São Paulo, quinta, 18 de setembro de 1997.



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PERIGO NO AR
Tiro em avião da Varig só atingiu poltrona
Piloto diz que vôo 280 poderia ter explodido

ROGERIO SCHLEGEL
da Reportagem Local

O tiro acidental disparado no vôo 280 da Varig, na sexta-feira passada, poderia ter provocado uma explosão, matado o passageiro da poltrona da frente ou aberto um rombo por onde passageiros seriam sugados, segundo relatório interno do comandante Josias Aparecido dos Santos, que pilotava o Boeing 737, obtido pela Folha.
O vôo 280 partiu de Brasília com destino a Belo Horizonte e Salvador. Quando se aproximava do aeroporto de Confins, na capital mineira, a 18 mil pés de altitude, a equipe de bordo ouviu um estrondo e sentiu cheiro de pólvora.
Constatou-se depois que o coronel da reserva do Exército Wilson Pinto de Oliveira, 62, havia embarcado com uma pistola semi-automática Beretta e havia deixado a arma disparar acidentalmente.
A bala se alojou na estrutura da poltrona à frente de onde estava sentado o coronel, a 11K. Segundo o comandante Josias, a tripulação não foi informada que o militar portava arma a bordo.
Em seu relatório, dirigido ao chefe do equipamento da Varig, o comandante afirma que se o tiro fosse para o lado ou para cima, "o pequeno orifício que causaria de imediato em poucos minutos poderia alcançar proporções inimagináveis, podendo sugar para fora bancos e até mesmo passageiros".
O texto também sustenta que, caso o tiro tivesse sido dirigido para baixo, poderia ter atingido o tanque de combustível, "causando fogo ou até mesmo uma explosão". Acrescenta ainda que o passageiro da poltrona 11K "foi salvo" pela estrutura de alumínio do banco, onde se alojou a bala.
No relatório, o comandante Josias diz que o episódio mostra a necessidade de proibir definitivamente armas em aviões.
Na realidade, o artigo 19 do decreto 2.222, editado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso no início de maio, já proíbe o porte de armas a bordo. Ele veta armas para todo passageiro, só que prevê exceções que não diz quais são. Resultado: não teve ainda nenhum efeito prático nos vôos brasileiros.
Segundo o Sindicato Nacional dos Aeronautas, uma comissão conjunta da Aeronáutica e do Ministério da Justiça ficou encarregada de estudar o assunto desde a edição do decreto.
Por disposição anterior da Aeronáutica, policiais federais e oficiais das Forças Armadas em serviço podiam portar arma a bordo.



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