São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2004

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Grupo Ruas Vaz ganhou espaço na gestão Marta

DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo do empresário de ônibus José Ruas Vaz, de origem portuguesa, atua no transporte coletivo da cidade de São Paulo há mais de quatro décadas, porém ganhou espaço ainda maior no segmento nos últimos três anos de governo Marta Suplicy (PT).
Até a gestão Celso Pitta (1997-2000), as empresas de ônibus do grupo Ruas Vaz detinham aproximadamente um terço da frota da cidade de São Paulo. Depois da licitação concluída pela gestão petista em julho de 2003 para selecionar operadores por dez anos, ele expandiu suas atividades: ao lado de sócios, em consórcios, domina hoje os serviços das zonas leste e sul, com uma frota que transporta 55% de todos os passageiros dos ônibus municipais.
O domínio do grupo Ruas Vaz também é evidenciado com a entrada de ônibus novos no sistema de transporte -bandeira de campanha de Marta, que diz ter renovado mais de metade da frota. Há três anos, ele também controla a fábrica de carrocerias Caio/Induscar, que se tornou a principal fornecedora dos veículos zero-quilômetro da capital paulista.
Em maio deste ano, uma das viações de Ruas Vaz apresentou à prefeita novos ônibus biarticulados, com 27 metros de comprimento, "os maiores do planeta", segundo a Secretaria Municipal dos Transportes. Os veículos foram batizados de "Martão".
A atuação do grupo também foi reforçada no controle do sindicato que representa as viações. No segundo semestre de 2003, a entidade, batizada de Transurb e presidida pelo empresário José Sérgio Pavani, mudou seu nome para SP Urbanuss e passou a ter como presidente Paulo Ruas, filho do líder da família, José Ruas Vaz.

"Máfia"
As viações do grupo Ruas Vaz estavam entre as que eram acusadas por fazer greves como estratégia de pressão por subsídios municipais ou elevação das tarifas de ônibus, num esquema que envolvia sindicalistas e que foi batizado de "máfia do transporte".
Há mais de um ano, entretanto, os ônibus de São Paulo não tiveram nenhuma paralisação geral, situação que levou a prefeita Marta Suplicy a afirmar, repetidas vezes, que enfrentou a "máfia do transporte" e acabou com ela.
No segundo semestre de 2002, as viações de ônibus São Luiz e Bola Branca doaram R$ 10 mil para a campanha do deputado estadual e ex-vereador de São Paulo Vicente Cândido (PT). As duas pertencem ao grupo Ruas Vaz.
Na época, Cândido informou à Folha, por sua assessoria, que não via problemas nas doações, já que "tudo foi feito dentro da legalidade e da transparência".

Paraíso fiscal
Um relatório do INSS do final de 2002 apontava 22 empresas nas quais Ruas Vaz e seus sócios atuavam, incluindo a Tabu. Seu principal companheiro de negócios chama-se Carlos de Abreu, que tem participação em mais da metade dessa lista de viações.
As dívidas que somente nove das empresas ligadas ao grupo Ruas Vaz acumulam no INSS já ultrapassam R$ 500 milhões, conforme levantamento do órgão.
Ele também já transferiu nos últimos anos uma de suas principais viações, a Penha São Miguel, para Montevidéu, no Uruguai, um paraíso fiscal que permite garantir sob sigilo os reais donos da empresa e que dificulta a cobrança de pendências judiciais.
Nem todas as empresas de Ruas Vaz operam ao mesmo tempo. O INSS, num processo judicial que tenta cobrar débitos da Tabu, afirma que ele é "um grupo familiar cujas empresas passam por sucessivas transformações e alterações societárias, com cisões e fusões".
O órgão acrescenta ainda que "é comum a prática de esvaziamento de empresa quando as dívidas estão em patamar elevado". Outra estratégia, diz, é se desvincular oficialmente da empresa para, em seguida, acumular os débitos.


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