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São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2003

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SAÚDE

Principal suspeita é de contaminação por produto hospitalar; unidade de Itaquaquecetuba é referência em gestações de alto risco

UTI é fechada após morte de nove bebês

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nove bebês recém-nascidos morreram desde a quinta-feira da semana passada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal do Hospital Geral de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo.
A principal suspeita é de uma infecção provocada pela contaminação por um agente externo -medicamentos, soros fisiológico e glicosado ou água destilada. Essa última, usada para diluir os medicamentos em ampolas, chegou a ser apontada como a principal probabilidade -por ter sido a única cujo procedimento foi comum a todas as crianças.
A UTI neonatal foi fechada anteontem por ordem da Secretaria da Saúde -e permanecerá interditada ao menos até a próxima sexta-feira. Ela recebe, em média, 40 internações por mês -das quais apenas três costumam resultar em morte. Os bebês que vão para lá geralmente são prematuros e estão num estado de saúde que requer cuidados. Novas entradas foram vetadas. As gestantes de alto risco estão sendo transferidas para outros hospitais.
O secretário de Estado da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, disse que as análises do Instituto Adolfo Lutz identificaram bactérias em três crianças. Uma delas é a Pseudomona aeruginosa, que, segundo ele, se desenvolve com frequência em meios líquidos.
Ainda não se sabe quais são as duas outras -os resultados devem sair em dois dias. "Precisamos confirmar em mais uma criança para termos certeza de que foi a Pseudomona. Ela é uma bactéria comum em surtos de infecção em berçários", afirmou.
O Hospital Geral de Itaquaquecetuba é gerenciado pela irmandade Santa Marcelina. Ele existe há quatro anos, tem 244 leitos e é tido como referência em gestações de alto risco. Realiza, em média, 350 partos, 6.000 atendimentos em pronto-socorro e 4.000 ambulatoriais todos os meses.

Contaminação
As primeiras três mortes aconteceram no dia 9. A equipe hospitalar avaliou que elas provavelmente se deviam à gravidade dos casos. No dia 14, mais três morreram -levando os médicos a isolar outras três que permaneciam na UTI neonatal e que acabaram morrendo nos dois dias seguintes.
O secretário Barata afirmou que os produtos e materiais utilizados foram separados para análise, mas não divulgou a dimensão dos lotes nem os nomes dos seus fornecedores -sob a alegação de que não se tem certeza de que a contaminação surgiu dos medicamentos, soros fisiológico e glicosado ou água destilada.
A hipótese de ter havido uma infecção originada dentro do hospital -por exemplo, que a bactéria tenha sido transmitida pelas mãos de um funcionário- não é descartada, embora sua possibilidade seja considerada menor.
Questionado se os lotes dos produtos foram utilizados apenas na UTI neonatal e somente no hospital de Itaquaquecetuba, Barata respondeu: "Acredito que sim".
Segundo ele, as 11 crianças que continuam internadas no berçário passam bem e não há nenhuma previsão ou suspeita de que possa haver mais mortes.
O secretário evitou tentar culpar alguém pelas mortes. "É precoce dizer de quem é a responsabilidade." Afirmou ainda que, na opinião dele, a administração estadual não deveria ser responsável por indenizar as famílias atingidas. "Acredito que não seja o caso. Foi um acidente. É como se eu estivesse atravessando a rua e caísse um raio na minha cabeça."


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