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Grupo Ruas Vaz ganhou espaço na gestão Marta
DA REPORTAGEM LOCAL
O grupo do empresário de ônibus José Ruas Vaz, de origem portuguesa, atua no transporte coletivo da cidade de São Paulo há mais
de quatro décadas, porém ganhou espaço ainda maior no segmento nos últimos três anos de
governo Marta Suplicy (PT).
Até a gestão Celso Pitta (1997-2000), as empresas de ônibus do
grupo Ruas Vaz detinham aproximadamente um terço da frota da
cidade de São Paulo. Depois da licitação concluída pela gestão petista em julho de 2003 para selecionar operadores por dez anos,
ele expandiu suas atividades: ao
lado de sócios, em consórcios, domina hoje os serviços das zonas
leste e sul, com uma frota que
transporta 55% de todos os passageiros dos ônibus municipais.
O domínio do grupo Ruas Vaz
também é evidenciado com a entrada de ônibus novos no sistema
de transporte -bandeira de campanha de Marta, que diz ter renovado mais de metade da frota. Há
três anos, ele também controla a
fábrica de carrocerias Caio/Induscar, que se tornou a principal
fornecedora dos veículos zero-quilômetro da capital paulista.
Em maio deste ano, uma das
viações de Ruas Vaz apresentou à
prefeita novos ônibus biarticulados, com 27 metros de comprimento, "os maiores do planeta",
segundo a Secretaria Municipal
dos Transportes. Os veículos foram batizados de "Martão".
A atuação do grupo também foi
reforçada no controle do sindicato que representa as viações. No
segundo semestre de 2003, a entidade, batizada de Transurb e presidida pelo empresário José Sérgio Pavani, mudou seu nome para
SP Urbanuss e passou a ter como
presidente Paulo Ruas, filho do líder da família, José Ruas Vaz.
"Máfia"
As viações do grupo Ruas Vaz
estavam entre as que eram acusadas por fazer greves como estratégia de pressão por subsídios municipais ou elevação das tarifas de
ônibus, num esquema que envolvia sindicalistas e que foi batizado
de "máfia do transporte".
Há mais de um ano, entretanto,
os ônibus de São Paulo não tiveram nenhuma paralisação geral,
situação que levou a prefeita Marta Suplicy a afirmar, repetidas vezes, que enfrentou a "máfia do
transporte" e acabou com ela.
No segundo semestre de 2002,
as viações de ônibus São Luiz e
Bola Branca doaram R$ 10 mil para a campanha do deputado estadual e ex-vereador de São Paulo
Vicente Cândido (PT). As duas
pertencem ao grupo Ruas Vaz.
Na época, Cândido informou à
Folha, por sua assessoria, que não
via problemas nas doações, já que
"tudo foi feito dentro da legalidade e da transparência".
Paraíso fiscal
Um relatório do INSS do final
de 2002 apontava 22 empresas
nas quais Ruas Vaz e seus sócios
atuavam, incluindo a Tabu. Seu
principal companheiro de negócios chama-se Carlos de Abreu,
que tem participação em mais da
metade dessa lista de viações.
As dívidas que somente nove
das empresas ligadas ao grupo
Ruas Vaz acumulam no INSS já
ultrapassam R$ 500 milhões, conforme levantamento do órgão.
Ele também já transferiu nos últimos anos uma de suas principais viações, a Penha São Miguel,
para Montevidéu, no Uruguai,
um paraíso fiscal que permite garantir sob sigilo os reais donos da
empresa e que dificulta a cobrança de pendências judiciais.
Nem todas as empresas de Ruas
Vaz operam ao mesmo tempo. O
INSS, num processo judicial que
tenta cobrar débitos da Tabu, afirma que ele é "um grupo familiar
cujas empresas passam por sucessivas transformações e alterações
societárias, com cisões e fusões".
O órgão acrescenta ainda que "é
comum a prática de esvaziamento de empresa quando as dívidas
estão em patamar elevado". Outra
estratégia, diz, é se desvincular
oficialmente da empresa para, em
seguida, acumular os débitos.
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