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PASQUALE CIPRO NETO
"O número de pessoas que..."
Nas últimas semanas,
tratei de alguns casos de
concordância verbal. Os leitores
querem mais. Pedem, por exemplo, que eu discuta a flexão do
verbo em frases em que aparecem
expressões como "a maioria dos
jornalistas", "boa parte dos presentes", "o número de eleitores",
"grande parte dos atletas" etc.
Vamos por partes, começando
pelo básico: se o sujeito é simplesmente "a maioria", "a maior parte" etc., o verbo fica no singular
("A maioria prometeu"; "A maior
parte conseguiu" etc.).
Se houver um especificador do
núcleo do sujeito, a coisa pode
mudar de figura. Se o sujeito for
algo como "A maior parte dos
eleitores" ou "A maioria dos presentes", predomina a opção pela
flexão do verbo no singular, em
concordância com o núcleo
("parte" e "maioria", respectivamente): "A maior parte dos eleitores votou antes do meio-dia"; "A
maioria dos presentes optou pela
redução da carga horária".
O predomínio do singular não
invalida a hipótese do plural, de
que não faltam exemplos nos
clássicos e nos modernos. Seriam
possíveis, pois, estas construções:
"A maior parte dos eleitores votaram antes do meio-dia"; "A
maioria dos presentes optaram
pela redução da carga horária".
Convém lembrar que a opção
pelo plural se justifica quando é
necessário enfatizar os formadores do conjunto; com o singular, a
carga enfática recai sobre o grupo, o coletivo, o conjunto.
É preciso tomar cuidado particular quando faz parte do sujeito
a palavra "número" ("o número
de pessoas", "o número de inscritos" etc.). Não parece possível
aplicar aí o mesmo raciocínio exposto anteriormente, já que o termo "número" não indica idéia de
grupo, conjunto etc. Nesses casos,
o verbo concorda com a própria
palavra "número", ou seja, fica
no singular: "O número de participantes caiu"; "Neste ano, o número de crimes dobrou".
A situação mais delicada não é
nenhuma das vistas até agora.
Pense neste caso: "O número de
jogadores brasileiros que se transferem para a Europa não pára de
aumentar". Por que um verbo no
plural ("transferem") e outro no
singular ("pára")? Porque "transferem" se refere a "jogadores", enquanto "pára" se refere a "número" (os jogadores se transferem; o
número não pára de aumentar).
Nos textos jornalísticos ou nos
que tratam de economia, estatística etc., são comuns frases em
que, por influência da proximidade entre as formas verbais, a concordância é "igualada" (algo como "O número de médicos que
participam desses projetos cresceram"). Não custa insistir: a forma adequada é "O número de
médicos que participam desses
projetos cresceu" (os médicos participam; o número cresceu).
Por fim, convém citar casos em
que o sujeito é formado por uma
expressão como "A maioria dos
jogadores que...". O verbo que
vem depois do "que" fica no plural, já que se refere a "jogadores"
("A maioria dos jogadores que
participaram da partida..."). O
segundo verbo pode ficar no singular (em concordância com "a
maioria") ou no plural (em concordância com "jogadores", os
formadores do grupo): "A maioria dos jogadores que participaram da partida de ontem treinará/treinarão hoje à tarde". É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail - inculta@uol.com.br
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