São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2007

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Jovens são acusados de espancar índio até a morte em MG

Vítima, da etnia xacriabá, teve roupa retirada e levou socos e pontapés de três rapazes; dois deles têm menos de 18 anos

Segundo a polícia, suspeitos disseram em depoimento que, na saída de uma festa, o índio esbarrou em um dos garotos, o que os irritou

THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

Um índio da etnia xacriabá foi espancado até a morte na madrugada de anteontem, em Miravânia (714 km de Belo Horizonte), em Minas Gerais.
Três jovens -dois deles menores- são acusados do crime. O maior de idade foi preso; os menores, apreendidos. Eles confessaram o crime, segundo a polícia, mas disseram tê-lo feito sem intenção.
O crime ocorreu por volta das 3h30. Avelino Nunes Macedo, 37, voltava para sua aldeia após participar de uma festa na cidade, no distrito de Virgínio.
Uma escola municipal havia montado uma quermesse para arrecadar fundos para a formatura dos alunos da oitava série do ensino fundamental. Os três garotos -de 18, 16 e 15 anos- haviam saído do local, depois de causar um incêndio em uma das barracas.
Segundo a polícia, eles disseram em depoimento que, no trajeto, o índio esbarrou em um deles sem querer, o que os irritou. Eles decidiram deixá-lo nu.
"O ato demonstra que houve preconceito étnico. Fizeram isso porque ele era índio. Queriam despi-lo", disse o delegado Airton Alves de Almeida.
Quando retiravam as calças de Macedo à força, ele reagiu. Os três começaram, então, a dar socos e pontapés no índio, de acordo com a polícia.
Um dos jovens deu uma rasteira em Macedo, que caiu de cabeça no chão e permaneceu imóvel. Os três continuaram, diz a polícia, a agredir o índio.
Um vizinho ouviu o barulho e acendeu uma luz de sua casa. Assustados, os rapazes fugiram. Às 7h, o mesmo vizinho acordou e, ao sair para a rua, viu o índio no chão com as calças arriadas, morto. Ele chamou a Polícia Militar. Testemunhas ajudaram a polícia a identificar os suspeitos.
Edson Gonçalves Costa, 18, foi preso e indiciado sob suspeita de homicídio qualificado (motivo fútil). Ele não tem advogado. Os outros dois garotos, um de 15 (de São Paulo) e outro de 16, também estão na Cadeia Pública do município de Manga, vizinho de Miravânia. Eles podem ser internados provisoriamente por 45 dias.
Segundo o delegado, os três têm ensino fundamental incompleto. Os dois menores não estudam nem trabalham. Costa é funcionário de um supermercado. "Eles são de classe média tendo em vista a região, pobre. São de famílias conceituadas."
Há cerca de 8.000 xacriabás em Minas -a maioria em São João das Missões. O coordenador regional do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) Wilson Santana afirma que Macedo era uma das lideranças de uma área não demarcada, invadida em maio e reivindicada pelos xacriabás. "Não é um caso isolado. É fruto de um processo que levou a uma imagem deturpada do índio na região. O clima de tensão ainda existe e é a preocupação agora."

Pataxó Galdino
O assassinato ocorre dez anos após o mais emblemático caso de agressão a um índio no país. Em abril de 1997, quatro rapazes de classe média de Brasília (DF) atearam fogo ao índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, que morreu queimado. Em novembro de 2001, um júri popular condenou os quatro rapazes a 14 anos de prisão.


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