|
Texto Anterior | Índice
AMBIENTE
Ocupações em parque do Rio começaram nos anos 50; hoje, área tombada abriga casebres, prédios de luxo e até delegacia
Invasões destroem 15,8% do Jardim Botânico
MAURÍCIO THUSWOHL
DA SUCURSAL DO RIO
O Jardim Botânico do Rio já
perdeu 217 mil metros de reservas
de mata atlântica, o equivalente a
15,8% de sua área original, devido
a invasões. Fundado em 1808, o
local possui 7.200 espécies de
plantas de vários lugares no mundo e é considerado pela ONU (Organização das Nações Unidas)
um dos dez mais importantes do
mundo.
As ocupações irregulares começaram no início dos anos 50, protagonizadas pelos próprios funcionários do Jardim Botânico.
Continuam até hoje, num processo de degradação ambiental da
área que é considerada bem público federal e tem sua administração diretamente subordinada
ao Ministério do Meio Ambiente.
O Jardim Botânico é tombado
pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e é considerado pela Unesco
parte da Reserva da Biosfera
mundial. O parque tem, entre outros bens, um herbário com 360
mil amostras de plantas desidratadas e uma biblioteca, também
tombada, que abriga 66 mil volumes e 3.000 obras raras.
As invasões mais recentes, feitas
por famílias de baixa renda, tomam a encosta situada atrás da
rua Major Rubem Vaz, onde coexistem prédios de luxo, uma delegacia de polícia e um quartel do
Corpo de Bombeiros.
"Algumas construções podem
ser classificadas como mansões.
Os ocupantes são evidentemente
ricos, não pagam nem sequer um
centavo para ficar em uma área
privilegiada e, certamente, não
são filhos de ex-funcionários", diz
o presidente do parque, Liszt
Vieira.
Conhecida como Titica, a encosta já tem cerca de 30 casas e é
considerada pela administração
do Jardim Botânico o ponto mais
vulnerável a novas ocupações irregulares. Sua última construção,
um barraco de tijolos com dois
cômodos, foi erguida há dois anos
sobre uma rocha.
Advertida pela segurança do
parque de que sua casa está em
área de risco, a paraibana Francisca Ivanilda, 30, diz não ter para
onde levar os filhos Daniel, 3, e
Zeca, 4. "Aqui acontecem muitas
ventanias, e dizem que a casa vai
cair e matar minha família."
Vizinho de Ivanilda, o aposentado Expedito Nery, 67, que diz
morar no local há 56 anos, conta
que, até seis anos atrás, pagava
uma taxa de ocupação à SPU (Secretaria de Patrimônio da União),
que deixou de ser enviada. "Pararam de cobrar a taxa para poderem dizer que estamos aqui ilegalmente e nos expulsarem."
Segundo Vieira, cerca de 460 famílias vivem hoje dentro da reserva. Para conhecer o número exato
de moradores, Vieira firmou convênio com o IBGE, que realizará o
primeiro censo oficial dos habitantes do Jardim Botânico.
Nos anos 50, o Ministério da
Agricultura permitiu que os funcionários construíssem casas
dentro do parque, pela dificuldade de acesso ao local.
As casas se multiplicaram e, nos
anos 60 e 70, alguns moradores
obtiveram títulos de cessão de uso
dos terrenos, concedidos pela
SPU. Hoje, não é mais possível
identificar quem é de fato descendente dos antigos funcionários ou
simplesmente um invasor.
"As ações na Justiça podem levar ainda mais de dez anos. O caminho a seguir com esses moradores é o da solução negociada",
afirma Vieira. Segundo ele, nos
últimos anos a AGU (Advocacia
Geral da União) deu entrada em
mais de 300 ações de reintegração
de posse a favor do parque.
Segundo o acordo, idealizado
por Vieira, o Jardim Botânico cederia uma parte de seu terreno
onde, com financiamento da Caixa Econômica Federal, seriam erguidos quatro ou cinco pequenos
prédios de apartamentos, onde
viveriam os moradores, hoje dispersos no terreno.
Texto Anterior: Visita surpresa Índice
|