São Paulo, sábado, 18 de julho de 1998

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FALSIFICAÇÃO
Hospital nega ter distribuído lote 351 e diz que trocou a pedido de distribuidora; fabricante desmente ligação
HC troca Androcur falsos em São Paulo

CARLA CONTE
da Reportagem Local


O Hospital das Clínicas de São Paulo trocou cerca de 40 caixas do medicamento Androcur (para câncer de próstata) falso desde janeiro deste ano.
A existência de Androcur falso na cidade de São Paulo surpreendeu a Vigilância Sanitária do Estado, já que até agora só havia sido divulgada a descoberta de remédios do lote 351 (que não contém princípio ativo) em Ribeirão Preto, onde foi feita apreensão.
O diretor técnico da divisão farmacêutica do HC, Victor Hugo Travassos da Rosa, afirma, porém, que o hospital nunca comprou ou distribuiu o lote.
Segundo Rosa, o hospital trocou o remédio falso por Androcur autêntico para dez pacientes. Ele não soube dizer ontem a procedência dos produtos falsos trocados.

Vítima

A afirmação do diretor do HC contradiz a do industrial Idelfonso Motta Junior, 49, cujo pai, morto em junho, foi um dos que fez a troca. Segundo o industrial, seu pai, o metalúrgico Idelfonso Motta, retirou as três caixas do lote 351 no próprio hospital.
"Ele era paciente do HC havia cinco anos, sempre pegava medicamento lá", declara Motta.
Segundo o industrial, a família percebeu que estava com remédio falso em abril, quando as notícias sobre casos de falsificação começaram a ser divulgadas. Em seguida, fez a troca no HC.
"Não sei se meu pai chegou a tomar algum comprimido falso. Já havíamos jogado fora as caixas já usadas. Não sabemos se eram do lote falso."

Distribuidora

Segundo Rosa, embora não tenha distribuído o lote 351, o HC resolveu fazer a troca a pedido da distribuidora Represental. Um representante da distribuidora procurou o hospital afirmando que estava recolhendo o produto falso em nome do fabricante, o laboratório Schering do Brasil.
A Represental, diz o HC, se comprometeu a repor cada unidade de Androcur que o HC entregasse a cada paciente com remédio falso.
O laboratório nega ter orientado distribuidores para recolher o remédio e diz que não recebeu nada da Represental. A Schering afirma ainda que há mais de um ano não trabalha com essa empresa.
A Folha tentou localizar a direção da Represental, mas nenhum dos diretores foi encontrado.




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