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EDUCAÇÃO
Pesquisadores sugerem uso de programas infantis tradicionais na formação pedagógica das crianças
Desenhos podem ajudar a aprender
MARTA AVANCINI
da Reportagem Local
Mais do que diversão, os desenhos animados podem ser um
eficiente instrumento pedagógico
para transmitir valores éticos,
morais e modelos de comportamento para as crianças. Por isso,
eles deveriam ser incorporados
por professores à dinâmica da sala de aula, de modo a suscitar discussões e estimular reflexões.
É o que defende um grupo de 12
pesquisadores do Lapic (Laboratório de Pesquisa sobre Infância,
Imaginário e Comunicação), um
grupo multidisciplinar ligado à
Escola de Comunicações e Artes
da USP, coordenado pela professora Elza Dias Pacheco, e que acaba de concluir a pesquisa "Desenho Animado na TV: Mitos Símbolos e Metáforas".
O trabalho mapeou os desenhos
preferidos pelas crianças e analisou seus conteúdos e suas estruturas. Foram ouvidas 311 crianças
de 6 a11 anos, que vivem em São
Paulo.
"Os desenhos têm situações,
comportamentos e noções morais importantes para a formação
da criança. Ajuda a resolver conflitos e colabora para o desenvolvimento cognitivo e simbólico",
diz Marcia Mareuse, psicóloga e
pesquisadora do Lapic.
Esse potencial pode ser apreendido nos cinco desenhos apontados com favoritos pelas crianças
entrevistadas -"Pica-Pau", "Pateta", "Pernalonga", "O Máskara"
e "YuYu Hakusho". Um exemplo:
o "Pica-Pau" tem uma estrutura
simples e a ação normalmente se
desenvolve a partir de um elemento que o retira de uma situação de tranquilidade.
Os pesquisadores acreditam
que, no plano simbólico, a criança
pode se identificar com o Pica-Pau, projetando-se nele e resolvendo, mentalmente e de modo
positivo, uma situação de inferioridade. Já no plano do desenvolvimento cognitivo, ela pode absorver e interiorizar a estrutura formal do desenho, desenvolvendo
suas próprias estruturas mentais.
Mecanismos semelhantes podem ocorrer com os outros desenhos, até com os considerados
violentos, como o "YuYu Hakusho", dependendo da capacidade
de elaboração mental da criança,
o que está ligado à faixa etária e ao
tipo de ambiente em que vive.
Essa tese remete a outras discussões: afinal, até que ponto as cenas
de violência estimulam comportamentos agressivos?
Um outro estudo, elaborado pelo Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para
Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente), conclui, por
exemplo, que o "YuYu" se destaca
pela quantidade de crimes que
mostra: foram computadas 29 lesões corporais e 18 homicídios ou
tentativas de homicídio durante
uma semana de exibição.
"Isoladamente, a TV não explica um comportamento violento.
Mas é importante que os pais tenham esse tipo de informação e
saibam o que os filhos assistem e
reivindiquem uma programação
de melhor qualidade", diz Cristina Barbosa, socióloga e pesquisadora do Ilanud.
Para a psicóloga Marcia, a influência que um desenho violento
pode ter sobre uma criança depende do seu contexto de vida. "É
verdade que o "YuYu" contém cenas violentas.
O que ocorre é que cada criança
vai ser influenciada de maneira
diferente e a violência não está só
no desenho. Está no telejornal, na
novela e nas ruas.
O importante é criar mecanismos para trabalhar essa situação
de violência." Sua observação se
baseia nos depoimentos das
crianças, que percebem que o YuYu é um "desenho de luta", mas
que enfatizam seus aspectos mágicos e sobrenaturais, ao explicar
por que gostam dele.
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