São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2005

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EDUCAÇÃO

Maioria das indicações é feita pela prefeitura ou pelo Estado; alunos dessas instituições têm desempenho inferior

Político escolhe 60% dos diretores de escola

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de ser uma unanimidade negativa entre especialistas em educação, a escolha de diretor de escola por indicação da prefeitura ou do Estado é o método mais comum no Brasil. Dados tabulados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, do MEC), a pedido da Folha, mostram que 59,8% dos diretores de colégios públicos foram escolhidos dessa maneira em 2004.
Em alguns Estados, esse percentual chega a ser superior a 90%. É o caso do Amapá (94,7%), do Rio Grande do Norte (92,3%) e de Sergipe (92,0%). Esse é o método mais criticado por ser menos transparente e por permitir que o cargo fique sujeito a nomeações político-partidárias.
A eleição do diretor ou a escolha por meio de concurso público -métodos considerados mais democráticos ou meritocráticos- são práticas pouco habituais no sistema público. O percentual de diretores eleitos no país é de 19,5%. A proporção de concursados é menor: 9,2%.
Em apenas cinco Estados o percentual de eleitos supera o de nomeados: Acre (onde 72,3% foram escolhidos por eleição), Paraná (58,8%), Rio Grande do Sul (50,9%), Mato Grosso (48,3%) e Mato Grosso do Sul (44,6%).
Já a proporção de escolhidos por concurso só supera a de nomeados em um único Estado: São Paulo, onde 51,8% dos diretores passaram por concurso público.
"A escolha por indicação é a pior forma por colocar na escola uma pessoa que não tem vinculação com o sistema educacional. É claro que, em alguns casos, pode existir algum critério nessa indicação, mas, na maior parte das vezes, a escolha é político-partidária", afirma Maria do Pilar Silva, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação e secretária municipal da Educação de Belo Horizonte.
"A pior coisa que pode acontecer para a escola é a descontinuidade. É por isso que a nomeação política é um retrocesso porque muda a direção todas as vezes em que há troca de prefeito ou mesmo de um deputado ou vereador que muda de partido", diz Gabriel Chalita, presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e secretário estadual da Educação de São Paulo.
Além de ser a forma mais criticada por especialistas, a indicação política é, segundo o Saeb (exame do MEC que avalia a qualidade da educação), a que tem mais impacto negativo no desempenho dos estudantes. No exame de 2003, em todas as seis provas (são aplicados testes de português e matemática para alunos de quarta e oitava séries e do terceiro ano do ensino médio), os alunos que estudavam em escolas dirigidas por diretores nomeados politicamente tinham o pior desempenho. Os melhores desempenhos foram de alunos de colégios onde a escolha foi feita por concurso ou eleição.
"Pelos resultados do Saeb, não é possível afirmar se o melhor é a escolha do diretor por eleição ou concurso porque os resultados foram muito parecidos. No entanto, a gente percebe que as notas de alunos de diretores indicados politicamente destoam negativamente das demais", afirma Nildo Luzio, coordenador de base de dados da avaliação da educação básica do Inep.
A instabilidade do cargo devido a nomeações de prefeitos ou governadores produzem absurdos como o que aconteceu com a ex-diretora Alessandra Mazzotti. Ela ocupava o cargo numa escola municipal de Santa Cruz das Palmeiras (244 km de São Paulo).
Após fazer um curso de gestão educacional oferecido pela Fundação Lemann e pelo Instituto Protagonistés, ela foi escolhida no ano passado como uma das diretoras mais competentes por ter conseguido melhorar significativamente o desempenho de seus alunos numa avaliação externa. Como prêmio, fez um curso de aprimoramento em Buenos Aires. Mas, neste ano, quando houve troca de prefeito, ela soube que não ficaria no cargo. "Eu sei que seria mais bem aproveitada se estivesse em um cargo de direção, mas voltei a dar aulas e encarei isso como um novo desafio", diz.


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