados." Segundo o superintendente da Repar, o equipamento tem 23 anos de uso, mas não apresentava defeitos.
O presidente do Sindicato dos Petroleiros no Paraná, Hélio Luiz Seidel, afirmou que o processo de enxugamento de funcionários e terceirização de serviços estaria ""sucateando" os equipamentos da Petrobras.
Segundo ele, no Paraná a empresa teve seu quadro reduzido de 1.200 para 580 funcionários nos últimos quatro anos.
A empresa contesta a afirmação e diz que a automatização das refinarias ocorre no mundo todo.

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