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SAÚDE
Principal suspeita é de contaminação por produto hospitalar; unidade de Itaquaquecetuba é referência em gestações de alto risco
UTI é fechada após morte de nove bebês
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Nove bebês recém-nascidos
morreram desde a quinta-feira da
semana passada na UTI (Unidade
de Terapia Intensiva) neonatal do
Hospital Geral de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo.
A principal suspeita é de uma
infecção provocada pela contaminação por um agente externo
-medicamentos, soros fisiológico e glicosado ou água destilada.
Essa última, usada para diluir os
medicamentos em ampolas, chegou a ser apontada como a principal probabilidade -por ter sido a
única cujo procedimento foi comum a todas as crianças.
A UTI neonatal foi fechada anteontem por ordem da Secretaria
da Saúde -e permanecerá interditada ao menos até a próxima
sexta-feira. Ela recebe, em média,
40 internações por mês -das
quais apenas três costumam resultar em morte. Os bebês que vão
para lá geralmente são prematuros e estão num estado de saúde
que requer cuidados. Novas entradas foram vetadas. As gestantes de alto risco estão sendo transferidas para outros hospitais.
O secretário de Estado da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata,
disse que as análises do Instituto
Adolfo Lutz identificaram bactérias em três crianças. Uma delas é
a Pseudomona aeruginosa, que,
segundo ele, se desenvolve com
frequência em meios líquidos.
Ainda não se sabe quais são as
duas outras -os resultados devem sair em dois dias. "Precisamos confirmar em mais uma
criança para termos certeza de
que foi a Pseudomona. Ela é uma
bactéria comum em surtos de infecção em berçários", afirmou.
O Hospital Geral de Itaquaquecetuba é gerenciado pela irmandade Santa Marcelina. Ele existe
há quatro anos, tem 244 leitos e é
tido como referência em gestações de alto risco. Realiza, em média, 350 partos, 6.000 atendimentos em pronto-socorro e 4.000
ambulatoriais todos os meses.
Contaminação
As primeiras três mortes aconteceram no dia 9. A equipe hospitalar avaliou que elas provavelmente se deviam à gravidade dos
casos. No dia 14, mais três morreram -levando os médicos a isolar outras três que permaneciam
na UTI neonatal e que acabaram
morrendo nos dois dias seguintes.
O secretário Barata afirmou que
os produtos e materiais utilizados
foram separados para análise,
mas não divulgou a dimensão dos
lotes nem os nomes dos seus fornecedores -sob a alegação de
que não se tem certeza de que a
contaminação surgiu dos medicamentos, soros fisiológico e glicosado ou água destilada.
A hipótese de ter havido uma
infecção originada dentro do hospital -por exemplo, que a bactéria tenha sido transmitida pelas
mãos de um funcionário- não é
descartada, embora sua possibilidade seja considerada menor.
Questionado se os lotes dos produtos foram utilizados apenas na
UTI neonatal e somente no hospital de Itaquaquecetuba, Barata
respondeu: "Acredito que sim".
Segundo ele, as 11 crianças que
continuam internadas no berçário passam bem e não há nenhuma previsão ou suspeita de que
possa haver mais mortes.
O secretário evitou tentar culpar
alguém pelas mortes. "É precoce
dizer de quem é a responsabilidade." Afirmou ainda que, na opinião dele, a administração estadual não deveria ser responsável
por indenizar as famílias atingidas. "Acredito que não seja o caso.
Foi um acidente. É como se eu estivesse atravessando a rua e caísse
um raio na minha cabeça."
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