São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2008

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Aos 75, morre o cronista Lourenço Diaféria

Jornalista da Folha foi sepultado ontem no cemitério Gethsêmani (Morumbi); ele deixa mulher, 5 filhos e 3 netos

DA REPORTAGEM LOCAL

Morreu na noite de terça-feira e foi sepultado ontem, em São Paulo, o jornalista, cronista e escritor Lourenço Diaféria. Ele estava com 75 anos e era casado com Geiza Diaféria. Deixou cinco filhos e três netos.
Nascido em 1933, no bairro paulistano do Brás, Diaféria tinha 23 anos quando começou a trabalhar como redator da Folha, em 1956. Devido ao lirismo de seu texto, foi convidado a escrever crônicas, a partir de 1964, tendo como primeiro tema as "divagações sobre como comemorar o dia de são João num minúsculo apartamento" paulistano.
Seus textos foram publicados pelo jornal até setembro de 1977. Sua última e controvertida crônica comparava o heroísmo de um bombeiro que morreu em Brasília ao salvar no zoológico uma criança e o duque de Caxias, patrono do Exército brasileiro, que ele ironicamente criticava, como forma de atingir o regime militar.
A crônica virou pretexto para um dos maiores incidentes na conturbada história da mídia durante o pós-1964.
A coluna saiu em branco na edição de 16 de setembro de 1977, em sinal de protesto pela prisão do cronista. No dia seguinte, o chefe da Casa Militar da Presidência, general Hugo Abreu, ameaçou fechar o jornal caso o espaço da crônica saísse novamente em branco. Diaféria ficou cinco dias detido.
O que estava na época em jogo era a tentativa de recuo no processo de redemocratização, por meio da candidatura presidencial do general Sílvio Frota.

Produção
Diaféria publicou na Folha 1.869 crônicas ou reportagens assinadas. Um de seus antológicos textos descrevia a reação da imprensa em japonês, em São Paulo, após o seqüestro em 1970, por grupos terroristas, do cônsul do Japão, Nobuo Ozuchi. Diaféria então notou que os japoneses escreviam "ao contrário" (no sentido oposto ao dos ocidentais), a exemplo do regime brasileiro.
Diaféria foi a seguir cronista do "Jornal da Tarde", do "Diário Popular", do "Diário do Grande ABC" e também trabalhou na TV Globo e nas rádios Excelsior, Gazeta, Record e Bandeirantes. Aluno de um colégio interno de padres camilianos, cursou a Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero,
Além de "Coração Corinthiano" (1992), livro com a história do clube de futebol pelo qual foi sempre um assumido apaixonado, estão entre suas obras "Um Gato na Terra do Tamborim" (1976), "Circo dos Cavalões" (1978), "A Morte Sem Colete"(1983), " Empinador de Estrela"(1984), "A Longa Busca da Comodidade" (1988), "O Invisível Cavalo Voador - Falas Contemporâneas" (1990), "Papéis Íntimos de Um Ex-boy Assumido" (1994), "O Imitador de Gato" (2000) e "Brás - Sotaques e Desmemórias" (2002).
Acometido de câncer e com sua capacidade de trabalho reduzida, Lourenço Diaféria morreu de infarto às 22h de anteontem. Seu corpo foi velado no cemitério Gethsêmani, no Morumbi, onde foi sepultado ontem, às 16h.


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