São Paulo, Domingo, 18 de Julho de 1999
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EDUCAÇÃO
Pesquisadores sugerem uso de programas infantis tradicionais na formação pedagógica das crianças
Desenhos podem ajudar a aprender


MARTA AVANCINI
da Reportagem Local

Mais do que diversão, os desenhos animados podem ser um eficiente instrumento pedagógico para transmitir valores éticos, morais e modelos de comportamento para as crianças. Por isso, eles deveriam ser incorporados por professores à dinâmica da sala de aula, de modo a suscitar discussões e estimular reflexões.
É o que defende um grupo de 12 pesquisadores do Lapic (Laboratório de Pesquisa sobre Infância, Imaginário e Comunicação), um grupo multidisciplinar ligado à Escola de Comunicações e Artes da USP, coordenado pela professora Elza Dias Pacheco, e que acaba de concluir a pesquisa "Desenho Animado na TV: Mitos Símbolos e Metáforas".
O trabalho mapeou os desenhos preferidos pelas crianças e analisou seus conteúdos e suas estruturas. Foram ouvidas 311 crianças de 6 a11 anos, que vivem em São Paulo.
"Os desenhos têm situações, comportamentos e noções morais importantes para a formação da criança. Ajuda a resolver conflitos e colabora para o desenvolvimento cognitivo e simbólico", diz Marcia Mareuse, psicóloga e pesquisadora do Lapic.
Esse potencial pode ser apreendido nos cinco desenhos apontados com favoritos pelas crianças entrevistadas -"Pica-Pau", "Pateta", "Pernalonga", "O Máskara" e "YuYu Hakusho". Um exemplo: o "Pica-Pau" tem uma estrutura simples e a ação normalmente se desenvolve a partir de um elemento que o retira de uma situação de tranquilidade.
Os pesquisadores acreditam que, no plano simbólico, a criança pode se identificar com o Pica-Pau, projetando-se nele e resolvendo, mentalmente e de modo positivo, uma situação de inferioridade. Já no plano do desenvolvimento cognitivo, ela pode absorver e interiorizar a estrutura formal do desenho, desenvolvendo suas próprias estruturas mentais.
Mecanismos semelhantes podem ocorrer com os outros desenhos, até com os considerados violentos, como o "YuYu Hakusho", dependendo da capacidade de elaboração mental da criança, o que está ligado à faixa etária e ao tipo de ambiente em que vive.
Essa tese remete a outras discussões: afinal, até que ponto as cenas de violência estimulam comportamentos agressivos?
Um outro estudo, elaborado pelo Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente), conclui, por exemplo, que o "YuYu" se destaca pela quantidade de crimes que mostra: foram computadas 29 lesões corporais e 18 homicídios ou tentativas de homicídio durante uma semana de exibição.
"Isoladamente, a TV não explica um comportamento violento. Mas é importante que os pais tenham esse tipo de informação e saibam o que os filhos assistem e reivindiquem uma programação de melhor qualidade", diz Cristina Barbosa, socióloga e pesquisadora do Ilanud.
Para a psicóloga Marcia, a influência que um desenho violento pode ter sobre uma criança depende do seu contexto de vida. "É verdade que o "YuYu" contém cenas violentas.
O que ocorre é que cada criança vai ser influenciada de maneira diferente e a violência não está só no desenho. Está no telejornal, na novela e nas ruas.
O importante é criar mecanismos para trabalhar essa situação de violência." Sua observação se baseia nos depoimentos das crianças, que percebem que o YuYu é um "desenho de luta", mas que enfatizam seus aspectos mágicos e sobrenaturais, ao explicar por que gostam dele.


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