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Jovens são acusados de espancar índio até a morte em MG
Vítima, da etnia xacriabá, teve roupa retirada e levou socos e pontapés de três rapazes; dois deles têm menos de 18 anos
Segundo a polícia, suspeitos disseram em depoimento que, na saída de uma festa, o índio esbarrou em um dos garotos, o que os irritou
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
Um índio da etnia xacriabá
foi espancado até a morte na
madrugada de anteontem, em
Miravânia (714 km de Belo Horizonte), em Minas Gerais.
Três jovens -dois deles menores- são acusados do crime.
O maior de idade foi preso; os
menores, apreendidos. Eles
confessaram o crime, segundo
a polícia, mas disseram tê-lo
feito sem intenção.
O crime ocorreu por volta
das 3h30. Avelino Nunes Macedo, 37, voltava para sua aldeia
após participar de uma festa na
cidade, no distrito de Virgínio.
Uma escola municipal havia
montado uma quermesse para
arrecadar fundos para a formatura dos alunos da oitava série
do ensino fundamental. Os três
garotos -de 18, 16 e 15 anos-
haviam saído do local, depois
de causar um incêndio em uma
das barracas.
Segundo a polícia, eles disseram em depoimento que, no
trajeto, o índio esbarrou em um
deles sem querer, o que os irritou. Eles decidiram deixá-lo nu.
"O ato demonstra que houve
preconceito étnico. Fizeram isso porque ele era índio. Queriam despi-lo", disse o delegado
Airton Alves de Almeida.
Quando retiravam as calças
de Macedo à força, ele reagiu.
Os três começaram, então, a
dar socos e pontapés no índio,
de acordo com a polícia.
Um dos jovens deu uma rasteira em Macedo, que caiu de
cabeça no chão e permaneceu
imóvel. Os três continuaram,
diz a polícia, a agredir o índio.
Um vizinho ouviu o barulho e
acendeu uma luz de sua casa.
Assustados, os rapazes fugiram. Às 7h, o mesmo vizinho
acordou e, ao sair para a rua, viu
o índio no chão com as calças
arriadas, morto. Ele chamou a
Polícia Militar. Testemunhas
ajudaram a polícia a identificar
os suspeitos.
Edson Gonçalves Costa, 18,
foi preso e indiciado sob suspeita de homicídio qualificado
(motivo fútil). Ele não tem advogado. Os outros dois garotos,
um de 15 (de São Paulo) e outro
de 16, também estão na Cadeia
Pública do município de Manga, vizinho de Miravânia. Eles
podem ser internados provisoriamente por 45 dias.
Segundo o delegado, os três
têm ensino fundamental incompleto. Os dois menores não
estudam nem trabalham. Costa
é funcionário de um supermercado. "Eles são de classe média
tendo em vista a região, pobre.
São de famílias conceituadas."
Há cerca de 8.000 xacriabás
em Minas -a maioria em São
João das Missões. O coordenador regional do Cimi (Conselho
Indigenista Missionário) Wilson Santana afirma que Macedo era uma das lideranças de
uma área não demarcada, invadida em maio e reivindicada
pelos xacriabás. "Não é um caso
isolado. É fruto de um processo
que levou a uma imagem deturpada do índio na região. O clima
de tensão ainda existe e é a
preocupação agora."
Pataxó Galdino
O assassinato ocorre dez
anos após o mais emblemático
caso de agressão a um índio no
país. Em abril de 1997, quatro
rapazes de classe média de Brasília (DF) atearam fogo ao índio
pataxó Galdino Jesus dos Santos, que morreu queimado. Em
novembro de 2001, um júri popular condenou os quatro rapazes a 14 anos de prisão.
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