São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

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ENTREVISTA

Imaginar sexo com estranho pode salvar casamento, revela pesquisa

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o relacionamento já perdeu o calor dos primeiros anos, a fantasia e o fetiche podem ser recursos importantes para salvar o casamento. As mulheres costumam imaginar que estão fazendo sexo com outro -artistas conhecidos, bombeiros, professores de academia.
Já os homens preferem lingeries provocantes, de forma que suas parceiras lembrem mulheres diferentes das suas, às vezes prostitutas. O que pode parecer brincadeira de adolescente é, na verdade, uma terapia importante para a saúde sexual do casal.
O recurso à fantasia na hora do sexo -prática reconhecida há séculos- aparece em pesquisa realizada pelo ginecologista e sexólogo Amaury Mendes Júnior.
Na interpretação de especialistas, a fantasia, especialmente quando o interesse sexual no casal está em declínio, é uma prática que deve ser incentivada.
"A fantasia é uma forma de atualizar a magia da paixão", diz a psiquiatra Carmita Abdo, que dirige o Prosex, serviço de sexualidade do Hospital das Clínicas.
"O olhar do apaixonado vê o outro como perfeito, extraordinário, o mais competente, o mais desejado", diz a psiquiatra. "Com o tempo, essa paixão vai arrefecendo, dando lugar ao amor ou ao desinteresse. É aí que a fantasia aparece como um elemento importante", diz Carmita Abdo. Segundo ela, entre os vários recursos usados nas terapias de casal onde o desejo sexual é o principal problema, "também se incentiva que deixem fluir a fantasia, a imaginação, desde que não agrida ou ofenda o parceiro".
Para o autor da pesquisa, "é melhor fantasiar do que sair à procura de outros ou outras, especialmente em tempos de Aids". Abaixo, trechos da entrevista com Amaury Mendes Júnior, membro da comissão de estudos em terapia sexual do Isexp, Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática.

 

Folha - Como foi feita a pesquisa? Amaury Mendes Júnior - Participaram 210 mulheres e 90 homens, todos pacientes da clínica privada onde atendo no Rio. Todos tinham alguma dificuldade sexual e todos compareciam com seus parceiros. A maioria se queixava de falta de libido, de desejo, outros tinham sofrido violência sexual e as imagens eram recorrentes. Nossa metodologia de trabalho é a psicanálise.
As respostas foram anônimas, devolvidas em envelopes fechados. Os 300 casais tinham entre 26 e 55 anos, 73% completaram o ensino médio, 27%, o superior.

Quais as principais conclusões?
Mendes
- Cerca de 90% disseram ter fantasias sexuais pelo menos uma vez por mês; 56% das mulheres disseram gostar de imaginar que estão com outro parceiro e chegam a colocar máscaras neles, máscaras do Zorro, por exemplo. Entre as fantasias preferidas, 60% são artistas conhecidos, 18% são bombeiros, os outros, seus professores de academia, colegas de trabalho.
Já os homens, 70% deles disseram que pedem às mulheres que usem lingeries provocantes, alguns chegam a chamá-las por outros nomes, para associá-las a mulheres que desejam ou imaginam. A maioria dos casais, 78%, prefere a luz apagada, talvez porque isso facilite a imaginação.

Folha - Um casamento sem sexo é capaz de resistir ao tempo?
Mendes
- O sexo é fundamental, mas é preciso especialmente afetividade ou objetivos comuns. Os comprimidos para disfunção erétil, os Viagras, ajudam na ereção, mas, sem desejo, não há ereção. O que se observa hoje é que se investe muito na máquina, no corpo, no funcional, deixando o carinho e o amor num plano secundário.

Folha - A fantasia não seria uma forma de forçar a manutenção de um casamento que acabou?
Mendes
- O homem gosta de ser servido, a mulher, muitas vezes, gosta de fingir que é subserviente, participando desse jogo. Costuma-se dizer que ela ganha pela sedução, faz sexo para ter amor, enquanto o homem finge amor para ter sexo. São fantasias, mas se elas servirem para ajudar uma relação desgastada, já é um caminho.
A traição é sempre mais perigosa e pode trazer danos irreparáveis a qualquer casal.


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