UOL


São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PASQUALE CIPRO NETO

"O número de pessoas que..."

Nas últimas semanas, tratei de alguns casos de concordância verbal. Os leitores querem mais. Pedem, por exemplo, que eu discuta a flexão do verbo em frases em que aparecem expressões como "a maioria dos jornalistas", "boa parte dos presentes", "o número de eleitores", "grande parte dos atletas" etc.
Vamos por partes, começando pelo básico: se o sujeito é simplesmente "a maioria", "a maior parte" etc., o verbo fica no singular ("A maioria prometeu"; "A maior parte conseguiu" etc.).
Se houver um especificador do núcleo do sujeito, a coisa pode mudar de figura. Se o sujeito for algo como "A maior parte dos eleitores" ou "A maioria dos presentes", predomina a opção pela flexão do verbo no singular, em concordância com o núcleo ("parte" e "maioria", respectivamente): "A maior parte dos eleitores votou antes do meio-dia"; "A maioria dos presentes optou pela redução da carga horária".
O predomínio do singular não invalida a hipótese do plural, de que não faltam exemplos nos clássicos e nos modernos. Seriam possíveis, pois, estas construções: "A maior parte dos eleitores votaram antes do meio-dia"; "A maioria dos presentes optaram pela redução da carga horária".
Convém lembrar que a opção pelo plural se justifica quando é necessário enfatizar os formadores do conjunto; com o singular, a carga enfática recai sobre o grupo, o coletivo, o conjunto.
É preciso tomar cuidado particular quando faz parte do sujeito a palavra "número" ("o número de pessoas", "o número de inscritos" etc.). Não parece possível aplicar aí o mesmo raciocínio exposto anteriormente, já que o termo "número" não indica idéia de grupo, conjunto etc. Nesses casos, o verbo concorda com a própria palavra "número", ou seja, fica no singular: "O número de participantes caiu"; "Neste ano, o número de crimes dobrou".
A situação mais delicada não é nenhuma das vistas até agora. Pense neste caso: "O número de jogadores brasileiros que se transferem para a Europa não pára de aumentar". Por que um verbo no plural ("transferem") e outro no singular ("pára")? Porque "transferem" se refere a "jogadores", enquanto "pára" se refere a "número" (os jogadores se transferem; o número não pára de aumentar).
Nos textos jornalísticos ou nos que tratam de economia, estatística etc., são comuns frases em que, por influência da proximidade entre as formas verbais, a concordância é "igualada" (algo como "O número de médicos que participam desses projetos cresceram"). Não custa insistir: a forma adequada é "O número de médicos que participam desses projetos cresceu" (os médicos participam; o número cresceu).
Por fim, convém citar casos em que o sujeito é formado por uma expressão como "A maioria dos jogadores que...". O verbo que vem depois do "que" fica no plural, já que se refere a "jogadores" ("A maioria dos jogadores que participaram da partida..."). O segundo verbo pode ficar no singular (em concordância com "a maioria") ou no plural (em concordância com "jogadores", os formadores do grupo): "A maioria dos jogadores que participaram da partida de ontem treinará/treinarão hoje à tarde". É isso.


Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.

E-mail - inculta@uol.com.br


Texto Anterior: Prefeito saca arma e ameaça bóia-fria no PR
Próximo Texto: Trânsito: Veja caminho para chegar à Raposo Tavares
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.