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EDUCAÇÃO
Parecer da Advocacia Geral da União assegura a estudante vaga em instituição pública em caso de transferência
Militar ganha privilégio em universidade
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Reitores das universidades federais estão contrariados com um
parecer da AGU (Advocacia Geral
da União) que garante vaga a militares e a seus dependentes que
pedirem transferência para universidades federais, mesmo que
estejam matriculados em uma
instituição particular.
A UnB (Universidade de Brasília) está ameaçando suspender o
próximo vestibular para o curso
de direito, alegando que não teria
condições de atender aos cerca de
70 pedidos de transferência de
militares para o curso.
A universidade diz ter recebido,
entre janeiro e agosto deste ano,
cerca de 300 pedidos de transferência, sendo 90% deles de militares e dependentes -a maioria
vinda de instituição particular.
A Andifes (Associação Nacional
dos Dirigentes das Instituições
Federais de Ensino Superior) encaminhou carta ao ministro da
Educação, Tarso Genro, manifestando "indignação" e "preocupação". Também pretende adotar
medidas judiciais para tentar reverter o parecer, que tem força de
lei para a rede federal.
A UnB informou ontem que vai
recorrer ao próprio advogado-geral da União, Álvaro Augusto Ribeiro Costa, para que ele reavalie
essa decisão.
"Foi criado [com o parecer] um
tratamento diferenciado entre os
servidores civis e militares. Com o
parecer, um aluno pode fazer um
vestibular na esquina e, no dia seguinte, ser estudante da UnB",
afirmou o vice-reitor da universidade, Timothy Mulholland.
A legislação
A decisão da AGU põe fim a
uma interpretação dúbia da lei
9.536/97, que determina que instituições de ensino superior, sejam
públicas ou particulares, têm de
aceitar pedidos de transferência
de servidores federais civis e militares e de seus dependentes em
caso de remoção pelo ofício.
Havia uma interpretação de que
as transferências podiam ser aceitas entre instituições da mesma
natureza, ou seja, de públicas para
públicas e de particulares para
particulares. Na prática, as federais adotavam essa visão.
Por isso, houve caso de militares
que entraram na Justiça para ter o
direito de se matricular em uma
federal mesmo vindos de uma
instituição particular.
No parecer desta semana, a
AGU entende que, no caso dos
militares e seus dependentes, as
universidades federais têm de
aceitá-los quando solicitam a
transferência provocada por mudança de domicílio, independentemente de o aluno vir de outra
instituição pública ou de privada.
A medida não se aplica a servidores civis, para os quais as instituições continuam adotando a interpretação anterior.
Para emitir seu parecer, a AGU
se baseou nos argumentos do Ministério da Defesa e em decisões
da Justiça.
"O parecer não mudou em nada
a legislação que já existe. Ele apenas firma posição com base no espírito da lei, que é preservar o direito dos militares", disse o general José Luiz Halley, assessor especial do Ministério da Defesa.
Segundo ele, os oficiais são levados pela própria carreira a mudar
de cidade a cada dois ou três anos.
"O que vinha acontecendo era a
transferência do militar, mas este
deixava o filho porque estava cursando a universidade. O Estado,
se envia um militar para uma missão, deve se preocupar com a preservação da estrutura familiar."
Na argumentação apresentada
à AGU, o Ministério da Educação
defendia que as transferências deveriam ser feitas de públicas para
públicas e de particulares para
particulares. Previa como exceção
o caso do aluno matriculado em
instituição privada que se mudasse para um local onde não existisse o mesmo curso também numa
privada. Ontem, o ministro Tarso
Genro disse que não cabe ao MEC
discutir a orientação do parecer.
Reação
A presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes
das Instituições Federais de Ensino Superior), Ana Lúcia Gazzola,
disse que o parecer fere a autonomia universitária.
"É uma reserva de vagas sobre o
privilégio corporativo. Como ficam os outros candidatos? É muito grave. Os reitores estão estarrecidos", disse Gazzola.
O general José Luiz Halley diz
entender os argumentos das instituições, mas lembrou que o direito de transferência já estava assegurado na lei de 1997.
O vice-reitor da UnB (Universidade de Brasília), Timothy Mulholland, também considera que a
decisão fere a autonomia universitária.
Segundo ele, mesmo que os
transferidos não entrem no primeiro semestre, a universidade
não tem como absorvê-los sem
planejamento.
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