São Paulo, Domingo, 18 de Julho de 1999
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URBANISMO
Área quer ser reconhecida como nobre
Rocinha evolui de favela para bairro

CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio
A Rocinha não quer mais ser conhecida como favela. Seus argumentos: a região, em São Conrado (zona sul do Rio), tem comércio desenvolvido, casas valorizadas e até grifes que fazem parte da moda alternativa carioca.
A área tem hoje mais de mil estabelecimentos comerciais registrados em uma associação comercial própria -entre eles, duas agências bancárias, nove restaurantes, um jornal e duas estações de rádio.
Seus moradores vivem em apartamentos que podem valer, nas áreas mais valorizadas, em torno de R$ 50 mil (por um apartamento de dois quartos). Pagam aluguéis em torno de R$ 500 (em média, para dois quartos).
Compram roupas de grife em butiques instaladas no Caminho do Boiadeiro -uma das ruas principais da área.
Lançam moda -a CopaRoca, cooperativa de costureiras da Rocinha e uma das 15 confecções da região, já apresentou suas criações em desfiles ao lado de grifes conhecidas do Rio de Janeiro e tem estande fixo na Babylonia Feira Hype, "point" da moda alternativa carioca.
E, no final do próximo mês, ganharão um McDonald's, a ser instalado no largo do Boiadeiro, na entrada da Rocinha.



Prefeitura
Desde junho de 1996, a Rocinha é considerada pela Prefeitura do Rio como mais um dos bairros da cidade.
De acordo com o IplanRio (órgão de planejamento ligado à Secretaria Municipal de Urbanismo), o bairro tem uma área de 1,39 milhão de metros quadrados, onde vivem pouco mais de 45 mil pessoas (dados de 1996).
"Muita gente ainda acha que somos uma favela, mas temos até nossa própria região administrativa", diz a empresária Valquíria Dias, dona do jornal "Correio Zona Sul".
Valquíria é um exemplo da "nova Rocinha". Há cinco anos, em dificuldades financeiras, mudou-se para a então favela, depois de ter morado em bairros como Copacabana, Flamengo (zona sul) e Tijuca (zona norte).
"Quando cheguei, tinha um medo horrível. Gastava todo o salário pagando escola em horário integral para minhas filhas porque não tinha coragem de deixá-las em casa", diz.
Na época, trabalhava como contato em uma agência de publicidade. Em conversas com comerciantes do bairro, decidiu criar o jornal, que hoje tem periodicidade mensal e tiragem em torno de 12 mil exemplares.
Deixou o emprego e afirma ganhar mais agora do que nos tempos da agência. Também perdeu o medo.
"Já vi mais assaltos e tiroteios lá fora do que aqui (no bairro da Rocinha)", disse Valquíria.

TV a cabo própria
A Rocinha também tem sua própria empresa de TV a cabo -a TV Roc.
Funcionando há quase três anos, a empresa tem hoje 1.500 assinantes e distribui os mesmos canais do pacote básico da Net: Telecine 1, GNT, Globonews, Multishow, SporTV, entre outros.
O pacote custa R$ 32, mas a concorrência é pesada. Além de um número considerável de ligações clandestinas -estimadas em torno de 20% do total de assinantes-, há três "operadoras paralelas" funcionando no bairro.
As três juntas têm o mesmo número de assinantes da "oficial" TV Roc.
"Eles captam o sinal pela parabólica e distribuem", diz Carlos Nicolau, gerente comercial da TV Roc. O preço do "pacote alternativo": R$ 8.


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